A corrida armamentista na Ásia ganhou fôlego com o anúncio de que o orçamento militar da China aumentará em torno de 10% este ano. A informação sobre este aumento foi fornecida por Fu Ying, diplomata e porta-voz do da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão legislador do país, cujo 12º encontro começa hoje. Esse aumento nos gastos da defesa é superior ao ritmo de crescimento da economia chinesa. O orçamento militar chinês vai alcançar a cifra de US$ 145 bilhões. A China é o segundo país que mais gasta em defesa, mas mesmo assim ainda fica bem atrás dos Estados Unidos, de longe o recordista mundial em despesas militares. Para o ano fiscal de 2016, o presidente americano Barack Obama solicitou um orçamento de US$ 585 bilhões. O anúncio formal sobre o orçamento chinês será feito hoje na abertura da reunião da ANP.
O Exército de Libertação Popular é o maior do mundo, com 2,3 milhões de soldados. A nova alta de dois dígitos demonstra as ambições militares de Pequim. Com o objetivo de confirmar seu status de potência na cena política asiática e mundial, Pequim vem aumentando de forma acelerada seus gastos militares, que já cresceram 11,2% em 2012 e 10,7% em 2013. No ano passado, o aumento foi de 12,2%, alcançando US$ 130 bilhões. A segunda maior economia do planeta vai, assim, aumentar os investimentos em armamentos high-tech como submarinos, jatos e satélites militares. “Comparado com as grandes potências, o caminho da modernização da defesa da China é mais difícil. Dependemos de nós mesmos para a maioria dos nossos equipamentos, pesquisa e desenvolvimento”, disse Fu. “Além disso, devemos fortalecer a proteção de nossos soldados. A política de defesa da China é defensiva por natureza. Isso é claramente definido pela Constituição”, argumentou.
John Blaxland, pesquisador do Centro de Estudos de Defesa e Estratégia, da Universidade Nacional Australiana, em Canberra, disse que Pequim poderá injetar dinheiro nas capabilidades cibernéticas e em satélites. O foco dos EUA na direção da Ásia - devido à rivalidade com a China - e a repressão desencadeada pelo presidente Xi Jinping à corrupção dentro das forças armadas, que provocou desconforto dentro das fileiras militares, são alguns dos fatores que explicam o aumento dos gastos neste setor, segundo especialistas. Pequim alega também que tem enfrentado ameaças cada vez maiores de militantes islâmicos na província de Xinjiang, com sua população uigur, muçulmana. O governo chinês elabora uma nova legislação anti-terrorista que permite o envio de tropas para o exterior em operações contra o terrorismo.
O aumento do orçamento militar chinês traz à tona as inquietações de países vizinhos, como Japão, Índia, Vietnã e Filipinas, que estão envolvidos em disputas territoriais com Pequim. Como consequência, eles reforçam seus acordos de defesa com Washington. O Japão passou a aumentar o seu orçamento militar e a Índia também, por ter disputas de fronteira com a China.
As relações entre Tóquio e Pequim, por exemplo, se deterioraram muito desde 2012 devido a uma disputa sobre a soberania das ilhas desabitadas de Senkaku, no Mar da China Oriental, administradas pelo Japão e reclamadas pela China. Pequim explica o aumento do gasto com defesa como uma necessidade de “recuperação” após as “humilhações” infligidas pelas potências ocidentais e pelo Japão no século XIX e na primeira metade do século XX.
Os gastos da China com defesa sempre ultrapassaram o crescimento do PIB, observou Richard A. Bitzinger, pesquisador da Escola Rajaratnam de Estudos Internacionais da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, em uma entrevista para o jornal “The New York Times”. Bitzinger é especializado em gastos militares chineses. Mas segundo ele, desta vez a diferença deverá ser bem maior, levantando a possibilidade de que a economia chinesa possa crescer menos do que 7% e os gastos militares aumentarem 10%. “Isso demonstra que a liderança chinesa está comprometida em aumentar os gastos com defesa custe o que custar”, afirmou.
Per capita, os gastos militares da China permanecem baixos, observou, no entanto, Xu Guangyu, militar da reserva do Exército de Liberação Popular, em entrevista para o “NYT”: são US$ 57 mil para cada integrante das forças armadas (2014), bem menos do que o Japão e os EUA. <MC2>Com Agências