Por marta.valim

Investidores estão antecipando uma desvalorização de 10% do peso argentino depois que o país deu calote pela segunda vez em 13 anos na semana passada. Os non-deliverable forwards (NDF) que mostram as expectativas dos operadores para o peso nos próximos 90 dias caíram para 9,15 por dólar em 1º de agosto, o menor valor em seis meses, depois que o país não cumpriu o prazo até o dia 30 de julho para pagar US$ 539 milhões em juros de títulos reestruturados. No mercado de pronta entrega, onde o nível do peso é gerenciado pelo Banco Central, a moeda operou a 8,2357 por dólar.

A JPMorgan Chase Co. diz que a Argentina poderia agir para reforçar o peso caso ele se desvalorize pela disputa do país com os hedge funds liderados pela Elliott Management Corp. Embora a Argentina tenha o dinheiro para pagar os juros que deve, a decisão de um juiz dos EUA proíbe o país de transferir os fundos aos detentores dos títulos antes de chegar a um acordo com os chamados credores holdouts, favorecidos por uma decisão que ordena o pagamento completo da dívida não paga de 2001. Funcionários argentinos dizem que os demandantes rejeitaram todas as ofertas para um acordo. O juiz do caso ordenou mais negociações.

“Tradicionalmente, os problemas de dívida se correlacionam muito com as desvalorizações”, disse Vladimir Werning, economista da JPMorgan, em relatório do dia 31 de julho. “A posição do governo no conflito com os holdouts aumenta os riscos tanto para a estabilidade financeira doméstica quanto para o desempenho macroeconômico caso não se chegue a um acordo com os holdouts”.

Provavelmente o governo apoie mais intensamente o peso para ajudar a reforçar seu argumento de que o calote é resultado de um impasse legal e não da falta de fundos, segundo a JPMorgan. Isso poderia significar maiores controles de capital, aumento das taxas de juros ou adiamento das importações, escreveu Werning.

Ordem de negociar

Em audiência realizada no dia 1º de agosto, o juiz dos EUA que supervisiona a batalha legal com os hedge funds, que rejeitaram ofertas de US$ 0,30 por dólar em reestruturações de dívida em 2005 e 2010, ordenou às partes que continuassem negociando. A Argentina negociou durante quatro semanas com um mediador nomeado pelo tribunal e dois dias cara a cara com os holdouts, sem chegar a um acordo.

Embora a dívida argentina tenha perdido em média 13% desde o calote, os títulos de referência com vencimento em 2033 continuam operando perto do seu valor mais alto em três anos, a cerca de US$ 0,85 por dólar, pois os investidores ainda estão confiantes de que a disputa será resolvida. Em 31 de julho, o ministro da Economia, Axel Kicillof, disse que o governo não se oporia a soluções que envolvessem terceiros. Isso permitiria ao país contornar um requerimento de estender quaisquer ofertas feitas à Elliott aos investidores que concordaram com as reestruturações de 2005 e 2010.

Desvalorização em janeiro

Em janeiro, a Argentina desvalorizou sua moeda em 19%, enquanto lutava por conservar reservas em dólares em meio a uma inflação anual de cerca de 30%. Nos doze meses anteriores à desvalorização, o Banco Central da Argentina perdeu em média US$ 1 bilhão das reservas por mês. Desde janeiro, o peso se desvalorizou mais 2,7%. A moeda teve sua maior queda em 11 semanas no dia 1º de agosto, quando recuou 0,3%, para 8,2357 por dólar.

Nos mercados não oficiais de moedas, onde a compra de dólares não é limitada pelo governo, o peso é vendido a 12,8 por dólar, segundo dados compilados pela Ambito.com.

Os argentinos verão os preços dos títulos como uma indicação de confiança numa resolução do calote, escreveu Werning, da JPMorgan. Se os preços dos títulos caírem abaixo de US$ 0,70 por dólar, “os argentinos poderiam começar a perder a fé na narrativa oficial que enfatiza perspectivas de estabilidade doméstica”, disse Werning.

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