Machu Picchu foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1983 - Reprodução/ Wikimedia Commons/ Charles Sharp
Machu Picchu foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1983Reprodução/ Wikimedia Commons/ Charles Sharp
Por REVISTA PLANETA

Considerado uma das maiores obras arquitetônicas, o antigo santuário inca de Machu Picchu é construído em um local remoto, no topo de uma cordilheira estreita acima de um desfiladeiro.

A localização do santuário há muito tempo intriga os pesquisadores. Por que os incas construíram sua obra-prima em um lugar tão inacessível? Uma pesquisas conduzida por um brasileiro sugere uma resposta para essa pergunta.

Segundo um estudo de Rualdo Menegat, geólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os incas construíram Machu Picchu e algumas de suas cidades intencionalmente em locais onde falhas tectônicas se encontram. “A localização de Machu Picchu não é uma coincidência”, diz Menegat. “Seria impossível construir um local assim nas montanhas altas se o substrato não fosse fraturado”, afirma o pesquisador.

Menegat usou uma combinação de imagens de satélite e medições de campo para mapear uma rede de fraturas e falhas cruzadas que estão localizadas debaixo de Machu Picchu. Essas características variam de pequenas fraturas visíveis em pedras individuais a grandes linhas de 175 quilômetros de comprimento que controlam a orientação de alguns dos vales fluviais da região.

Cruzamento de falhas

Essas falhas e fraturas ocorrem em vários conjuntos, alguns dos quais correspondem às principais zonas de falhas responsáveis ​​pela elevação da Cordilheira dos Andes Centrais nos últimos oito milhões de anos. Algumas dessas falhas são orientadas para nordeste-sudoeste e outras tendem para noroeste-sudeste, formando um “X” onde se cruzam, sob Machu Picchu.

O mapeamento de Menegat sugere que os setores urbanos do santuário e os campos agrícolas circundantes, bem como edifícios e escadas individuais, são todos orientados de acordo com as tendências dessas grandes falhas. Outras cidades antigas dos incas, incluindo Ollantaytambo, Pisac e Cusco, também estão localizadas no cruzamento de falhas, diz Menegat. “Cada uma das cidades expressa precisamente as principais direções das falhas geológicas do local”, afirma o pesquisador.

Os resultados de Menegat indicam que a rede subjacente de falha e fratura é tão essencial para a construção de Machu Picchu quanto o lendário trabalho em pedra feito no santuário, com uma alvenaria sem argamassa perfeitamente encaixada, sem nenhuma fresta à mostra.

Para realizar suas construções, os incas se aproveitavam dos abundantes materiais de construção na zona de falha. Segundo Menegat, a intensa fratura do local predispôs as rochas a romperem nos mesmos planos, o que reduziu bastante a energia necessária para esculpi-las.

Fonte de água

Além de ajudar a moldar as pedras, a rede de falhas em Machu Picchu provavelmente ofereceu aos incas outras vantagens, como uma fonte pronta de água. “As falhas tectônicas da área canalizaram a água de derretimento da neve e a água da chuva”, diz ele.

A construção do santuário em um local tão alto também teve o benefício de isolá-lo de avalanches e deslizamentos de terra, riscos muito comuns nesse ambiente alpino.

As falhas e fraturas subjacentes a Machu Picchu também ajudaram a drenar o local durante as intensas tempestades na região. “Cerca de dois terços do esforço para construir o santuário envolveu a construção de drenagens subterrâneas”, diz Menegat. “As fraturas pré-existentes ajudaram esse processo e ajudaram a explicar sua preservação notável”, diz.

Você pode gostar
Comentários