Quase 450 edifícios de Gaza, densamente povoada, foram destruídos ou seriamente danificados durante o conflito, incluindo seis hospitais e nove centros de atendimento de saúde primários.
Quase 450 edifícios de Gaza, densamente povoada, foram destruídos ou seriamente danificados durante o conflito, incluindo seis hospitais e nove centros de atendimento de saúde primários.AFP
Por AFP
Gaza - Israel está examinando se existem as condições para um cessar-fogo, após nove dias de confrontos com os grupos armados da Faixa de Gaza e enquanto os esforços diplomáticos internacionais se intensificam, informou uma fonte militar.

"Estamos estudando qual é o momento adequado para um cessar-fogo", disse à imprensa a fonte militar, que pediu anonimato, antes de destacar que Israel se prepara para mais dias de bombardeios em caso de necessidade, enquanto comprova se "cumpriu os objetivos" da ofensiva.

Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que não descarta "seguir até o fim" contra o movimento Hamas.

"Há apenas duas possibilidades para enfrentá-los: seguir até o fim, que ainda é uma possibilidade, ou a dissuasão. E atualmente estamos imersos em uma dissuasão firme", disse o chefe de Governo.

"Devo afirmar que não descartamos nenhuma opção", completou.

"O que tentamos fazer é justamente isto: reduzir suas capacidades, seus recursos terroristas e diminuir sua determinação".

"Esperamos poder restabelecer a calma, e esperamos poder restabelecer rapidamente. Quero afirmar que fazemos isto e estamos fazendo o máximo para evitar as vítimas civis", disse.

No território palestino, governado pelo movimento islamita Hamas, os bombardeios israelenses se tornaram mais intensos na manhã desta quarta-feira, com ataques contra os setores de Khan Yunes e Rafah.

No sul de Israel, a noite foi marcada pelo som das sirenes, que alertavam para os lançamentos de foguetes a partir de Gaza, e o barulho do sistema antimísseis, que intercepta os projéteis.

Desde o início do novo ciclo de violência, em 10 de maio, ao menos 219 palestinos - incluindo 63 crianças - morreram nos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, segundo o ministério da Saúde local. Em Israel, os lançamentos de foguetes a partir de Gaza provocaram 12 mortes, de acordo com a polícia.

"Estamos aterrorizados com o barulho das explosões, dos mísseis e dos aviões", declarou Randa Abu-Sultan, de 45 anos, mãe de sete filhos. Ela passa a noite abaixada em um quarto ao lado com toda a família.

"Meu filho de quatro anos diz que tem medo de dormir e encontrar todos mortos quando acordar", afirma.

A França apresentou na terça-feira um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU, após oito dias de bloqueio diplomático, provocado, sobretudo, pela recusa da diplomacia dos Estados Unidos a adotar uma declaração conjunta sobre o conflito.

O texto foi apresentado em coordenação com Egito e Jordânia, dois países com peso regional e vizinho de Israel e dos territórios palestinos.

Além de pedir uma trégua, a resolução francesa exigia "acesso humanitário para as pessoas que precisam", explicou à AFP um diplomata que pediu anonimato.

Crise humanitária
Em Gaza, território com dois milhões de habitantes e submetido a um bloqueio israelense há quase 15 anos, a insegurança se une ao risco de crise humanitária, agravado pela pandemia de coronavírus.

Desde o início dos confrontos se tornou difícil respeitar o distanciamento na Faixa, onde praticamente ninguém usa a máscara e cujo único laboratório de detecção de covid-19 foi destruído por um bombardeio israelense.

Além disso, as escolas que estão sendo utilizadas como abrigos podem virar focos perigosos de coronavírus, advertiu a ONU.

Quase 72.000 pessoas foram obrigadas a abandonar suas residências e 2.500 perderam suas casas em bombardeios, segundo a ONU.

O exército israelense afirma que seus últimos ataques apontaram contra o que chama de "metrô" - túneis subterrâneos que, segundo o Estado hebreu, o movimento islamita Hamas utiliza para transportar munição - e contra as casas de altos comandantes do grupo.

Um jornalista da rádio Al Aqsa, vinculada ao Hamas, morreu em um bombardeio contra sua casa, ao norte do território, informaram as autoridades locais. Ele foi o primeiro profissional da imprensa morto no ciclo de confrontos.

Nos bastidores, a mediação exercida pelo Egito, interlocutor tradicional de Israel e do Hamas, não resultou em nenhum avanço concreto.

Em nove dias, 3.750 foguetes foram lançados a partir de Gaza, mas quase 90% dos projéteis foram interceptados pelo sistema de defesa antiaéreo israelense, segundo exército.

Ao mesmo tempo, na Cisjordânia, a revolta de jovens palestinos contra a ocupação israelense, uma das mais violentas da última década, deixou 24 mortos desde 10 de maio.

O conflito em Gaza começou em 10 de maio, quando o Hamas lançou foguetes contra Israel em "solidariedade" aos manifestantes palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental.

A violência teve origem na ameaça de expulsão de famílias palestinas a favor de colonos israelenses em um bairro palestino de Jerusalém Oriental, ocupado por Israel durante mais de 50 anos.

O último grande confronto entre Israel e o Hamas aconteceu em 2014. O conflito de 51 dias devastou a Faixa de Gaza e provocou as mortes de pelo menos 2.251 palestinos, a maioria civis, e de 74 israelenses, quase todos soldados.