Papa Francisco voltou nesta segunda-feira de sua histórica viagem ao IraqueAFP

Por AFP
O papa Francisco voltou nesta segunda-feira (8) de sua histórica viagem ao Iraque, uma visita que embora tenha sido muito exaustiva para seus 84 anos, teve um forte significado religioso devido ao seu encontro com o grande aiatolá Ali Sistani.
Ele é "um homem humilde e sábio", disse o papa sobre o líder religioso dos muçulmanos xiitas.
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Encontrá-lo foi "bom para a alma", confessou ele durante a entrevista coletiva de quase uma hora a bordo do avião que o trouxe de volta a Roma.
O pontífice argentino, com o objetivo de apoiar os cristãos do Iraque - 1% da população atualmente e 6% há 20 anos - não escondeu a emoção ao rezar silenciosamente nas ruínas de uma igreja em Mossul, pelos mártires, os perseguidos, os esquecidos.
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“Quando parei em frente à igreja destruída, não tive palavras”, reconheceu o papa que sobrevoou a cidade em um helicóptero e notou “tamanha crueldade”.
Durante a coletiva de imprensa com os mais de 70 jornalistas que o acompanharam no voo, Francisco relembrou um dos momentos mais emocionantes dos três dias de viagem, quando ouviu o testemunho de uma mulher que perdera o filho durante os ataques dos jihadistas e que se dispôs a perdoar os seus inimigos.
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"Fiquei muito comovido com o testemunho dela, uma mãe que oferece seu perdão nessas circunstâncias ... Um exemplo a seguir", disse ele.
O papa lembrou aos jornalistas uma experiência semelhante que teve em sua visita à Colômbia em 2017, por ocasião dos encontros entre vítimas e perpetradores após os acordos de paz.
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“Sabe-se condenar (...) mas perdoar os inimigos é puro Evangelho”, comentou.
O pontífice, que fez sua primeira viagem ao exterior em quinze meses, apesar da pandemia do coronavírus e das ameaças de ataques, queria antes de tudo enviar uma mensagem de paz e reconciliação em um país assolado por guerras e violência.
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O dever de peregrinar
“Acho que foi uma mensagem universal, senti o dever de fazer esta peregrinação de fé e penitência, e de encontrar um grande, um homem sábio, um homem de Deus. Isto se via simplesmente ao ouvi-lo”, acrescentou, referindo-se ao grande aiatolá Ali Sistani.
"Ele foi muito respeitoso durante nosso encontro e me senti honrado. Ele nunca se levanta para cumprimentar um visitante, mas se levantou para me cumprimentar duas vezes", disse o papa.
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Francisco, que assinou um documento importante há dois anos com o grande imã sunita de Al-Azhar no Egito, não assinou um documento com o grande aiatolá xiita no Iraque, representante do outro grande ramo do Islã.
No entanto, ele enfatizou que "outras etapas" estão sendo preparadas para uma reaproximação com o Islã e citou o aiatolá Sistani, para quem "os homens são irmãos por religião ou iguais pela criação".
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Francisco, por sua vez, está ciente das críticas lançadas por alguns setores contra suas aberturas, especialmente por parte dos ultratradicionalistas.
"Muitas vezes é preciso correr riscos para dar este passo. Vocês sabem que há algumas críticas de que o papa não tem coragem, que não tem consciência e está agindo contra a doutrina católica, com risco de heresia. São riscos, mas essas decisões são sempre tomadas em oração, com diálogo, pedindo conselho. Essas decisões não são um capricho", explicou.
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O pontífice admitiu também que a viagem de três dias ao Iraque foi "muito mais" cansativa do que outras visitas ao exterior, já que se viu mancando por uma dor ciática que o obrigou a cancelar vários compromissos no passado.
O papa explicou que visitará a Argentina "quando tiver a oportunidade" e lembrou que pensou em viajar para o seu país em 2017, visita que teve que cancelar.
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"Quando tiver a oportunidade, devo fazer. Argentina, Uruguai e o sul do Brasil, já que existe uma semelhança cultural", destacou.
"Quero dizer isso, para que não haja fantasias de pátria-fobia", enfatizou.
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O papa, que foi vacinado contra a covid-19, assim como todas as pessoas que o acompanharam no avião, confessou que a propagação da epidemia o preocupa.
“Pensei muito, rezei muito. E no final, decidi, livremente, mas veio de dentro”, revelou Francisco.
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Referindo-se a outras viagens que deseja fazer, o papa anunciou que deseja visitar o Líbano, "um país que sofre", além da Hungria.