Linha do tempo Abu Bakr al-Baghdadi
 - AFP
Linha do tempo Abu Bakr al-Baghdadi AFP
Por AFP
Síria - Poucas pessoas podem aspirar a liderar o grupo extremista Estado Islâmico (EI), após a morte de seu líder Abu Bakr al-Baghdadi, eliminado no domingo (27) por um ataque dos Estados Unidos na Síria.
A lista de possíveis substitutos é curta, segundo os especialistas. Reduziu-se ainda mais depois do anúncio da morte, em outro ataque dos Estados Unidos no norte da Síria, do porta-voz do EI, Abu al-Muhajir, uma figura conhecida que fazia parte dos possíveis nomes.
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As contas associadas ao EI nas redes sociais não falaram, até o momento, da morte de Al-Baghdadi e menos ainda de um sucessor.
Segundo Hisham al-Hasemi, um especialista iraquiano no EI, haveria dois candidatos: Abu Othman al-Tunsi e Abu Saleh al-Juzrawi, também conhecido como Hajj Abdallah.
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O primeiro é um cidadão tunisiano que preside o Conselho Shura do EI, um órgão político consultivo, sobre o qual pouco se sabe pouco, afirma o especialista.
O segundo é um saudita que preside o "Conselho dos delegados" do EI, cujo papel é executivo.
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Ambos, explica Hashemi à AFP, têm a mesma desvantagem: nenhum deles é originário da Síria, ou do Iraque (Baghdadi era iraquiano), países de origem da maioria dos combatentes do grupo. Escolher um líder sem levar esse fator em conta "pode levar a deserções", afirma Hashemi.
Aymen Jawad Tamimi, um universitário especializado no tema, também menciona Hajj Abdallah como potencial herdeiro.
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Pouco se sabe sobre ele, além de ter sido mencionado como "adjunto de Bagdadi" em documentos do EI que foram vazados. "Até onde eu sei, não está morto", completa Tamimi.
Outra figura do grupo vem à tona com frequência: Abdallah Qardash, um ex-oficial do Exército iraquiano que foi preso com Bagdadi em 2004, em Bucca. À época, era uma prisão sob comando militar americano.
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De acordo com Hashemi, porém, a morte de Abdallah Qardash foi anunciada em 2017 por vários membros de sua família, especialmente sua filha, que está nas mãos dos serviços iraquianos de Inteligência.
Segundo um comunicado atribuído, há vários meses, à Amaq, a agência de propaganda do EI, Qardash teria sido designado como sucessor de Bagdadi. O EI nunca ratificou formalmente este texto, e especialistas como Tamimi e Hashemi consideram-no falso.
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Quem quer que seja o sucessor de Baghdadi, enfrentará uma complexa tarefa agora que o movimento, após suas derrotas militares, teve de se dispersar em várias células clandestinas na Síria e no Iraque. Ambos os países se encontram em pleno caos com comunicações difíceis.
 
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Bagdadi enfrentou uma oposição interna sobre suas decisões estratégicas durante a queda do "califado" em março passado, quando alguns combatentes extremistas acusavam-no de brilhar por sua ausência.
Com Baghdadi morto, "afiliados do EI poderão mudar seu juramento, ou simplesmente decidir não confirmar seu juramento a seu sucessor", explica à AFP Nate Rosenblatt, pesquisador na Universidade de Oxford.
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Novas alianças poderão reforçar outros grupos jihadistas rivais do EI, como Hayat Tahrir al-Sham (HTS, ex-braço síria da Al-Qaeda), ou Hurras al-Din, um pequeno grupo extremista, completa Rosenblatt.
Max Abrahms, da Northeastern University de Boston, estima que a sucessão de Bagdadi não terá maior impacto no terreno.
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"Pouco importa o nome daquele que tomará o lugar de Baghdadi", quase invisível desde 2014, diz Abrahms.
"No nível de tomada de decisões, operações e recrutamento, o EI sempre esteve muito mais descentralizado do que a Al-Qaeda", completa.
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Quando mataram Bin Laden em 2011, em uma operação militar também americana, a questão de sua substituição era muito mais crucial. O então líder da Al-Qaeda estava muito mais envolvido e dirigia uma estrutura mais centralizada.
Abrahms lembra que "poucos grupos jihadistas, para não dizer nenhum, contam com uma organização tão burocrática quanto a do EI". O grupo "deveria fortalecer mais as fileiras, em vez de se desintegrar".