As pessoas levantam as mãos e se ajoelham enquanto protestam no memorial improvisado em homenagem a George Floyd, em 2 de junho de 2020 em Minneapolis, Minnesota
As pessoas levantam as mãos e se ajoelham enquanto protestam no memorial improvisado em homenagem a George Floyd, em 2 de junho de 2020 em Minneapolis, MinnesotaChandan Khann/ AFP
Por AFP
Com o início das discussões substantivas nesta segunda-feira, o julgamento contra o policial branco acusado do assassinato de George Floyd entrou em uma fase decisiva, também considerado um "referendo" sobre a Justiça nos Estados Unidos após as gigantescas manifestações contra o racismo desencadeadas por sua morte.

Depois de três semanas dedicadas à seleção dos jurados, a acusação deve apresentar seu caso contra Derek Chauvin, de 45 anos, 19 deles no Departamento de Polícia de Minneapolis, julgado por assassinato e por homicídio culposo.
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"Hoje começa um julgamento histórico que será um referendo sobre o quão longe os Estados Unidos avançaram em sua busca por igualdade e justiça para todos", afirmou Ben Crump, advogado da família Floyd, antes dos comentários de abertura.

"O mundo inteiro está de olho", enfatizou, antes de se ajoelhar junto aos familiares da vítima por 8 minutos e 46 segundos, o tempo que Chauvin permaneceu com seu joelho sobre o pescoço de George Floyd em 25 de maio em Minneapolis.
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O calvário de Floyd foi filmado e publicado na Internet por um pessoa que passava pelo local. As imagens rodaram o mundo e levaram multidões às ruas de Nova York, Seattle, Paris, ou Sydney, para denunciar o racismo e a violência policial contra as minorias.

"Chauvin está no banco dos réus, mas são os Estados Unidos que estão sendo julgados", disse o reverendo Al Sharpton, ativista dos direitos civis que acompanha esta audiência "histórica".
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'Não consigo respirar'
Um famoso advogado afro-americano da grande cidade do norte dos Estados Unidos, Jerry Blackwell, falará em nome da família a partir das 9h locais (11h de Brasília), em um edifício público adaptado para o processo excepcional que deve durar de três a quatro semanas.
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As autoridades pediram calma e manifestações "pacíficas" diante do tribunal. Os promotores pretendem demonstrar que Derek Chauvin, que comparecerá em liberdade, mostrou desprezo pela vida de George Floyd ao manter a ação, apesar de o afro-americano ter afirmado 20 vezes "eu não consigo respirar", antes de desmaiar.

Eric Nelson, advogado de Chauvin, tentará provar que o policial, que se declara inocente, seguiu os procedimentos autorizados para controlar um suspeito e que não é responsável pela morte de Floyd.
Floyd, que tinha 46 anos e sofria de problemas de saúde, teria falecido, de acordo com Nelson, por uma overdose de fentanil, um potente opiáceo, do qual foram encontrados vestígios em seu corpo na necropsia.
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"O que matou George Floyd foi uma overdose de força excessiva", respondeu Ben Crump no domingo.
Em consequência da pandemia, o julgamento acontecerá sem a presença do público, mas as audiências serão transmitidas ao vivo, e muitos americanos devem acompanhar o processo.
O veredicto é aguardado para o fim de abril, ou início de maio.

Os 12 jurados precisam tomar uma decisão por unanimidade. Em caso contrário, o julgamento será considerado nulo. Este cenário, ou uma absolvição, podem provocar novos distúrbios em Minneapolis.
"Oramos para que se faça justiça por George Floyd, que se responsabilize penalmente Derek Chauvin e que isto estabeleça um novo precedente nos Estados Unidos", disse Ben Crump. Os julgamentos de policiais por atos de violência cometidos no desempenho das funções são muito raros nos Estados Unidos, e as condenações, ainda mais.
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A prefeitura de Minneapolis, que decidiu aprovar uma reforma profunda da polícia, concordou há algumas semanas em pagar 27 milhões de dólares por danos e prejuízos à família Floyd para encerrar o processo civil.

"Tenho um grande vazio em meu coração, não pode ser preenchido, não pode ser preenchido com nenhuma quantidade de dinheiro. Queremos uma condenação", afirmou no domingo Philonise, irmão de George Floyd.
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O advogado de Chauvin criticou o acordo, que segundo ele poderia influenciar membros do júri.
Também devido à covid-19, os outros três policiais envolvidos na tragédia, Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, serão julgados em agosto por "cumplicidade no assassinato".