Recentes desenvolvimentos tecnológicos de telescópios e detectores tornaram possível tal busca, mais de 200 anos após essa técnica ter sido proposta pela primeira vez pelo visionário cientista inglês John Michell - Reprodução
Recentes desenvolvimentos tecnológicos de telescópios e detectores tornaram possível tal busca, mais de 200 anos após essa técnica ter sido proposta pela primeira vez pelo visionário cientista inglês John MichellReprodução
Por REVISTA PLANETA
Uma equipe internacional de cientistas descobriu que alguns buracos negros podem nascer com mais do que o dobro do tamanho do que se pensava anteriormente. A observação foi descrita em um estudo publicado em 28 de novembro na revista “Nature”.

Jifeng Liu, do Observatório Astronômico Nacional da China e da Academia Chinesa de Ciências, liderou um grupo de astrônomos chineses, americanos, australianos, poloneses e espanhóis que identificou um buraco negro estelar com massa 70 vezes maior que a do Sol. A equipe pesquisou o céu com o telescópio óptico LAMOST, no nordeste da China, para procurar estrelas que orbitam em torno de um objeto invisível, puxado por sua gravidade.

“Essa busca não foi de forma alguma uma tarefa fácil”, disse Liu. “Apenas uma estrela em mil pode estar girando em torno de um buraco negro: é como tentar encontrar uma agulha no palheiro.”

O monstro recém-descoberto está a 15 mil anos-luz da Terra e foi nomeado LB-1 pela equipe que o descobriu. Os recentes desenvolvimentos tecnológicos de telescópios e detectores tornaram possível tal busca, mais de 200 anos após essa técnica ter sido proposta pela primeira vez pelo visionário cientista inglês John Michell. O LB-1 é o resultado dessa pesquisa: uma estrela oito vezes maior que o Sol foi vista orbitando em torno de um buraco negro de 70 massas solares, um ciclo a cada 79 dias.

Juventude

Segundo o colaborador e coautor do estudo Alexander Heger, da Escola de Física e Astronomia da Universidade Monash (Austrália), é notável que esse buraco negro tenha sido encontrado próximo de nossa galáxia, e não em galáxias distantes como as detectadas pelo observatório de ondas gravitacionais LIGO, nos Estados Unidos.

“Esse buraco negro recém-descoberto é um buraco negro jovem, com no máximo alguns milhões de anos, e está em nosso ‘bairro’’, diferentemente dos buracos negros antigos e remotos detectados pelo LIGO”, disse Heger.

“Os astrônomos costumam perguntar o tamanho de um buraco negro que as estrelas podem fazer”, acrescentou ele. “A visão atual é que as estrelas da nossa galáxia não podem facilmente criar um buraco negro maior que 45 vezes a massa do Sol. Mas o buraco negro que observamos é 50% maior que esse limite. Agora poderemos fazer muitas observações detalhadas de acompanhamento usando uma ampla gama de telescópios terrestres e espaciais.”

A descoberta foi uma grande surpresa, afirmou Liu. “Buracos negros dessa massa nem deveriam existir em nossa galáxia, de acordo com a maioria dos modelos atuais de evolução estelar”, afirmou ele. “Agora, os teóricos terão de aceitar o desafio de explicar sua formação em um ambiente de metalicidade [a proporção da matéria do objeto constituída de elementos químicos diferentes do hidrogênio e do hélio] solar.”