Por diana.dantas

O Irã e as principais potências mundiais lutavam ontem (e continuam hoje) para chegar a um acordo nuclear preliminar. Ambos os lados estão apegados às suas posições neste intrincado tabuleiro geopolítico, um dia antes de um prazo auto-imposto: meia noite de hoje. Pela primeira vez desde a rodada de negociações em Viena, em novembro, todos os chefes da diplomacia das grandes potências do grupo 5+1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) e do Irã se reuniram na mesma mesa. Eles tentam quebrar um impasse nas negociações que buscam impedir Teerã de ter a capacidade de produzir uma bomba nuclear. Em troca, o Irã teria o alívio das sanções econômicas e diplomáticas consideradas humilhantes e que paralisam a sua economia. Se as autoridades chegarem a um acordo preliminar hoje, ele abrirá caminho para um acordo técnico que deverá ser fechado até junho.

Há um histórico de falhas em conseguir um acordo desde 2002, quando o programa nuclear do Irã foi divulgado pela primeira vez. Mas internamente, para o presidente iraniano, Hassan Rouhani, um acordo iria dar gás a seu governo e isolar os críticos conservadores de seu país. Para o governo Barack Obama um acordo também seria uma vitória de sua política externa, e marcaria uma reaproximação histórica de seu país depois de 35 anos de afastamento de Teerã, com importantes reflexos no Oriente Médio. Washington e aliados enfrentam na região a milícia sunita extremista Estado Islâmico, inimiga dos xiitas iranianos. Ontem, Obama evocou o célebre discurso de John F. Kennedy, durante sua posse em 20 de janeiro de 1961, para defender sua abordagem diplomática sobre o programa nuclear iraniano: “Jamais negociaremos sob a pressão do medo. Mas nunca tenhamos medo de negociar”. No último dia 19, Obama chegou a gravar uma mensagem de Nowruz, o ano novo iraniano, na qual reforçou a necessidade de um acordo nuclear: “Há pessoas, em ambos os nossos países e além deles, que se opõem à solução diplomática. Minha mensagem para vocês, povo do Irã, é que, juntos, nós temos que buscar o futuro que queremos”.

Um fracasso hoje não significaria automaticamente a ruptura e o fim de todas as negociações. Mas a situação será muito mais complicada e difícil em razão dos conflitos internos nos EUA e no Irã, onde os opositores ao acordo sairão fortalecidos em caso de fracasso. O Irã diz que seu programa é pacífico, para a produção de energia, e rejeita as acusações de que seu objetivo é construir armas nucleares. Há vários pontos principais de atrito. Um é a duração do acordo em negociação. As potências querem controle rígido das atividades nucleares do Irã por 15 anos, mas Teerã insiste em 10 anos. Uma questão complicada é o levantamento das sanções contra o Irã e a reposição delas em caso de não cumprimento do acordo por parte de Teerã.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que houve “alguns progressos e alguns retrocessos nas últimas horas”. Mas um diplomata citado pela agência chinesa “Xinhua” afirmou que a atmosfera ontem passou de “otimista” para “melancólica”. O artigo “Sanctions and Fate of Nuclear Talks” (“As sanções e o destino das negociações nucleares”), do jornalista e historiador americano Gareth Porte, especializado em segurança nacional dos EUA, publicado no domingo pela agência iraniana “Fars”, diz que as questões associadas com o programa nuclear “já estão bem resolvidas, exceto pelos limites (do Irã) em pesquisa e desenvolvimento”. Quanto ao alívio das sanções, “todas as evidências indicam que não houve avanço além do ponto em que chegaram em novembro, quando estavam bem distantes um do outro”, ressaltou o artigo.

Segundo o jornalista, os iranianos não vão dar suas cartas de barganha sem a certeza de que se livrarão das sanções. “Mas os EUA e seus aliados não têm feito nenhum esforço em esconder que pretendem manter a ‘arquitetura das sanções’ por muitos anos após o início da implementação do acordo, disse Porte.Ele explica que Teerã teme que com a manutenção de um regime de sanções, potenciais investidores estrangeiros continuarão a se manter afastados do país por medo de sanções contra eles. As sanções também prejudicam as indústrias exportadores de petróleo e gás iranianas.O encontro acontece em um hotel do século 19, em Lausanne, à beira do Lago Genebra, na Suíça, com a participação do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e dos ministros das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif; da Grã-Bretanha, Philip Hammond; da França, Laurent Fabius; da China, Wang Yi; da Rússia, Sergei Lavrov; e da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. 

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