Por diana.dantas

Após o degelo nas relações entre Estados Unidos e Cuba, com o anúncio, no dia 17 de dezembro, da retomada das relações entre os dois países pelos presidente Barack Obama e Raúl Castro, derrubando os últimos resquícios da Guerra Fria no continente latino-americano, o turismo internacional à ilha começou a aquecer. Apenas um mês após o anúncio histórico, registrou-se 16% de crescimento do setor, em janeiro,em comparação com o mesmo mês de 2014, segundo o Escritório Nacional de Estatíticas de Cuba (ONE, na sigla em espanhol). Um total de 371.160 turistas chegaram à ilha no primeiro mês de 2015. Quase metade destes turistas veio do Canadá (181.101). Mas foram registrados aumentos também de turistas alemães, britânicos, franceses e italianos.

Embora o embargo comercial dos EUA ainda impeça a visita de turistas deste país a Cuba, Obama abriu a possibilidade de que americanos de 12 categorias possam visitar a ilha sem necessidade de pedir licenças, como o intercâmbio cultural ou religioso. Políticos não precisam de autorização. Por isso mesmo a viagem deste tipo de visitantes tem sido constante. Houve um aumento de 14% das categorias “outros”, onde se contabilizam os americanos que visitam Cuba, que saltaram de 66.195 para 75.435 entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015. O número de turistas de cruzeiro também cresceu: passou de 928 pessoas em janeiro de 2014 a 3.937 um ano depois. O turismo é o segundo tipo de entrada a Cuba, depois das visitas por procura de serviços profissionais, principalmente médicos. Segundo a ONE , em 2014 Cuba ultrapassou pela primeira vez a barreira de três milhões de turistas que trouxeram ao país US$ 1,8 bilhão.

Várias celebridades já visitaram Cuba após o anúncio do degelo, como a cantora Beyoncé, a modelo Naomi Campbell, e os atores Jack Nicholson e Conan O'brien. O comediante O’Brien gravou há poucos dias o primeiro “Late Night Show” em Cuba. “Eu fiz incontáveis amigos e tive uma das melhores experiências de minha vida”, disse em um Tweet. “Não vejo a hora de voltar a Havana”, completou.

No processo de aproximação com Cuba, EUA e União Europeia parecem rivais, mas os dois esforços poderão contribuir para avanços políticos na ilha com melhorias no capítulo dos direitos humanos, afirmam analistas. As negociações entre UE e Cuba estão congeladas desde 2003, mas há 11 meses os dois lados passaram a negociar um “Acordo de Diálogo Político e Cooperação”. Em janeiro, a UE elogiou o “histórico reposicionamento”, mas alguns países do bloco pediram pediram pressa no processo de negociações com Havana, preocupados em não perder terreno em relação a Washington, principalmente em matéria comercial. Foi o caso da Espanha, que ressaltou “a possibilidade de as empresas da UE competirem com as empresas dos Estados Unidos”, que desembarcarão em massa se houver uma abertura na ilha.

“É evidente que os europeus veem os EUA como um aliado, mas também como um competidor em termos de investimentos e intercâmbio comercial com Cuba. É um interesse político, mas também é claramente econômico”, analisa Peter Schechter, do Atlantic Council, um centro de estudos americano.

Um sinal de que os europeus estão fazendo esforços para não ficar para trás, a presidência francesa anunciou que François Hollande fará uma visita oficial à ilha em 11 de maio. Será a primeira viagem de um chefe de Estado francês a Cuba. No momento, os europeus parecem ter a vantagem do calendário, pois se comprometeram antes, em abril de 2014, com a normalização das relações bilaterais e seus pontos de divergência são bem menos numerosos em comparação àqueles dos velhos inimigos de Cuba na Guerra Fria.

Embora os americanos estejam a caminho de restabelecer as relações diplomáticas com Cuba, com a possível reabertura de embaixadas em abril, alguns assuntos como o fim do embargo econômico e as indenizações pelos bens de norte-americanos nacionalizados pela Revolução Cubana ainda estão longe de serem resolvidos. Ainda assim, Obama anunciou uma flexibilização das exportações para Cuba em matéria de telecomunicações e Internet e medidas favoráveis ao pequeno setor privado.

Ao fim da terceira rodada de negociações, na última quinta-feira, em Havana, o negociador-chefe europeu, Christian Leffler, procurou negar, no entanto, que haja “concorrência” entre UE e os EUA nos processos de aproximação com Cuba. “As duas séries de negociações não são contraditórias, mas complementares, embora o processo com os EUA tenha características muito específicas”, opinou Marc Hanson, da ONG Washington Office for Latin America (WOLA). Para o especialista, os europeus podem inclusive mostrar aos americanos que “um diálogo sério com os cubanos é perfeitamente possível”. 

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