Pássaros provocam incêndios para capturar presas - Reprodução
Pássaros provocam incêndios para capturar presasReprodução
Por REVISTA PLANETA

Rio - Esperar que presas fujam de incêndios florestais para capturá-las é um comportamento já visto em pássaros, mas alguns deles avançaram nessa estratégia. Segundo ornitólogos internacionais, três espécies de aves de rapina australianas usam gravetos ardentes para espalhar o fogo e, assim, facilitar sua caça. O estudo foi publicado no periódico “Journal of Ethnobiology” e abordado na revista “Cosmos”.

Os pesquisadores coletaram testemunhos desse procedimento no norte da Austrália em milhafres-pretos (Milvus migrans), milhafres-assobiadores (Haliastur sphenurus) e falcões-berigora (Falco berigora).

“Ao redor de uma frente ativa de fogo, pássaros – geralmente milhafres-pretos, mas às vezes falcões-berigora – pegarão um tição ou um graveto não muito maior que o seu dedo e o levarão para uma área de relva não queimada para começar um novo incêndio”, diz Bob Gosford, ornitólogo do Conselho Central de Terras em Alice Springs, no Território do Norte, que liderou a documentação de relatos de testemunhas.

“Observadores relatam tentativas individuais e cooperativas, muitas vezes bem-sucedidas, de espalhar intempestivamente incêndios florestais por meio de uma única ocasião ou de repetidos transportes de gravetos em garras ou bicos. Esse comportamento, muitas vezes representado em cerimônias sagradas, é amplamente conhecido por nativos no Território do Norte”, escrevem os autores do estudo.

Os aborígines australianos já haviam percebido esse comportamento há muito tempo. Segundo Gosford, duas cerimônias dos nativos da Terra de Arnheim, no Território do Norte, intituladas Lorrkon e Yabuduruwa, possuem cenas em que pássaros espalham fogo em diferentes locais.

Presença em rituais

“A maioria dos grupos aborígines com quem conversamos no Território do Norte, particularmente no chamado Top End, está inteiramente confortável com a ideia de que isso acontece. (…) Para muita gente, é aceito como fato”, diz Gosford.

Já os cientistas europeus se mostravam relutantes em aceitar as observações dos aborígenes. É provavelmente por isso que tal comportamento, aparentemente generalizado, não havia sido documentado até agora.

Com esse objetivo em mente, Gosford e seus coautores, incluindo o geógrafo Mark Bonta, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), passaram seis anos coletando mais de 20 relatos de testemunhas de proprietários tradicionais, administradores de terras e guardas-florestais aborígines no Top End. “Temos registros da costa leste, nos trópicos de Queensland, da Austrália Ocidental. Parece haver um aglomerado em particular através das savanas do centro-norte da Austrália”, diz Gosford.

Alex Kacelnik, especialista em uso de ferramentas por animais na Universidade de Oxford, no Reino Unido, classifica o fenômeno como “fascinante”. Segundo ele, “muitas espécies podem ter aprendido a reagir ao fogo natural escapando dele ou explorando-o para caçar presas, mas esses falcões estão mostrando uma forma de controle de fogo”. É o primeiro caso do gênero envolvendo animais não humanos de que Kacelnik tomou conhecimento.

Gosford salienta que os humanos e os raios já não podem ser considerados os únicos vetores de fogo na Austrália. Agora existem “motivos para reexaminar nossa compreensão da história do fogo e como o fogo funciona na paisagem”, observa.

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