Coronavírus - Reprodução
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Por AFP
Rio - Quantos mortos o coronavírus fará? Ainda não há resposta a essa pergunta, mas, na pior das hipóteses, pode chegar a milhões em todo o mundo, alertam especialistas, que, portanto, insistem na importância de medidas como confinamento.

"Temos que ser realistas e honestos: sim, é possível, e nosso trabalho, nosso desafio, é garantir que isso não aconteça", insistiu no domingo na CNN Anthony Fauci, especialista mundialmente respeitado, a quem foi perguntado se era possível que centenas de milhares de americanos morressem de Covid-19.

Essas hipóteses são baseadas em simulações matemáticas construídas de acordo com o que sabemos sobre a doença (contagiosidade, suposta mortalidade etc.).

Deve-se entender que essas projeções não são bolas de cristal, mas ferramentas para orientar políticas públicas. Por isso, consideram o pior dos casos.

A mais importante foi divulgada na segunda-feira pelo Imperial College London (ICL), que a "comunicou aos formuladores de políticas do Reino Unido e de outros países nas últimas semanas".
E o tempo é curto: segundo o ICL, "a ameaça representada pelo Covid-19 para a saúde pública" é comparável à da "gripe espanhola de 1918".

Primeira observação: "Se nenhuma ação for tomada contra a epidemia, poderíamos esperar cerca de 510.000 mortes na Grã-Bretanha [em uma população de 66 milhões] e 2,2 milhões nos Estados Unidos" [de 330 milhões]. E isso sem levar em consideração as mortes adicionais causadas pela saturação dos hospitais.

Para chegar a esse tipo de estimativa, os pesquisadores partem de um dado aceito: na ausência de medidas para combater a epidemia, cada paciente de Covid-19 contamina de duas a três pessoas. Nesse caso, "81% da população britânica e americana" acabaria sendo infectada.

Em seguida, aplica-se a taxa de mortalidade estimada da doença, em torno de 1% das pessoas que relatam sintomas, sabendo que uma grande proporção de pessoas infectadas não relatam sintomas, ou muito poucas.

Atenuar ou mitigar?
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No entanto, esses números impressionantes de mortes são apenas teóricos, pois são calculados com base no pressuposto de que os países não realizem nenhuma ação, o que não é o caso.

Resta ver como cada um deles é eficaz. Isso é o que os pesquisadores do ICL tentaram avaliar.

Conclusão: medidas para "mitigar" a epidemia (quarentena de casos identificados e suas famílias, isolamento de indivíduos em risco, como idosos ou que sofrem de outras patologias) não seriam suficientes para reduzir drasticamente o número de mortes.

"Os países que são capazes de fazê-lo" deveriam optar por uma segunda estratégia, de "contenção", que visa diretamente o fim da epidemia.

Mas pressupõe medidas muito mais rigorosas, como o isolamento ("distanciamento social") de toda a população ou o fechamento de escolas.

Essas medidas têm "custo econômico e social significativo", reconhecem os pesquisadores. Segundo eles, poderiam, portanto, ser reduzidos pontualmente, mas deveriam ser repostos assim que o número de casos começar a aumentar novamente.

E, no total, devem ser "mantidos pelo tempo necessário para desenvolver uma vacina", o que pode levar "18 meses ou mais".

A publicação deste relatório coincidiu com a adoção de medidas drásticas pela França e com uma mudança de estratégia no Reino Unido.

Na segunda-feira, este país reforçou consideravelmente suas medidas, pedindo em particular para evitar o contato e qualquer deslocamento "não essencial".

Testes
Até agora, o governo de Boris Johnson havia adotado ações leves, apostando no fato de que a circulação do vírus acabaria criando uma "imunidade de grupo" (a doença desaparece sozinha por falta de novas pessoas para contaminar).

Problema: essa estratégia levaria a "250.000 mortes na Grã-Bretanha e 1,1 milhão nos Estados Unidos", alertou o ICL.

Por sua vez, o comitê científico que aconselha as autoridades francesas estimou em um relatório que "se deixarmos o vírus se espalhar (...), esperamos que pelo menos 50% da população seja infectada", com "centenas de milhares de mortes na França".

Além dos aspectos de saúde, a escolha de uma estratégia deve levar em consideração aspectos sociais e econômicos, a fim de alcançar um equilíbrio aceitável para a população.

"O confinamento extremo funciona, mas a questão é se é necessário chegar a isso", disse Sharon Lewin, do Instituto Peter Doherty para Infecção e Imunidade de Melbourne (Austrália).

Além disso, muitas incógnitas permanecem, o que impede de estabelecer claramente sua mortalidade.

A principal é o número real de pessoas infectadas, subestimadas em muitos países devido à falta de testes generalizados.

Daí a importância dos testes sorológicos que a comunidade científica está atualmente tentando desenvolver.

Diferentemente dos testes atuais, que apontam se um paciente está infectado no momento T, os testes sorológicos detectam anticorpos para determinar se um indivíduo entrou em contato com o vírus.

"Quando soubermos isso, teremos um conhecimento muito bom da gravidade da doença, idade por idade", explicou à AFP Cécile Viboud, epidemiologista do NIH (American Institutes of Health).