Por marta.valim

Nos anos 1950, o Japão ajudou o Brasil a estabelecer setores como o de siderurgia e iniciou as principais compras de minério de ferro brasileiro. Agora o país asiático busca reconquistar influência na maior economia da América Latina, onde a China é o parceiro comercial número 1.

Durante a visita do primeiro-ministro Shinzo Abe ao Brasil, a primeira de um líder japonês em uma década, o Japão assinou acordos para os segmentos de energia, alimentos e saúde. Abe quer fortalecer os laços com o Brasil, onde vivem cerca de 1,6 milhão de descendentes de japoneses, em um momento em que exorta empresas de seu país a buscarem mais negócios fora de seu mercado doméstico.

Altos representantes da Toyota Motor Corp., da Nippon Steel Sumitomo Metal Corp. e da Sumitomo Mitsui Financial Group Inc. estavam entre os executivos que acompanharam Abe em Brasília e São Paulo, os destinos finais de uma viagem de nove dias pela América Latina e pelo Caribe. O Brasil é importante para o Japão porque possui setores como o de infraestrutura e porque é uma jurisdição segura, disse Yutaka Kase, presidente da fornecedora de commodity Sojitz Corp., com sede em Tóquio.

“Estão colocadas as condições” para investir, disse ele durante uma entrevista em São Paulo, onde participou da delegação empresarial que viajou com Abe. “É claro que há muitas coisas para resolver, mas este é um país com mais potencial”.

A Sojitz, que em 2011 uniu-se a siderúrgicas japonesas e sul-coreanas para comprar uma participação de 15% na produtora de nióbio Cia. Brasileira de Metalurgia Mineração por US$ 1,95 bilhão, agora está atrás de oportunidades nos setores de agricultura e logística no Brasil, disse Kase.

‘Tempo perdido’

Nos últimos anos o Japão perdeu terreno no Brasil em comparação com empresas europeias e sul-coreanas em setores como os de fabricação de carros e de eletrônicos, disse Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil e membro do conselho da processadora de alimentos BRF SA. Combinadas, as quatro fabricantes de automóveis japonesas que operam no Brasil produzem menos carros que a Fiat SpA, a Volkswagen AG ou a General Motors Co., disse ele.

“O Japão perdeu tempo não apenas em relação à China, mas também em relação a outros países”, disse ele. “As empresas coreanas e chinesas estão liderando os mercados de eletrônicos na região”.

A primeira visita de Abe ao Brasil coincide com uma desaceleração da economia e com uma deterioração da confiança dos investidores. Economistas consultados pela Bloomberg previram que o produto interno bruto do Brasil crescerá 1,3% neste ano após uma expansão de 2,5% em 2013. A economia do Japão deverá crescer 1,5%.

Posição da Toyota

Os custos brasileiros, incluindo os de energia, são muito altos e o país precisa realizar uma urgente reforma tributária para reconquistar competitividade em meio a um crescimento mais lento, segundo o presidente da Toyota, Takeshi Uchiyamada.

“Apesar de eu ter acabado de dizer que acreditamos que o Brasil é um mercado que deverá crescer, seria difícil para nossa empresa continuar investindo se a economia se mantiver estagnada, por isso monitoraremos o crescimento do país de perto”, disse ele, em entrevista em São Paulo.

Enquanto o comércio do Brasil com o Japão era duas vezes maior do que com a China em 2000, no ano passado as trocas comerciais com os japoneses representaram menos de um quinto do recorde de US$ 83 bilhões registrado com os chineses. As aquisições de minério de ferro e soja ajudaram a China a se tornar o maior destino de exportação do Brasil.

O Brasil ainda pode lucrar com a “enorme” capacidade de transferência de tecnologia das empresas japonesas, disse Wilson Brumer, ex-CEO da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA., a Usiminas, empresa com sede em Belo Horizonte estabelecida em 1958 depois que o Brasil fechou um acordo de criação de uma joint venture com o Japão.

“O Japão e a China são dois parceiros para os quais o Brasil pode ter abordagens diferentes”, disse Brumer, em entrevista. “Ainda existe um grande espaço a ser explorado entre o Brasil e o Japão, principalmente entre empresas de médio porte”.

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