George Floyd foi morto asfixiado pelo policial Derek Chauvin em Minnesota, nos Estados UnidosReprodução Facebook

Por AFP
Estados Unidos - O início do julgamento do ex-policial Derek Chauvin, acusado da morte de George Floyd, foi adiado até a terça-feira (9), para que o juiz que preside a audiência possa analisar a inclusão de mais uma acusação. O julgamento deveria ter começado nesta segunda-feira (8) com a seleção do júri, em um processo percebido pela opinião pública como altamente simbólico após as maciças manifestações contra o racismo e a violência policial que provocaram a morte de Floyd em 25 de maio de 2020.

Mas, enquanto centenas de manifestantes se reuniam perto de um tribunal de Minneapolis fortemente vigiado, o juiz do condado de Hennepin, Peter Cahill, ordenou que a seleção fosse adiada até pelo menos terça-feira. Os promotores solicitaram a pausa até que um tribunal de apelação decida se o juiz deve restabelecer uma acusação de homicídio de terceiro grau contra Chauvin.

"O Tribunal escolherá os jurados para um julgamento sobre o qual ainda não sabemos as acusações exatas", disse Matthew Frank, o promotor principal. Chauvin, de 44 anos, é acusado de assassinato em segundo grau e homicídio culposo pela morte de Floyd. O afro-americano morreu sufocado depois que o agente o imobilizou, apertando seu pescoço com o joelho por quase nove minutos.

Cahill disse que acha que a seleção dos 12 jurados e quatro suplentes deve continuar, mas concordou em interrompê-la enquanto se resolve a apelação. "Os jurados em potencial estão aqui, mas vamos ser realistas, isso não vai começar antes de amanhã", disse o magistrado. O agente, libertado sob fiança, compareceu ao tribunal vestindo um terno azul e uma máscara preta.

Enquanto isso, a irmã da vítima, Bridgett Floyd, veio do Texas para "levar a voz" de seu irmão. "A espera acabou, estamos aqui", afirmou à imprensa ao final de um dia difícil. "Eu me senti como se estivesse em uma montanha-russa."
"O problema é o sistema"
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Uma terceira acusação, relacionada à "violência intencional resultando em morte", é a última apresentada. O estado de Minnesota, representado pelos promotores, temeu que iniciar o julgamento sem esperar o resultado desta apelação pudesse prejudicar todo o procedimento. Assim, o procurador-geral solicitou o parecer de um tribunal de apelação, que deverá intervir com celeridade. Enquanto se aguarda uma resposta, o julgamento será interrompido.

À tarde, porém, as partes continuaram a discutir questões de logísticas, concordando em reduzir a lista de testemunhas que serão chamadas a depor. Com base em um questionário enviado a jurados em potencial, que revelou riscos de parcialidade, eles decidiram excluir 16. Encontrar jurados imparciais é desafiador, pois o assunto despertou paixões.
As últimas palavras de Floyd, "não consigo respirar", comoveram os Estados Unidos. Centenas de pessoas protestaram perto do tribunal em Minneapolis nesta segunda-feira com flores e faixas para lembrar Floyd. "Há um problema na América", disse à AFP Marcus X. Smith, co-fundador da pequena organização Partido do Povo Negro dos Estados Unidos. "O problema é o sistema contra o qual lutamos", acrescentou.

Nadi McDill, uma jovem afro-americana, disse que apoia o adiamento do julgamento porque o acréscimo da acusação de homicídio de terceiro grau pode aumentar as chances de condenação. "Receber a acusação de homicídio de terceiro grau é importante", disse ela.

O caso de Chauvin promete ser inédito em muitos aspectos: contará com advogados famosos, será realizado sob forte segurança e será transmitido ao vivo. O escritório do Procurador-Geral do Estado de Minnesota convocou Neal Katyal, um ex-procurador-geral interino que já argumentou na Suprema Corte, para ajudar com a acusação.

Katyal descreveu o julgamento de Chauvin como um "caso criminal histórico, um dos mais importantes da história" dos Estados Unidos. Ashley Heiberger, ex-policial que agora trabalha como consultora sobre as práticas policiais, afirmou que "o fato de um policial ter sido acusado criminalmente de uso abusivo da força é, em si mesmo, uma exceção".
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"É ainda mais raro que eles sejam condenados", acrescentou. "Há uma tendência do júri querer dar ao policial o benefício da dúvida", ressalta. Porém, as circunstâncias do caso Chauvin, de 44 anos, são tão preocupantes que "nenhuma policial ou organização policial saiu para defender seu ato", explica.

Três outros oficiais envolvidos na prisão de Floyd, Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, enfrentam acusações menores e serão julgados de forma separada. Os quatro envolvidos no caso foram demitidos pelo Departamento de Polícia de Minneapolis.

Treinado para isso
Chauvin, que atuava há 19 anos na polícia, foi libertado sob fiança no outono (hemisfério norte, primavera no Brasil) e deve se declarar inocente das acusações de homicídio e homicídio culposo. "Ele fez exatamente o que foi treinado a fazer", acrescentou seu advogado Eric Nelson.

De acordo com Nelson, Floyd morreu de overdose de fentanil. Uma necropsia encontrou vestígios da droga no corpo de Floyd, mas especificou que a causa da morte foi "compressão do pescoço". Será necessária uma decisão unânime de todos os 12 jurados para colocar Chauvin atrás das grades.

Se o policial não for condenado é provável que aconteça uma nova onda de manifestações contra o racismo.
As autoridades mobilizaram milhares de policiais e membros da Guarda Nacional para auxiliar na segurança durante o julgamento. Não se espera um veredicto antes do final de abril.