Trabalho das equipes médicas vem sendo incessante na luta contra a pandemia no mundo: avanço dos casos é uma enorme preocupação  - Kenzo Tribouillard/ AFP
Trabalho das equipes médicas vem sendo incessante na luta contra a pandemia no mundo: avanço dos casos é uma enorme preocupação Kenzo Tribouillard/ AFP
Por Agência Brasil
Uma cadeia de colaboradores, que inclui as empresas Petrobras e Vale, o grupo norte-americano Whirlpool, representado pela indústria Brastemp, mais a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), está ajudando o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), a desenvolver ventiladores pulmonares mecânicos para tratamento da covid-19. A ideia é fazer os primeiros testes em pacientes já na próxima semana.

O professor Jurandir Nadal, chefe do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe, disse hoje (1º) à Agência Brasil que percebendo que haveria falta de ventiladores para uso em UTIs, a Coppe decidiu montar um modelo experimental e testá-lo com um modelo mecânico de pulmão. “A gente configurou esse modelo para dificuldades de respiração semelhantes às da covid-19”.

O aparelho funcionou bem e, a partir daí, os pesquisadores da Coppe pensaram em construir um equipamento emergencial para a crise do novo coronavírus. “Estabelecemos uma rede de contatos, usamos as redes sociais. Tivemos muitas ofertas e estamos formando um time para desenvolver esse produto”, disse Nadal.

Petrobras

Técnicos da Petrobras estão trabalhando junto com os pesquisadores no laboratório da Coppe e fornecendo peças disponíveis no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) ou em outros locais, enquanto a empresa Brastemp, do setor de eletrodomésticos, auxilia gerenciando contatos para conseguir peças comerciais viáveis de fabricação rápida. A Faperj, por sua vez, aprovou apoio financeiro no tempo recorde de quatro dias para o projeto e já liberou recursos. “A Coppe está toda mobilizada com vários programas participando, entre os quais a área de controle e automação, engenharia biomédica, mecânica. Enfim, tem sido um trabalho muito bacana”.

A Petrobras emprestou sua impressora 3D, instalada no Cenpes, para produzir componentes dos protótipos, e cedeu um sensor de oxigênio, que estava localizado em Caraguatatuba (SP) e será usado nos testes para garantir o nível correto de oxigenação dos aparelhos.

Ontem (31), os pesquisadores definiram o modelo que vai ser o protótipo 1 do ventilador pulmonar. Agora, em dois ou três dias, eles esperam transformar esse protótipo feito em laboratório em um modelo mais resistente para levar para testes em pacientes com a covid-19. “Em paralelo, a gente que aprovar isso no conselho de ética. Tudo está sendo corrido para ver se poderemos testar em pacientes já no início da próxima semana”, informou Jurandir Nadal.

Primeira série

Depois disso, o objetivo é fabricar o ventilador pulmonar, em uma primeira série sem equipamentos, para fazer um teste clínico mais amplo, mas já atendendo pacientes, para avaliar o uso em longo prazo. “Se é necessário fazer alguma adaptação final e, depois, vamos fazer uma série de mil peças que ficarão de prontidão para fazer mais, se for necessário”.

O professor afirmou que, a partir de agora, uma vez testado em hospital e tendo as peças já em mãos da indústria, a fabricação é muito rápida. “Mil peças se fazem em um a três dias”. Contatos são feitos diariamente pelos pesquisadores com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A gente está procurando atender ao máximo as normas para produção de equipamentos para venda, ou seja, aparelhos comerciais”.

Nadal observou, entretanto, que o ventilador pulmonar da Coppe não atenderá todos os requisitos de um equipamento comercial. “A gente está procurando atender os requisitos de um ventilador pulmonar de emergência. E vamos recomendar o uso dessa forma. Que ele deve ser usado quando não tiver ventilador registrado na Anvisa sendo utilizado”. Isso significa que o modelo da Coppe poderá ser usado na falta de equipamento registrado, se houver pane nesses outros ventiladores, “ou onde não tem nenhum”.

Segurança

A preocupação dos pesquisadores da Coppe/UFRJ foi atender os requisitos de segurança do paciente. Foram colocados os alarmes necessários para avisar se faltou oxigênio, se faltou energia, se a bateria está fraca, se a pressão está muito baixa, ou seja, aspectos que podem colocar em risco a vida do paciente. Tudo isso será testado em laboratório antes de iniciar a produção, para confirmar que não envolve nenhum risco.

Esses testes deverão ser feitos em hospitais, em pacientes com covid-19, na próxima semana. O chefe do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe estimou que a primeira série do ventilador pulmonar poderá estar pronta entre 15 a 20 dias. Os pesquisadores trabalham também com a possibilidade de a produção atrasar em algumas semanas, caso surjam dificuldades, como a necessidade de importar alguma peça, por exemplo . “Se tudo der certo, a gente produz em relativamente pouco tempo”.

Custo

Jurandir Nadal revelou que o custo de um ventilador pulmonar normal varia muito e vai de R$ 15 mil até R$ 100 mil, dependendo do grau de sofisticação, versatilidade, recursos adicionais que oferecem. O equipamento da Coppe tem mão de obra zero, porque todos os envolvidos no projeto estão trabalhando voluntariamente, “ninguém está pensando em lucro neste momento”. Considerando as peças utilizadas, o professor estimou que o equipamento poderá custar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil cada, que é um custo muito baixo. Como não vai para o mercado, ele acredita que o modelo da Coppe não deverá ter nenhum tipo de imposto.

“Ou seja, nós compramos as peças já com valor de mercado, colocamos no equipamento, esperamos ter financiadores voluntários para cobrir o custo dessas peças e, se a gente produzir mil custarão entre R$ 3 milhões a R$ 5 milhões, o que não é um absurdo para uma grande empresa. Vamos tentar entregar isso gratuitamente para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, comentou Nadal. Todo esforço será no sentido de entregar um primeiro lote antes de maio próximo. Em abril, será feito um lote de 100 aparelhos desse tipo para uso sob supervisão dos especialistas de clínica, para que os pesquisadores tenha noção de desempenho de longa duração e possam fazer um modelo final em maior quantidade.

A Petrobras se comprometeu a colaborar na viabilização da produção em larga escala dos ventiladores mecânicos, depois de sua aprovação pelos órgãos competentes. O diretor de Transformação Digital e Inovação da Petrobras, Nicolas Simone, disse que “essa iniciativa integra uma ampla frente científica da Petrobras, que reúne especialistas da companhia na geração de ideias e soluções de combate à covid-19, em parceria com universidades, empresas, organizações sociais e instituições do Brasil e do exterior”. O diretor da Coppe/UFRJ, professor Romildo Toledo, destacou que a Petrobras é uma parceira da Coppe de longa data e esse apoio é fundamental para viabilizar a produção do ventilador pulmonar. “Esperamos que, com essa ação, possamos contribuir para salvar vidas nesse combate ao coronavírus”.