Por monica.lima
Não há solução milagrosa contra o terror, reconheceu ontem o coordenador da luta contra o terrorismo na União Europeia (UE), Gilles de Kerchove. “Não é possível impedir um novo atentado", completou. Kerchove afirmou que "as prisões são incubadoras de radicalização em massa". Por isso, segundo ele, é preciso trabalhar “em todos os aspectos das políticas" contra o terrorismo, não apenas no que se refere à segurança, mas também à prevenção.
Amedy Coulibaly, o terrorista que assassinou uma policial e quatro reféns no mercado kosher de Paris, e que acabou sendo morto pelas forças de segurança, acreditava que a prisão era "a melhor escola do crime". Ele disse isso em 2008, em entrevista ao jornal “Le Monde”, que publicou uma reportagem sobre as condições das prisões francesas. "Pode-se deparar com corsos, bascos, muçulmanos, assaltantes, pequenos vendedores de entorpecentes, grandes traficantes, assassinos", disse à época, sob condição de anonimato.
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O diretor da Europol, Rob Wainwright, calculou ontem, em Londres, que até 5 mil europeus partiram para se juntar a grupos terroristas em países como a Síria e o Iraque. O maior temor dos governos europeus é de que militantes deste exército de jihadistas retornem aos seus países de origem e cometam atentados, como aconteceu em Paris. Um dos dois irmãos que atacou o semanário há exatamente uma semana havia combatido no Iêmen e se dizia do grupo al-Qaeda naquele país. “É um grande número de pessoas, sobretudo jovens, com o potencial ou a intenção de voltar e realizar atentados", completou ele.
Ontem, a Assembleia Nacional, Câmara baixa do Parlamento francês, aprovou, por ampla maioria, a manutenção das operações militares no Iraque no combate à organização extremista Estado Islâmico (EI). O premiê francês, Manuel Valls, pediu aos parlamentares a prorrogação da intervenção militar francesa "porque nossa missão não terminou" e "o que temos pela frente é uma guerra contra o terrorismo, o jihadismo e o islamismo radical". Seu acalorado discurso foi muito aplaudido. Ele ressaltou, no entanto, que "a França não está em guerra contra o Islã e os muçulmanos". Valls afirmou não ser favorável a adotar medidas que ponham em risco o Estado de direito. Nos últimos dias, começaram a se erguer vozes na França contrárias a uma eventual versão francesa do "Ato Patriota", o conjunto de leis aprovado nos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, com o objetivo de intensificar a segurança no país. As leis foram muito criticadas por afetar os direitos civis.
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"Nunca medidas de exceção anulariam o princípio do direito e dos valores", disse o premiê francês, que durante a homenagem às vítimas, ao lado do presidente François Hollande, se emocionou, chegando às lágrimas."A melhor resposta ao terrorismo é o direito, é a democracia, é a liberdade, é o povo francês", afirmou.
França e Israel enterraram ontem várias das 17 vítimas dos atentados de Paris. Na homenagem aos três policiais mortos, um deles muçulmano, o presidente François Hollande afirmou que eles "morreram para que nós possamos viver livres". Em Jerusalém, milhares de pessoas participaram do enterro dos quatro homens mortos no mercado kasher de Paris: Yohav Hattab, Yohan Cohen, Philippe Braham e François-Michel Saada.
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Em Berlim, milhares de pessoas participaram de uma manifestação contra a islamofobia, organizada por entidades muçulmanas, e que contou com a presença da chanceler Angela Merkel, e do chefe de Estado, o presidente Joachin Gauck. Diante de um mar de bandeiras francesas, alemãs e israelenses, autoridades muçulmanas depositaram uma coroa de flores brancas com a inscrição "Terrorismo: não em nosso nome", em frente à embaixada da França. Nos cartazes, podia-se ler "Sou muçulmano, quero viver, e não morrer", e "muçulmanos alemães solidários com as vítimas do islamismo em Paris, na Nigéria e o mundo inteiro. Contra o antissemitismo e o ódio".