Bento XVI - Reprodução/Facebook
Bento XVIReprodução/Facebook
Por AFP
Itália - O Papa Emérito, Bento XVI, pediu que seu nome seja retirado de um controvertido livro sobre o celibato, disse seu secretário particular, monsenhor Georg Gaenswein, prefeito da Casa Pontifícia, à agência Ansa nesta terça-feira.
"Confirmo que nesta manhã, seguindo o conselho do papa Emérito, pedi ao cardeal Robert Sarah que contatasse os editores do livro para pedir que removessem o nome de Bento XVI como coautor e também removessem a assinatura da introdução e as conclusões", disse o religioso, que foi seu secretário particular durante seus oito anos de pontificado.
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Com essa declaração, o Papa Emérito quer acabar com as controvérsias geradas pelo uso de sua autoridade moral para desaprovar o Papa Francisco.
A publicação no domingo de alguns trechos do livro intitulado "Das profundezas de nossos corações", assinado pelo Papa Emérito e pelo ultraconservador cardeal Sarah, em que eles defendem o celibato, desencadeou uma disputa sobre a interferência de Bento XVI, que renunciou em 2013.
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"Não podemos calar", argumentaram os dois autores sobre a possibilidade do Papa Francisco aprovar a ordenação de homens casados em regiões remotas, uma decisão que poderia gerar uma divisão na Igreja católica.
A editora americana Ignatius Press emitiu um comunicado indicando que sua versão do livro continuará com ambos nomes como coautores, já que "colaboraram neste livro por vários meses".
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O debate sobre o celibato aqueceu quando um bom número de religiosos da América do Sul questionou durante o sínodo dos bispos realizado em outubro passado sobre a ordenação de homens casados para tratar da escassez de padres na Amazônia.
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Sobre a delicada questão, que divide conservadores e reformistas, Francisco deve se pronunciar em um documento, ou exortação pós-sinodal, que será publicada em fevereiro.
Para muitos observadores e especialistas em assuntos do Vaticano, este livro tentou pressionar o Papa argentino a evitar se pronunciar sobre um assunto tão delicado.
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"O Papa Emérito sabia que o cardeal preparava o livro e enviou a ele um de seus artigos sobre o sacerdócio, permitindo que o utilizasse. Contudo, ele não aprovou qualquer projeto de livro com dupla assinatura e não viu nem autorizou a página de prólogo", informou Gaenswein.
"Tratou-se de um mal-entendido que não coloca em dúvida a boa fé do cardeal Sarah". O texto que Bento XVI enviou ao cardeal é seu próprio texto e segue sendo o autor, mas não de outros textos", destacou o religioso, que foi secretário particular do Papa alemão durante seus oito anos de pontificado, até a renúncia em 2013.
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A colaboração entre Bento XVI e o ultraconservador cardeal guineense Robert Sarah, que figura entre os cardeais mais contrários às propostas de mudanças de Francisco, também foi questionada devido à idade do Papa Emérito, 92 anos, que tem uma saúde frágil e vive recluso em um convento no Vaticano, onde recebe a visita de poucas pessoas.
Desde a segunda-feira, vários correspondentes estrangeiros no Vaticano asseguram que Bento XVI não co-escreveu o livro com o cardeal, citando uma fonte segundo a qual "tratou-se de uma estratégia editoral e midiática da qual Bento XVI toma distância".
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De acordo com essas fontes, trata-se de uma ação planejada por setores ultraconservadores para atacar Francisco e frear suas ações modernizantes.
Por seu lado, o cardeal Sarah, que divulgou no Twitter as cartas trocadas com Bento XVI sobre o assunto, anunciou que "em face da controvérsia" aparecerá como o único autor do livro, que contará com a "contribuição" do Papa Emérito
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Que a Eucaristia ou comunhão, um ritual sagrado e essencial da tradição cristã, seja concedido por um padre casado, é algo intolerável para alguns setores que ameaçam romper com a Igreja.
Apesar disso, a questão do fim do celibato foi abordada pelos dois papas e eles concordam substancialmente. "Pessoalmente, acho que o celibato é um dom para a Igreja e não concordo que o celibato seja permitido como uma opção", disse Francisco há um ano.
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"Haveria alguma possibilidade em lugares muito distantes, penso nas ilhas do Pacífico, algo a pensar, quando houver necessidade pastoral. Lá, o pastor deve pensar nos fiéis", reconheceu.
Seriam, portanto, exceções, conforme solicitado pela Amazônia, que um pontífice pode legitimamente autorizar. Em várias ocasiões, o Papa Francisco lembrou que a proibição de ordenar homens casados não faz parte da doutrina da Igreja.
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Durante séculos, os sacerdotes se casaram e até os textos bíblicos asseguram que o apóstolo Pedro tinha uma sogra.
Por sua parte, o diretor editorial do Vaticano, Andrea Tornielli, lembrou que Bento XVI também admitiu como pontífice exceções ao celibato ao permitir que padres anglicanos casados fizessem parte da Igreja Católica.
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Tudo parece indicar que, como no filme, "Os dois papas" (do diretor brasileiro Fernando Meirelles) têm menos divergências do que parece.