“Estamos profundamente alarmados com os acontecimentos ocorridos na cidade de Cali (sudoeste) na Colômbia na noite passada, quando a polícia abriu fogo contra os manifestantes que protestavam contra a reforma tributária, matando e ferindo várias pessoas, segundo informações recebidas”, disse Marta Hurtado, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR).
Na manhã desta terça-feira, pessoas tomaram as ruas e bloqueios foram levantados em rodovias de Bogotá e de Cali, a terceira cidade do país, capital do Valle del Cauca, e a mais afetada pelos distúrbios.
Hurtado fez “um apelo à calma (...) Dada a situação extremamente tensa, com militares e polícias destacados para acompanhar os protestos”.
Defensores dos direitos humanos e ONGs denunciam ameaças e casos de violência policial, que incluem civis mortos pelas mãos de homens uniformizados.
A União Europeia aderiu às advertências e pediu que se "evite o uso desproporcional da força".
Os protestos e confrontos inflamaram a capital do departamento de Valle del Cauca, Cali, na noite de segunda-feira. A cidade de 2,2 milhões de habitantes está militarizada desde sexta-feira por ordem do governo.
Segundo a prefeitura, na segunda-feira à noite morreram cinco pessoas e 33 ficaram feridas. A Defensoria não confirmou esses números.
Além dos tumultos, houve bloqueios nas principais rodovias da região que já causaram falta de gasolina e preocupação quanto ao deslocamento de caminhões que levam oxigênio e material médico em meio à pandemia.
O defensor público (ouvidor), Carlos Camargo, afirmou que um membro da entidade e outras quatro pessoas foram agredidos por agentes uniformizados enquanto prestavam assistência a detidos em Cali.
"Foram ameaçados por agentes da polícia nacional que dispararam repetidamente para o ar e para o solo, atiraram granadas de atordoamento, abusaram verbalmente deles e exigiram que abandonassem o local", afirmou.
“Nada justifica que haja pessoas armadas que, amparadas pelo desejo legítimo dos cidadãos de realizar marchas cívicas, saem para atirar em cidadãos indefesos e atacar cruelmente nossos policiais”, declarou.
Três agentes uniformizados foram alvos de disparos desde o início dos protestos.
Segundo o presidente, a força pública é vítima de agressões orquestradas por grupos armados que atuam no país depois de mais de meio século de conflito interno.
A assinatura do acordo de paz com a guerrilha das Farc em 2016 não cessou a violência.
Duque anunciou o deslocamento de vários ministros para Cali.
Ainda que o presidente tenha retirado a proposta de reforma tributária e o ministro da Fazenda tenha renunciado, a população segue protestando para exigir "melhores condições de vida para os cidadãos", disse à AFP a líder das manifestações em Cali, Yonny Rojas.
“O destacamento da força pública foi muito grande, sem precedentes, uma coisa apavorante (...) eles entram atirando nos cidadãos”, disse.
Sindicatos, indígenas, organizações civis, estudantes, entre outros setores insatisfeitos, exigem uma mudança de rumo de seu governo.
O Ministério da Defesa enviou 47.500 soldados para áreas de todo o país. Só em Cali há 700 soldados, 500 homens das forças antimotins (Esmad), 1.800 policiais e dois helicópteros adicionais.
A Anistia Internacional pediu pelo "fim da repressão das manifestações (e) da militarização das cidades".
Defensores dos direitos humanos pedem que não se repita o que aconteceu em 2020, quando as forças de segurança enfrentaram mobilizações contra a brutalidade policial com balas, deixando uma dezena de mortos e mais de 500 feridos.
Os protestos atuais refletem também o desespero causado pela pandemia que atinge com força o país de 50 milhões de habitantes.
Em seu pior desempenho em meio século, o Produto Interno Bruto (PIB) da Colômbia despencou 6,8% em 2020 e o desemprego subiu para 16,8% em março.
Quase metade da população vive na informalidade e na pobreza, de acordo com dados oficiais.