Publicado 20/09/2021 19:10
Contra o desgaste internacional, o Itamaraty quer que o presidente Jair Bolsonaro divulgue uma agenda positiva ao discursar amanhã na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas. Uma das medidas que diplomatas tentam fazer o presidente anunciar é a doação de vacinas contra a covid-19 para nações da América Latina em piores condições de combate à pandemia, como Paraguai e Haiti, segundo assessores que participam da elaboração do discurso.
Bolsonaro entrou neste domingo, 19, pela porta dos fundos do hotel onde está hospedado, em Nova York, enquanto poucos manifestantes contrários o aguardavam com faixas na entrada principal. Não havia apoiadores no local. Em 2019, última vez que esteve na cidade, Bolsonaro encontrou manifestantes a favor e contra seu governo. Na ocasião, entrou pela porta da frente do mesmo hotel.
Na sua primeira participação na ONU, há dois anos, Bolsonaro estava acompanhado pelo então chanceler Ernesto Araújo e fincou os pés nas bases do bolsonarismo em seu discurso. Desta vez, com o Itamaraty sob comando do chanceler Carlos França e o democrata Joe Biden na presidência americana, diplomatas tentam convencer Bolsonaro a centrar seu discurso em temas alinhados à agenda de aliados americanos, europeus e da própria ONU.
Os três pilares do discurso serão a diplomacia da saúde, o combate ao desmatamento e a recuperação econômica. Desde o início do seu governo, Bolsonaro foi retratado na imprensa internacional como um líder que ameaça a democracia, os direitos humanos e o meio ambiente. Na pandemia, foi descrito como um negacionista. Apesar de questionar a eficácia das vacinas, Bolsonaro deve comemorar na frente de líderes internacionais que o País avançou na vacinação mais do que muitas nações ricas e que poderá se tornar um "hub regional" de produção de imunizantes.
Integrantes do governo, no entanto, têm dito que França quer um discurso "arroz com feijão", sem apelo à base. Em live nas redes sociais na quinta-feira, 16, Bolsonaro disse que defenderá na ONU o marco temporal das terras indígenas, o que assustou diplomatas, que dizem que a fala despertará forte reação negativa.
Pressionado pelo governo Biden para se comprometer com o fim do desmatamento ilegal, Bolsonaro deve falar que começou a cumprir os compromissos estabelecidos na Cúpula de Líderes para o Clima, organizada pela Casa Branca em abril. Está previsto que ele diga que em julho e agosto deste ano houve redução no desmatamento da Amazônia e que o orçamento do Ibama foi duplicado, com o anúncio de contratação de 700 servidores para trabalhar na fiscalização ambiental.
Parte da comitiva, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, deve se reunir com o enviado especial do clima de Biden, John Kerry. Na semana passada, Kerry deixou claro que os americanos não vão anunciar dinheiro para ajudar na preservação da Amazônia, mas querem servir de ponte para alavancar recursos do setor privado.
Pela primeira vez, Biden e Bolsonaro estarão no mesmo evento, mas não haverá reunião bilateral. Assessores de Bolsonaro, no entanto, esperam que eles se encontrem no corredor da Assembleia, para que o brasileiro possa ao menos cumprimentar o americano. Bolsonaro terá encontros bilaterais com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e com o presidente da Polônia, Andrzej Duda. Ele também será recebido pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como é tradicional. Em 2019, Bolsonaro não teve nenhum encontro bilateral com líderes mundiais.
Comitiva reúne oito ministros e Eduardo
Na ONU, Bolsonaro está acompanhado por oito ministros: Carlos Alberto França (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Marcelo Queiroga (Saúde), Joaquim Leite (Meio Ambiente), Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Segov), Anderson Torres (Justiça) e Gilson Machado (Turismo). O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e a primeira-dama, Michelle, também viajaram a Nova York. A comitiva é composta ainda pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e pelo secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha
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