Por monica.lima

Criticado pelos riscos de contaminação do solo, o desenvolvimento de reservas não convencionais de petróleo e gás natural nos Estados Unidos começa a chamar a atenção de autoridades também pelo excesso de gás queimado em poços produtores no país. O problema levou a Dakota do Norte, segundo maior produtor de petróleo do país, a ameaçar com o controle da produção de empresas que não tomarem medidas para reduzir o volume de gás queimado nos poços de produção. A organização não governamental Western Values Project (WVP) estima que o desperdício gerou, em 2013, perdas de pelo menos de US$ 500 milhões em receita para as petroleiras e impostos.

As últimas estatísticas globais sobre o tema apontam que, entre 2007 e 2011, o volume de gás queimado pela indústria petrolífera norte-americana cresceu 222%, levando o país a saltar da 13ª para a 5ª posição entre os maiores queimadores do combustível do mundo, liderada pela Rússia, a maior produtora mundial de gás. Os dados são compilados pela Parceria Global para a Redução da Queima de Gás (GGFR, na sigla em inglês), esforço do Banco Mundial para reduzir as emissões de gases do efeito estufa provocados pela queima de gás natural em plataformas e campos terrestres de petróleo.

O número não reflete todos os impactos da explosão recente no desenvolvimento de reservas não convencionais no país: dados oficiais deste ano mostram que, em 2013, foram queimados ou ventilados no ambiente 4,9 milhões de pés cúbicos de gás apenas em terras federais ou indígenas nos Estados Unidos, um crescimento de 2.196% com relação a 2011 — estatística que não considera a produção em propriedades privadas, onde se dá grande parte da expansão da produção. A queima de gás é resultado do crescimento da produção de petróleo em regiões que ainda não têm infraestrutura para o aproveitamento do combustível.

Pressões ambientais e crescentes queixas de moradores das áreas produtoras levaram as autoridades a agir. Na Dakota do Norte, o departamento responsável por fiscalizar a indústria de óleo e gás anunciou, há um mês, nova regulamentação sobre o tema. O objetivo é reduzir, até 2020, os volumes queimados a 10% da produção — hoje, aproximadamente 25% da produção local de gás é desperdiçada. O estado determina a implantação, pelas petroleiras, de planos de captura e aproveitamento de gás natural, sob o risco da imposição de restrições à produção de petróleo.

Modelo semelhante foi implantado no Brasil no final da década passada, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) passou a restringir os volumes de produção em plataformas onde não há planos de aproveitamento do gás. Na metade da década, o setor petrolífero brasileiro atingiu um pico de queima de gás, chamando a atenção da GGFR. Atualmente, pouco mais de 5% da produção é desperdiçada no país.

Localizada na fronteira com o Canadá, a Dakota do Norte despontou como grande produtor de petróleo após o início da exploração da jazida Bakken, que se tornou possível com a difusão da tecnologia do fraturamento hidráulico do subsolo. Este ano, a produção no estado ultrapassou pela primeira vez a marca de 1 milhão de barris por dia, o equivalente à metade do volume extraído no Brasil. Especialistas reclamam que a busca pela redução da dependência energética norte-americana permitiu o crescimento acelerado da produção sem grande controle de órgãos responsáveis pela fiscalização.

O problema é maior na Dakota do Norte, mas também atinge regiões produtoras no Novo México e no Colorado, e chama a atenção também de parlamentares e do governo federal. As regras implantadas em 2013 pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) começam a ser contestadas por especialistas e, em março, senadores republicanos protocolaram um projeto para agilizar o processo de permissão para a construção de novos gasodutos no país.

Com base em dados oficiais de produção, a WVP calcula que o gás desperdiçado em projetos localizados em terras federais ou indígenas custou, em 2013, US$ 500 milhões em lucros e impostos não arrecadados. “Uma regra forte poderia não apenas assegurar que os maus empresários deixem de levar vantagem no mercado, como incentivar a inovação e o barateamento de tecnologias de controle de emissões”, diz a entidade. “A indústria deve se mobilizar para adotar essas tecnologias, reduzindo o desperdício de gás e o custo deste desperdício para os contribuintes americanos.”

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