Por bruno.dutra

Cidade do Vaticano - O papa Francisco decidiu nesta segunda-feira manter em funcionamento o Instituto para as Obras de Religião (IOR), o Banco do Vaticano, envolvido no passado em operações de lavagem de dinheiro, dando preferência a uma solução conservadora e prudente invés do fechamento do mesmo.

Por ocasião da eleição de Francisco, a restruturação do IOR foi considerado um dos principais temas da reforma das instituições do Vaticano. Para muitos, principalmente na Itália, o IOR era o símbolo da obscuridade, da lavagem de dinheiro, da cumplicidade involuntária ou não do Vaticano com organizações criminosas.

A decisão do pontífice confirma, assim, a opção que parecia mais plausível, a de preservar a instituição, mas com um tamanho reduzido e melhor controlada, ao invés de criar um banco ético ou inclusive fechar o Instituto para as Obras de Religião.

"O Santo Padre aprovou uma proposta sobre o futuro do IOR, reafirmando a importância de sua missão pelo bem da Igreja, a Santa Sé e o Estado do Vaticano. O IOR vai continuar servindo com prudência e fornecendo serviços especializados à Igreja Católica em todo o mundo", afirma um comunicado.

O porta-voz do IOR, Max Hohenberg, elogiou "um grande reconhecimento" pelo papa da "validade de nossa missão de serviço e de trabalho cumprido durante os doze últimos meses".

O pontífice argentino criticou em várias ocasiões a instituição, apelidado erroneamente de "banco do papa", enquanto que não se trata de um estabelecimento de crédito.

Questionado em julho de 2013, ele afirmou que não tinha uma ideia pré-concebida. "Eu não sei como o IOR irá acabar. Alguns dizem que seria melhor que ele fosse um banco, já outros consideram que deveria ser um fundo de ajuda, e outros mais defendem o seu fechamento. Eu escuto todas essas vozes. Eu não sei o que acontecerá".

Santo Padre não tem conta no banco

Estas declarações seguiram-se a observações mais ofensivas: as administrações "são necessárias, mas até certo ponto", lançou aos funcionários do IOR, antes de soltar a sua famosa piada: "o Santo Padre não tem conta no banco".

O papa argentino parece ter escolhido a opção que parecia a mais provável: a manutenção da instituição, só que com um maior controlo, bem gerida, atualizada, integrada às novas estruturas em fase de finalização.

Neste contexto, o funcionamento econômico do Vaticano começou a ser profundamente revisto, o que aumenta as tensões. O presidente do IOR, o alemão Ernst von Freyberg, nomeado por Bento XVI há 14 meses, poderá "finalizar o plano", que será apresentado ao Conselho dos Cardeais (G8) e ao novo Conselho da Economia.

O cardeal australiano George Pell, que dirige o novo "secretariado" (ministério) da Economia, confirmou a importância de um "alinhamento" do quadro legal do Vaticano "com as melhores práticas internacionais".

As prioridades do novo IOR foram listadas por Max Hohenberg: 1- completar a análise realizada pela empresa de consultoria americana, Promontory, de todas as contas até o verão; 2- trabalhar no sentido de uma melhor integração do IOR com as diversas entidades do Vaticano e 3- introduzir melhorias operacionais.

Desde que chegou ao Vaticano, Francisco se comprometeu a realizar uma reforma do IOR, uma instituição afetada por muitos escândalos, incluindo lavagem de dinheiro da máfia. O papa solicitou a especialistas e comissões que estudassem a melhor forma de transformá-lo em uma instituição mais transparente.

As organizações criminosas aproveitavam do anonimato para lavar seus fundos. Em julho passado, o papa tinha acelerado a aquisição do banco demitindo dois de seus dirigentes.

O IOR é o canal através do qual transitam os fundos das congregações ativas no mundo todo (escolas, hospitais, campos de refugiados, etc). As instituições católicas, os clérigos, funcionários ou ex-funcionários do Vaticano, as embaixadas e diplomatas podem ter contas na instituição.

Em janeiro, as contas de 55% dos clientes (cerca de 10.000) foram analisadas pela Promotory. Os clientes que não se enquadraram nessas categorias foram fechados. No final de dezembro de 2012, os fundos dos clientes, no montante de 6,3 bilhões de euros, foram geridas pelo IOR, que tinha um patrimônio líquido de 769 bilhões de euros.

Você pode gostar