Por tabata.uchoa
Rio - O pai da jornalista Kamille Viola, de 39 anos, era um “coroa saudável”, segundo ela. Seu Mário fazia judô, caminhava, se alimentava bem e não fumava nem bebia. No entanto, aos 72 anos, ele sofreu um acidente cardiovascular cerebral (AVC) hemorrágico. O histórico familiar de pressão alta, combinado ao alto estresse da profissão de advogado criminalista, cobraram um preço sobre a saúde do idoso. “Ele teve que se aposentar, perdeu a fala e a locomoção. Com muita fisioterapia e fonoaudiólogo, ele voltou a falar e a andar, mas passou a usar bengala”, conta.
AVC%3A um mal que pode ser evitadoAgência O Dia

O AVC, que fez a ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva ser internada às pressas na terça-feira, é uma das principais causas de morte e sequela no Brasil e no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 16 milhões de pessoas são atingidas anualmente. Destas, 6 milhões morrem. Também conhecida como derrame, a doença se dá quando há insuficiência do fluxo sanguíneo que chega ao cérebro.

Existem dois tipos de AVC: o isquêmico, mais comum, é causado pela obstrução de artérias que conduzem sangue para o cérebro; e o hemorrágico, que corresponde a cerca de 15% dos casos, se dá quando há ruptura de uma artéria cerebral. Cada um exige métodos de prevenção diferentes.
Publicidade
“No AVC isquêmico, a prevenção se faz com prática de atividade física e com controle da dieta, do colesterol, do açúcar no sangue, do tabagismo e, a cada dia mais, do fator estresse. O hemorrágico se previne controlando a pressão arterial, evitando a hipertensão”, explica Carlos Peixoto, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ).
Porém, nem sempre a prevenção funciona, e nesse caso, é importante estar atento aos sintomas de um derrame. Dor de cabeça que não é curada por analgésicos, falha das feições ao sorrir, incapacidade de falar o próprio nome ou de articular as palavras e dificuldade de levantar o braço lateralmente são sinais para correr ao médico. O resultado satisfatório do tratamento só é obtido se o paciente for socorrido nas primeiras três horas, em casos de AVC isquêmico.
Publicidade
“Existe uma janela de tempo durante a qual a eventual obstrução precisa ser revertida, de modo que se possa pretender uma recuperação funcional máxima”, alerta Daniel Souza e Silva, neurologista pesquisador em Neurofisiologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Fono e fisioterapia ajudam na recuperação
Publicidade
O primeiro passo após a identificação de um AVC é a realização de uma tomografia, que vai identificar se há sangramentos intracranianos. Caso haja obstrução, é possível ‘desentupir’ as artérias com medicamentos ou catéteres. Em caso de hemorragia, é necessário fazer exames para identificar o aneurisma e bloquear o sangramento. Mas o tratamento não termina aí.
“O tratamento é para toda a vida, pois o principal fator de risco para o desenvolvimento de um novo AVC é a existência de um AVC prévio. A pressão arterial deverá ser continuamente monitorizada, e hábitos de vida saudáveis instituídos e rigorosamente acompanhados”, explica Márcio Almeida, neuroradiologista do Richet Medicina e Diagnóstico.
Publicidade
É possível se recupar de um derrame, principalmente com sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, quando o paciente tem sequelas de locomoção ou fala. “Na recuperação do AVC o que deve ser levado em conta é como esse paciente era antes do acidente. Se era diabético, se era hipertenso, se já tinha um cérebro sofrido, se fumava, se era idoso ou era um paciente jovem, ativo. Se tem uma autoestima boa e faz fisioterapia e reabilitação ajuda muito na recuperação”, disse o neurologista André Lima, da Neurovida.
É importante notar que mesmo pessoas jovens correm risco de sofrer um AVC. Tabagismo, hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, obesidade, sedentarismo e estresse estão entre os principais fatores de risco. “Hoje em dia, os jovens estão mais expostos ao estresse e, consequentemente, aos demais fatores de risco”, explica a neurologista Vanessa Müller, diretora médica da VTM Neurodiagnóstico.