O Irã confirmou que começaria a enriquecer urânio em um nível proibido pelo acordo de 2015 sobre seu programa nuclear - AFP
O Irã confirmou que começaria a enriquecer urânio em um nível proibido pelo acordo de 2015 sobre seu programa nuclearAFP
Por AFP
Irã - O Irã confirmou neste domingo que começaria nas próximas horas a enriquecer urânio em um nível proibido pelo acordo de 2015 sobre seu programa nuclear, e ameaçou se liberar de outras obrigações "em 60 dias".

"Dentro de algumas horas", o Irã irá retomar o enriquecimento de urânio 235 em um nível de pureza superior a 3,67%, declarou o porta-voz da organização iraniana de energia atômica, Behruz Kamalvandi, sem revelar o novo nível.

Um assessor do guia supremo iraniano assinalou ontem que as necessidades do país para suas "atividades pacíficas" correspondem ao urânio enriquecido em 5%, um nível distante dos 90% necessários para a fabricação da bomba atômica.

Apesar das críticas, Teerã afirma que sua decisão de se liberar paulatinamente de alguns compromissos busca apenas salvar o acordo nuclear iraniano assinado em Viena em julho de 2015. É parte da resposta iraniana à decisão dos Estados Unidos de abandonar unilateralmente o pacto em maio de 2018 e restabelecer sanções contra o Irã.

Em resposta, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiu neste domingo o Irã para que "tenha cuidado", depois que Teerã anunciou que começará a enriquecer urânio a um nível proibido pelo acordo de 2015 sobre seu programa nuclear.

"É melhor que o Irã tenha cuidado, porque enriquece (urânio) por alguma razão, e não direi qual é essa razão. Mas não é boa. Melhor que tenham cuidado", disse Trump a jornalistas em Morristown, Nova Jersey.

Mais cedo, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, ameaçou o Irã neste domingo com "mais isolamento e sanções" depois de que Teerã confirmou que começará a enriquecer urânio em níveis não permitidos, apesar das críticas da comunidade internacional.

"A última ampliação de Irã de seu programa nuclear levará a um maior isolamento e sanções. As nações devem voltar à antiga política que proibia o enriquecimento ao programa nuclear do Irã. O regime iraniano, equipado com armas nucleares, representaria uma ameaça ainda maior para o mundo", tuitou o secretário de Estado dos Estados Unidos.

Em dois comunicados separados, Londres e Berlim pediram a Teerã em termos similares para que o Irã recue em sua decisão. Os dois países afirmaram que estão em contato "com as outras partes" envolvidas para decidir uma resposta à decisão iraniana.

Sobrevivência do acordo
O vice-chanceler iraniano, Abbas Araghchi, ameaçou ontem se liberar de outras obrigações em matéria nuclear, sem revelar quais, "em 60 dias", a menos que se encontre "uma solução" com seus sócios para responder aos seus pedidos, que se trataram, principalmente, da possibilidade de o Irã seguir vendendo seu petróleo e comercializar com outros países, referindo-se às sanções americanas.

Já o chanceler do Irã, Mohammad Javad Zarif, assinalou que a sobrevivência do acordo de Viena depende dos europeus. Segundo ele, "cada uma destas medidas só poderá ser anulada se Berlim, Londres e Paris reagirem conforme o texto".

O retorno das sanções americanas afastou as empresas estrangeiras que haviam começado a retornar ao Irã e derrubou a economia do país. Em maio passado, Teerã anunciou que renunciaria a dois dos compromissos assumidos em Viena: o respeito ao limite de seus estoques de água pesada (1,3 tonelada) e o imposto às suas reservas de urânio levemente enriquecido (330 kg).

'Grande preocupação'
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O Irã completou o anúncio com um prazo de 60 dias a seus sócios para que o ajudem a burlar o bloqueio americano. Do contrário, o Irã enriqueceria mais de 3,67% e retomaria o projeto de construção de um reator de água pesada em Arak.

Sobre este segundo ponto, Abbas Araghchi indicou hoje que o Irã não iria executar sua ameaça e privilegiava, no momento, o projeto de conversão do sítio acordado em Viena, citando "avanços" nos últimos dois meses.

Ao desrespeitar seus compromissos, o Irã corre o risco de a questão de seu programa nuclear ser levada ao Conselho de Segurança da ONU, que poderia restabelecer sanções levantadas. Os países europeus, China e Rússia tentam solucionar o impasse sem recorrer ao Conselho, uma vez que Teerã assinalou que isto implicaria a morte do acordo.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou neste domingo que o anúncio do Irã de que irá superar os níveis de enriquecimento de urânio permitidos no acordo nuclear de 2015 é um "passo muito perigoso".

"Faço um apelo a meus amigos, líderes de França, Reino Unido, Alemanha", que assinaram este acordo para que imponham "duras sanções" à República Islâmica.

A pedido dos Estados Unidos, a Agência Internacional de Energia Atômica terá uma reunião extraordinária no próximo dia 10 para analisar os anúncios feitos pelo Irã.