O programa de exploração lunar da China divulgou imagens do misterioso material encontrado na face oculta da Lua, noticiou o site Space.com. A descoberta – feita pelo veículo lunar Yutu-2, da missão Chang’e-4, e divulgada em 17 de agosto – mobilizou a comunidade científica. Boa parte do alvoroço surgiu porque a publicação chinesa “Our Space”, que anunciou as descobertas, usou o termo jiao zhuang wu, que pode ser traduzido como “semelhante a gel”.
Uma postagem feita no fim de semana pela publicação na mídia social WeChat contém novas imagens do material e detalhes de como a equipe do Yutu-2 abordou cuidadosamente a cratera para analisá-lo.
A imagem mais nítida mostra duas das seis rodas do veículo e o conteúdo de uma cratera de aproximadamente 2 metros de largura. Ela aparentemente corresponde ao campo de visão do Espectrômetro Visível e Próximo a Infravermelho (VNIS, na sigla em inglês), de acordo com alguns cientistas lunares.
O VNIS é uma das quatro cargas científicas úteis do Yutu-2. Ele detecta a luz dispersa ou refletida nos materiais para revelar sua composição química. Como o VNIS tem um pequeno campo de visão, a equipe de acionamento precisava conduzir cuidadosamente o Yutu-2 para examinar o material sem cair na cratera.
Pistas
A equipe do Yutu-2 considerou insatisfatório o primeiro conjunto de dados coletado na cratera em julho devido às sombras. Assim, tentou-se uma segunda abordagem e medição durante o dia lunar seguinte, em agosto. Segundo a publicação chinesa, a experiência teve sucesso, mas os resultados não foram divulgados.
Ouvido pelo Space.com, Clive Neal, cientista lunar da Universidade de Notre Dame (EUA), avaliou que a imagem, mesmo precária, dá pistas sobre a natureza do material. Segundo Neal, trata-se de algo semelhante a uma amostra de vidro de impacto encontrada durante a missão Apollo 17 em 1972. A amostra 70019 foi coletada pelo astronauta Harrison Schmitt, um geólogo treinado, de uma cratera nova de 3 metros de diâmetro, semelhante àquela abordada pelo Yutu-2.
Neal define a 70019 como sendo feito de microbrecha (tipo de rocha clástica) escura, que agrega fragmentos quebrados de minerais cimentados, e vidro preto brilhante. “Acho que temos um exemplo aqui do que o Yutu-2 viu”, disse ele.
Impactos de alta velocidade na superfície lunar derretem e redistribuem as rochas através das novas crateras e podem criar rochas vítreas e ígneas e estruturas cristalinas. Neal tem ressalvas aos termos “incomum” e “misterioso” usados pelos articulistas chineses para se referir ao material. “É esperado ter crateras parecidas com a do Yutu-2 e a de onde a 70019 foi coletadas”, observou.
Também ouvido pelo Space.com, Dan Moriarty, bolsista do Programa de Pós-Doutorado da Nasa no Goddard Space Flight Center, concorda que é difícil fazer uma avaliação definitiva da composição química da substância em função da baixa qualidade da imagem. Segundo ele, o material descrito parece um pouco mais brilhante que o material circundante, embora o brilho real seja difícil de confirmar nas fotografias. Nesse caso, o contraste pode ser devido às diferentes origens dos respectivos materiais.
“Será muito interessante ver o que o espectrômetro vê e se houver imagens de alta resolução disponíveis”, observa Moriarty.
O Yutu-2 está rumando para oeste do local de pouso da Chang’e-4 na cratera Von Kármán desde o histórico pouso lunar de 2 de janeiro. Até agora, ele percorreu 285 metros.
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