Por marta.valim

As armas se calaram nesta terça-feira após quase um mês de guerra na Faixa de Gaza,  graças a um cessar-fogo acertado entre Israel e o Hamas e de uma retirada total das tropas terrestres israelenses.

O cessar-fogo obtido com a mediação do Egito e dos Estados Unidos entrou em vigor às 8H00 (2H00 no horário de Brasília), a priori por 72 horas. Discussões já estão encaminhadas para uma paz duradoura entre as partes em conflito.

Oito horas após o início da trégua, o devastado território palestino vive o dia mais tranquilo desde o início, em 8 de julho, da ofensiva israelense que já matou mais de 1.900 palestinos, incluindo pelo menos 408 crianças e adolescentes.

"Todas as nossas forças estão fora de Gaza", anunciou o general Moti Almoz à rádio militar.

Todas as tréguas anteriores fracassaram até o momento, mas a retirada dos soldados israelenses deve promover o respeito do cessar-fogo, mesmo que o exército tenha tomado o cuidado de garantir que responderia "a qualquer ataque".

Alguns bancos reabriram por poucas horas em Gaza. Os serviços de emergência conseguiram alcançar áreas bloqueadas pelos combates e encontraram dois corpos de vítimas que teriam morrido na véspera. O medo agora é o da descoberta de novos corpos que se somarão a um balanço humano exorbitante.

Em carros ou carroças puxadas por burros, milhares de palestinos voltam para casa, para ver o que ainda resta de pé. Após as bombas, resta o choque pela devastação.

Na área de Beit Hanoun (norte), Rafat al-Masri, um pai de cinco filhos, encontrou apenas ruínas. "Trabalhei 40 anos para construir esta casa. Ela foi completamente destruída. Nada está inteiro, nada de paredes, nada de comida. Tudo foi abaixo".

4 a 6 bilhões de dólares em prejuízos

A guerra na Faixa de Gaza provocou danos calculados entre quatro bilhões e seis bilhões de dólares, segundo o vice-ministro palestino da Economia, Taysir Amro, que também anunciou uma reunião de países doadores na Noruega em setembro.

Amro explicou à AFP que o valor não leva em consideração os "danos diretos que afetam a economia de Gaza e pode aumentar após o cálculo dos efeitos indiretos sobre a população".

Um balanço mais preciso será elaborado quando a calma retornar ao território palestino superpovoado e submetido a um bloqueio, onde quase 500.000 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas.

Após os ataques aéreos iniciados em 8 de julho, as forças terrestres israelenses entraram no dia 17 no território para fazer parar os disparos de foguetes do Hamas e desmantelar a rede de túneis utilizada pelos islamitas.

O exército concluiu segunda-feira à noite sua missão de destruição de túneis.

Trégua duradoura

No total, a ofensiva israelense matou 1.867 palestinos, em sua maioria civis. Israel perdeu 64 soldados e três civis.

As imagens dos bombardeios israelenses colocaram o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sob intensa pressão internacional para acabar com a operação na Faixa de Gaza, um território de 362 quilômetros quadrados, superpovoado e de extrema pobreza.

A trégua iniciada nesta terça-feira foi negociada com mediação do Egito, com a presença no Cairo de uma delegação palestina que contava com membros da Autoridade Palestina, presidida por Mahmud Abbas, e com representantes dos grupos islamitas Hamas e Jihad Islâmica. Israel não enviou representantes.

"Negociações mais amplas" são necessárias, considerou uma autoridade egípcia.

Por enquanto, o acordo de cessar-fogo "não prevê o retorno à calma", lembrou Yigal Palmor, porta-voz do ministério israelense das Relações exteriores. O ministro da Inteligência, Yuval Steinitz, expressou por sua vez "ceticismo. O Hamas já violou seis tréguas anteriores. Espero que desta vez seja diferente".

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, celebrou a trégua e pediu as duas partes que iniciem negociações para acabar com o conflito.

O Hamas exige o levantamento do bloqueio israelense que sufoca a economia de Gaza. Israel, por sua vez, insiste em sua segurança. E uma exigência recente promete ser um grande obstáculo: a reconstrução da Faixa de Gaza está ligada à sua desmilitarização.

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