An US Air Force aircraft takes off from the airport in Kabul on August 30, 2021. - Rockets were fired at Kabul's airport on August 30 where US troops were racing to complete their withdrawal from Afghanistan and evacuate allies under the threat of Islamic State group attacks. (Photo by Aamir QURESHI / AFP)AFP
Publicado 30/08/2021 20:15 | Atualizado 30/08/2021 20:15
O último soldado americano se retirou do Afeganistão, anunciou o Pentágono nesta segunda-feira (30), deixando o país nas mãos dos talibãs depois de uma guerra de 20 anos. Acompanhando este momento histórico, tiros foram ouvidos em Cabul na madrugada, depois que o exército americano confirmou que seus últimos soldados saíram do país da Ásia central.

Jornalistas da AFP na cidade ouviram tiros de comemoração em diferentes postos de controle talibãs, assim como a celebração dos combatentes em blitzes na zona verde.

"Fizemos história", comemorou um dirigente talibã após a saída das forças americanas.

"Os 20 anos de ocupação do Afeganistão pelos Estados Unidos e pela Otan acabaram esta noite", declarou Anas Haqqani, dirigente do movimento islamita, no Twitter.

"Estou muito contente após 20 anos de jihad, sacrifícios e dificuldades, de ter a satisfação de ver estes momentos históricos", acrescentou.

"O último avião (de transporte militar) C-17 decolou do aeroporto de Cabul em 30 de agosto" às 16h29 de Brasília, pouco antes da meia-noite em Cabul, declarou o general Kenneth McKenzie, que dirige o Comando Central dos Estados Unidos, órgão responsável pelas operações militares no Afeganistão em coletiva de imprensa em Washington.

O embaixador dos Estados Unidos e um general foram os últimos americanos a embarcar no voo final de retirada do Afeganistão, informou o Pentágono.

"A bordo do último avião estava o general Chris Donahue", disse o general McKenzie, chefe do Comando Central. "Estava acompanhado do embaixador Ross Wilson".

A retirada militar dos Estados Unidos terminou antes do prazo final de 31 de agosto, data limite fixada pelo presidente Joe Biden para pôr fim à presença das forças armadas americanas no país.

"Embora a evacuação militar tenha sido concluída, a missão diplomática continua para assegurar (a saída de) mais cidadãos americanos e afegãos elegíveis que queiram ir embora", acrescentou o chefe do Comando Central americano.

O Pentágono admitiu nesta segunda não ter conseguido retirar tantas pessoas do Afeganistão quanto queria antes da saída de suas últimas tropas de Cabul.

"Não evacuamos todos os que queríamos", disse o general McKenzie, destacando que as evacuações foram concluídas "umas 12 horas" antes da retirada final, mas que as forças americanas no terreno estiveram prontas para tirar do país qualquer um que pudesse ter chegado ao aeroporto "até o último minuto".
Gigantesca ponte aérea
"Desde 14 de agosto, durante um período de 18 dias, aviões dos Estados Unidos e seus aliados evacuaram mais de 123.000 civis do Aeroporto Internacional Hami Karzai", disse também o general McKenzie.

Estas arriscadas operações foram marcadas por um atentado suicida em 26 de agosto, cometido pelo braço local do grupo Estado Islâmico, que deixou mais de cem mortos, entre eles 13 militares americanos.

As forças americanas entraram no Afeganistão em 7 de outubro de 2001 para tirar os talibãs do poder devido à sua recusa de entregar o então líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, após os atentados de 11 de setembro daquele ano nos Estados Unidos.

Duas décadas depois, os talibãs se beneficiaram da retirada progressiva dos Estados Unidos nos últimos meses e da derrocada das forças de segurança afegãs para entrar em Cabul em 15 de agosto e retomar o poder após uma rápida ofensiva militar antecipada por Washington.

A volta dos islamitas ao poder obrigou os ocidentais a evacuarem precipitadamente do aeroporto de Cabul seus cidadãos e afegãos que podiam sofrer represálias dos talibãs, especialmente por terem trabalhado para as forças estrangeiras.

Último dia
Vários foguetes foram disparados nesta segunda contra o aeroporto de Cabul antes da retirada americana.

O grupo jihadista Estado Islâmico do Khorasan (EI-K) reivindicou a autoria destes ataques. "Os soldados do califado atacaram o aeroporto internacional de Cabul com seis foguetes", destacou o grupo em um comunicado.

Pela manhã, funcionários da AFP em Cabul ouviram o ruído de foguetes sobrevoando a capital afegã, sem poder na ocasião determinar sua procedência, nem seu alvo.

Ajuda médica da OMS
Um avião com ajuda médica da Organização Mundial da Saúde (OMS) aterrissou nesta segunda-feira no Afeganistão, o primeiro desde que o país voltou ao controle dos talibãs.

Em um comunicado, a OMS informou que o avião, fornecido pelo governo do Paquistão, chegou a Mazar-i-Sharif procedente de Dubai com 12,5 toneladas de medicamentos e material médico a bordo.

Durante a guerra no Afeganistão, os Estados Unidos foram acusados de matar civis em seus ataques aéreos, um dos motivos que os levaram a perder apoio local.

Nos últimos anos, o braço do EI no Afeganistão e no Paquistão executou alguns dos piores ataques nestes países, massacrando civis em mesquitas, praças, escolas e até hospitais.

Embora tanto os talibãs quanto o EI sejam movimentos sunitas radicais, os dois mantêm uma profunda inimizade e reivindicam ser os verdadeiros defensores da Jihad (guerra santa islâmica).

O atentado de quinta-feira, o golpe mais mortal contra os Estados Unidos no Afeganistão desde 2011, forçou os talibãs e as forças americanas a cooperarem para proteger o aeroporto.
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