Presidente dos Estados Unidos, Joe BidenAFP
Publicado 04/10/2021 17:28
Os Estados Unidos planejam iniciar em breve um diálogo franco com a China sobre o comércio, mas manterão as tarifas por enquanto, anunciou nesta segunda-feira, 4, o governo de Joe Biden, que estima que Pequim tenha violado o acordo assinado em 2020.

A China assumiu compromissos que devem beneficiar algumas indústrias americanas, como a agricultura, que devemos fazer respeitar", afirmará Katherine Tai no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um "think tank" americano com sede em Washington.

"Pretendo ter conversas francas com meu homólogo chinês nos próximos dias", disse Tai, ressaltando que o objetivo "não é agravar as tensões comerciais com a China", mas defender "o máximo possível" os interesses econômicos dos Estados Unidos.

“E isso significa tomar todas as medidas necessárias para nos proteger contra as ondas de danos infligidos ao longo dos anos pela concorrência desleal”, afirmou.

Tai, que foi convidada por Biden em janeiro passado para realizar uma revisão abrangente da relação bilateral, observou que o acordo assinado em janeiro de 2020 entre Trump e o vice-primeiro-ministro e negociador-chefe da China, Liu He, "não respondeu de forma significativa às preocupações fundamentais" dos Estados Unidos sobre as práticas comerciais da China e "seu impacto adverso na economia dos Estados Unidos".

Após oito meses de trabalho, a representante comercial deu poucos detalhes sobre como resolveria esses problemas. Antecipou, no entanto, que Washington decidiu manter as tarifas punitivas impostas pelo governo Trump, de 370 bilhões de dólares em produtos chineses anualmente, ao iniciar um procedimento de isenção para ajudar as pequenas e médias empresas americanas gravemente afetadas por essas sobretaxas.

“Começaremos o processo de eliminação de tarifas específicas. Asseguraremos que a estrutura de fiscalização existente atenda da melhor forma aos nossos interesses econômicos. Manteremos aberta a possibilidade de processos de remoção adicionais conforme justificado”, explicou.

As tarifas, adotadas em retaliação às práticas comerciais chinesas, são criticadas por muitas empresas americanas, algumas das quais têm poucas alternativas aos produtos chineses e, portanto, são obrigadas a pagar esses impostos. No início de agosto, grandes grupos americanos pediram ao governo Biden a redução das tarifas.

Aliados e "abordagem pragmática"
Tai, que até agora fez apenas uma reunião com Liu He, nunca escondeu que esses direitos alfandegários serviram de alavanca nas discussões. Como o governo anterior, a administração de Biden quer enfrentar problemas mais estruturais, como subsídios a empresas estatais chinesas ou "roubo" de propriedade intelectual.

No chamado acordo de "Fase Um", a China se comprometeu a comprar US$ 200 bilhões adicionais em produtos norte-americanos em dois anos, incluindo produtos agrícolas, energéticos e manufaturados, com o objetivo de reduzir o desequilíbrio comercial entre os dois países.

Esse acordo havia permitido uma trégua na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que desacelerou seu crescimento. Tratava-se de reequilibrar o comércio bilateral, antes de uma segunda fase para tratar de problemas estruturais. Tai, que viajará a Paris para discussões na OCDE, espera conseguir o apoio de aliados históricos dos Estados Unidos.

"No centro de nossa estratégia está o compromisso de garantir que trabalhemos com nossos parceiros para criar mercados justos e abertos", prometeu Tai. Ela também destacou que as relações comerciais e econômicas entre as duas maiores potências econômicas do planeta têm “um impacto em todo o mundo e em bilhões de trabalhadores”.

Washington antecipa discussões difíceis com Pequim. Um alto funcionário do governo Biden criticou a "abordagem autoritária" de Pequim e disse que o governo chinês está ignorando às preocupações dos EUA em questões estruturais, como subsídios estatais.

"Sabemos que é improvável que a China faça reformas significativas, pelo menos por enquanto", admitiu o funcionário sob condição de anonimato.

"Precisamos ter uma estratégia que trate a China como ela é, ao invés do que gostaríamos que fosse", disse. "Devemos adotar uma nova abordagem holística e pragmática em nossas relações com a China", concluiu Tai.
Leia mais