Huawei tem sofrido sanções de WashingtonAFP
Por AFP
Publicado 31/05/2019 17:03 | Atualizado 31/05/2019 17:03
Pequim - A China anunciou, nesta sexta-feira, a criação de uma lista negra de empresas estrangeiras "não confiáveis", como resposta às medidas dos Estados Unidos contra a gigante chinesa Huawei, em plena escalada da guerra comercial entre as duas potências.

A medida foi revelada um dia antes de Pequim começar a aplicar, a partir de 1º de junho, um aumento de tarifas a produtos americanos no valor de 60 bilhões de dólares.


O anúncio acontece depois de Washington incluir a gigante chinesa das telecomunicações Huawei em uma lista de empresas suspeitas, para as quais os grupos americanos não podem vender material tecnológico.

A Huawei, que depende dos chips eletrônicos de fabricação americana para equipar seus smartphones, foi gravemente afetada e sua própria existência está em jogo, de acordo com analistas.

A medida anunciada nesta sexta-feira por Pequim parece uma resposta à ofensiva da administração Trump contra a Huawei.

"As empresas, organizações e particulares estrangeiros que não respeitam as normas de mercado, que se afastam do espírito de um contrato, que impõem embargos, ou param de fornecer peças para empresas chinesas por motivos não comerciais e afetam gravemente seus interesses e direitos legítimos serão colocadas em uma lista de entidades não confiáveis", afirmou o porta-voz do Ministério chinês do Comércio, Gao Feng.

A decisão da China de criar a própria "lista negra" parece destinada a pressionar empresas estrangeiras a prosseguirem com as relações comerciais com a Huawei.

O grupo americano Google, cujo sistema operacional Android é vital para os smartphones da Huawei, está entre as empresas que anunciaram a intenção de cumprir a decisão do governo americano.

"Algumas entidades estrangeiras violaram normas de mercado e o espírito dos contratos, cancelando fornecimentos e adotando outras medidas discriminatórias contra empresas chinesas, prejudicando seus interesses e direitos legítimos, e colocando em perigo a segurança nacional e os interesses nacionais" afirmou Gao, de acordo com o jornal estatal Global Times.

O governo dos Estados Unidos alega que a Huawei tem vínculos estreitos com o Partido Comunista Chinês e que é, de fato, um cavalo de Troia que serve aos interesses do serviço de Inteligência de Pequim.

A Huawei - segunda maior fabricante mundial de smartphones e líder no desenvolvimento das redes 5G de próxima geração - nega de modo veemente as acusações.

Trump 'mente'
O anúncio da China acontece em um contexto de escalada verbal, com as autoridades de Pequim, acusando o governo dos Estados Unidos de mentir, ou de praticar "terrorismo econômico".

A guerra comercial entre Pequim e Washington se intensificou no início de maio. Os dois países anunciaram tarifas de importação punitivas que bilhões de dólares.

Após as medidas contra a Huawei, a imprensa chinesa insinuou que Pequim poderia reduzir as exportações de terras raras aos Estados Unidos, o que privaria as empresas americanas de um recurso fundamental para a fabricação de smartphones, aparelhos de TV e equipamentos militares, entre outros.

Nesta sexta-feira, a China denunciou as "mentiras" dos Estados Unidos, depois que o presidente Donald Trump afirmou que a guerra comercial entre os dois países teria um efeito "devastador" para a economia chinesa.

"Os Estados Unidos já afirmaram estas mentiras uma, ou duas vezes. A cada vez a China as denuncia, mas os Estados Unidos persistem nelas, de forma obsessiva, e seguem repetindo s mentiras", afirmou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

"Parece que quanto mais repetem, mais eles acreditam que as pessoas vão acreditar", completou.

Trump voltou a afirmar na quinta-feira que a "China esperava fechar um acordo" com os Estados Unidos, porque, segundo ele, a guerra comercial terá "um efeito devastador" para o gigante asiático.

O presidente americano alegou que a economia chinesa vai desacelerar, que "as empresas saem da China para evitar as tarifas" e que devem seguir para o Vietnã, ou para outros países da Ásia.

Durante a semana, funcionários chineses acusaram Washington de "terrorismo econômico, chauvinismo econômico e assédio econômico".