Gerusa: incerteza econômica - Acervo Pessoal
Gerusa: incerteza econômicaAcervo Pessoal
Por Gabriel Sobreira

O novo coronavírus tem tirado o sono de muitos brasileiros que se mudaram para Portugal em busca de melhores condições vida. Alguns até consideram que se a solução para o vírus e a crise demorar a chegar, será inevitável ter que regressar para o Brasil. É o caso da carioca Gerusa Vieira de Oliveira, de 30 anos.

Há um ano e três meses em Portugal, Gerusa trocou o medo da violência do Rio, mas atualmente está assustada com a Covid-19, que afeta diretamente o trabalho dela em uma hamburgueria de Lisboa. Isso porque ela não sabe se o ganha-pão vai realmente existir depois da pandemia

"Acordo todos os dias, levanto e não sei se vou ter trabalho ou não. Minha maior preocupação não é se vou pegar o novo coronavírus, mas o desemprego", desabafa Gerusa, que já deu entrada nos documentos para residência fixa em Portugal.

Segundo Gerusa, que é contratada como atendente, a renda (como é chamado o aluguel em Portugal) está cada vez mais elevada. "Se você ganha 700 euros, paga 400 em um quarto", explica ela, que aluga um apartamento com mais dois amigos, sendo que um deles mantém contrato de trabalho, mas o outro está desempregado.

Amigo de Gerusa, o também carioca Bernardo Sá Cunha, 27 anos, está sem trabalho desde que a companhia onde atuava não renovou o contrato. "O principal medo é de como vão ficar os aluguéis, as contas, se vai ficar igual a Itália. Se a pandemia realmente se arrastar por meses, penso em voltar para o Brasil", confessa.

Desespero para quem é imigrante
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O carioca Bernardo Sá Cunha, de 27 anos, é amigo de Gerusa e está sem trabalho desde que a companhia para que ele atuava não renovou o contrato. “O principal medo é de como vão ficar os alugueis, as contas, se vai ficar igual a Itália que dispensaram o pagamento de energia, água. Lisboa o aluguel tem aumentado ultimamente, e está caro”, avalia ele, que ainda consegue se manter por mais algum tempo até essa crise se resolver. “Se realmente isso for se arrastar por meses, penso em voltar para o Brasil pelo menos por um tempo até quando as coisas se acertarem e então volto para cá”, vislumbra ele, que deu entrada na manifestação de interesse de residência no SEF e aguarda entrevista..
O professor de educação física Airis Manoel Silva, 30 anos, morava em Lisboa, há mais de um ano. Ele está irregular, mas já fez o pedido de manifestação de interesse de residência desde julho e ainda não foi aceito. Ele está sem trabalho desde o último dia 13 de março e entregou o quarto que alugava por 450 euros para morar na casa do namorado. “Atualmente com esse surto de coronavirus que veio afetando o mundo todo. Se isso continuar por muito tempo não vou ter dinheiro para me manter aqui, até porque as rendas (aluguéis) em Lisboa estão muito caras. e eu não tenho quem me mantenha aqui a não ser eu mesmo. Torço para que tudo volte ao normal, até porque eu quero continuar aqui”, frisa ele.
“É um desespero muito grande para quem é imigrante, ficar sem trabalho e ter que pagar tantas contas tão caras”, completa Gerusa. Com o euro na faixa dos R$ 5,54 (quinta-feira), ela diz que é inviável pedir ajuda à família e acaba fazendo com que se leve em considerarão voltar para o Rio. Mas isso, só em último caso. “Se essa crise durar tanto tempo, não vou ter como me manter. No ruim de tudo você paga uma passagem 12 vezes no cartão e isso uma passagem a sua família pode pagar. Hoje não penso em voltar, só no caso de eu não conseguir me manter. E é melhor estar perto da sua família num momento desses do que nada”, pondera ela.
Saúde tem, mas a conta chega
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Quando questionada sobre como funciona o sistema público de saúde para quem está irregular, Gerusa explica que atende apenas emergência. “Mas a conta vem para a sua casa depois. Você paga um valor bem mais alto. Enquanto eles tem um sistema tipo o SUS e quem tem a carteirinha paga quatro euros, nós pagamos 18. Atender eles atendem, são obrigado, só que o valor é caro”, conta ela.
“Para ter essa carteirinha, você precisa ter o título de residência. Em alguns lugares consegue fazer sem, ou so com a marcação, mas é tipo SUS, tem que chegar muito cedo, ficar em uma fila enorme para conseguir (ser atendido), de lá vai ser encaminhado para um medico da família, que é o medico da sua zona e a pessoa que vai cuidar de você. Qualquer problema que tiver só pode ir nesse médico para ele encaminhar você para fazer outro exame. Mas em resumo, nada é de graça”, reforça. “E os testes do coronavírus só estão sendo feitos por quem está no grupo de risco, (os mais velhos e quem tem problema de saúde)”, completa.
Pelas ruas de Lisboa
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Nascido em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, João Gabriel Gomes está em Portugal há mais de dois anos. Ele mora em Lisboa, que segundo ele, conta com mais de mil casos de contaminados por novo coronavírus. O país soma mais de 3500 pessoas infectadas e 60 mortes. João possui título de residência e não está irregular. “Estou de quarentena, é um direito do trabalhador que deveria ser oferecido por todas as empresas, mas nem sempre acontece e acaba se tornando um privilegio. A faculdade que trabalho a principio continua e vai continuar pagando o salário até que isso passe”, afirma ele, que trabalha na área de TI.
"A gente vê pessoas meio tensas tomando cuidados, idosos aqui não estão se cuidando, no mercado existe um controle de manter um metro de distancia, não entram muitas pessoas, os ônibus e metros estão liberados, não precisam pagar, e não tem muitas pessoas nas ruas como costuma ter”, explica ele. “95% das pessoas que trabalham aqui em Portugal são imigrantes e a maioria é brasileira. Muitos foram mandados embora ou dispensados, acho difícil alguém ofertar emprego caso um desempregado procure”, lamenta.
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