George Floyd foi morto asfixiado pelo policial Derek Chauvin em Minnesota, nos Estados UnidosReprodução Facebook

Por AFP
Minneapolis - O julgamento do ex-policial branco Derek Chauvin, acusado de assassinar o afro-americano George Floyd, começou na terça-feira com a seleção dos primeiros jurados, nove meses após os fatos que reabriram as feridas do racismo e da violência policial nos Estados Unidos.

Chauvin, que foi expulso da polícia, enfrenta duas acusações, uma por homicídio em segundo grau e outra por homicídio culposo, na morte de Floyd em 25 de maio, em Minneapolis.

A seleção do júri deveria ter começado na segunda-feira, mas foi adiada em um dia porque a promotoria queria acrescentar uma terceira acusação, a de homicídio em terceiro grau.

Homicídio em segundo grau resulta em uma pena máxima de 40 anos de prisão, enquanto homicídio em terceiro grau acarreta 25 anos.

Uma corte de apelações ainda não se pronunciou sobre esta petição, mas o juiz Peter Cahill decidiu iniciar a seleção do júri de 12 membros.

Depois de várias horas de interrogatórios minuciosos por parte da defesa e da acusação, três jurados foram selecionados na terça-feira.

A escolha dos jurados pode durar até três semanas e estima-se que as discussões iniciais possam começar no dia 29 de março.

Chauvin, de 44 anos, foi expulso da polícia depois que o vídeo de um transeunte o mostrou esmagando o pescoço de Floyd com o joelho por quase nove minutos.

O agente, que foi libertado sob fiança, compareceu ao tribunal nesta terça em um terno cinza e uma máscara preta, ficando em pé atrás de uma tela de acrílico instalada como medida de proteção contra a covid-19.

Feridas raciais
A morte de George Floyd reabriu as feridas raciais nos Estados Unidos e desencadeou meses de violentos protestos contra o racismo e a brutalidade policial no país e ao redor do mundo.

Os advogados das duas partes têm a difícil tarefa de encontrar jurados que não tenham uma postura definida sobre o caso ou não o conheçam.

Uma potencial jurada, hispânica, foi descartada pela defesa porque fez alusão à "injusta" morte de Floyd.

Ao contrário, outro jurado em potencial, um homem branco entre 20 e 30 anos, foi escolhido. Quando perguntado pelo juiz se poderia ser "justo e imparcial" no julgamento, respondeu que "sim".

O homem disse que nunca viu o vídeo que viralizou e no qual Chauvin aparece pressionando o joelho sobre o pescoço de Floyd.

Também foi selecionada uma jovem de aparência birracial, que disse se sentir "super entusiasmada" de integrar o júri e que não seria influenciada pelo fato de ser sobrinha de um policial.

"Estupendo!", exclamou quando lhe informaram que tinha sido aceita.

O terceiro jurado aceito foi outro homem branco com idade por volta de 30 anos, que se apresentou como auditor financeiro. Ele disse que apoia de "maneira geral" os pedidos do movimento de justiça racial "Black Lives Matter", mas que não tem uma posição legal definida sobre o caso de Floyd.

Vários jurados em potencial expressaram preocupação com a sua segurança por se tratar de um caso de grande repercussão.

A identidade dos membros do júri será revelada apenas depois do julgamento.

Três outros policiais envolvidos na prisão de Floyd, Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, enfrentam acusações menores e serão julgados separadamente.

Os quatro foram demitidos da polícia de Minneapolis.

A prisão de Floyd no meio da rua ocorreu após acusações de que ele teria tentando pagar uma compra em um loja próxima com uma nota falsa de vinte dólares.

O julgamento de Chauvin é considerado um possível marco em um país que recentemente elegeu sua primeira vice-presidente negra mas que, historicamente, viu policiais se livrando da condenações atos abusivos.

Devido à pandemia e às normas de distanciamento social, poucas pessoas estarão presentes no tribunal. As famílias Floyd e Chauvin podem ser representadas por apenas uma pessoa em cada audiência.

O julgamento será transmitido ao vivo on-line.

A prima de Floyd Shareeduh Tate, que representou a família na terça-feira no tribunal, disse à AFP: "Inicialmente para nós era pessoal porque perdemos um parente querido... mas depois entendemos que era algo muito maior".

A defesa de Chauvin, que estava na polícia há 19 anos, alega que ele seguiu os procedimentos estabelecidos e afirma que Floyd morreu de overdose de fentanil.

"Chauvin agiu de acordo com a política do MPD (Departamento de Polícia de Minneapolis), com seu treinamento e dentro de suas obrigações", disse seu advogado, Eric Nelson.

"Ele fez exatamente o que foi ensinado a fazer", acrescentou.

A necropsia encontrou traços de fentanil no corpo de Floyd, mas o relatório diz que a morte se deveu à "compressão do pescoço".

Um veredicto não é esperado antes do final de abril.