Rússia - Um oficial soviético que, em plena Guerra Fria, se negou a acreditar no sistema de informática que anunciava um ataque de mísseis americanos contra a União Soviética, e que talvez tenha evitado um conflito nuclear, faleceu aos 77 anos.
De acordo com o filho do herói, Stanislav Petrov morreu em 19 de maio em seu apartamento, na cidade de Friazino, 20 km ao nordeste de Moscou. A informação só foi divulgada recentemente.
Episódio
Durante a noite de 25 de setembro de 1983, Stanislav Petrov, na época um oficial em uma base de alerta estratégica ao sul de Moscou, teve poucos segundos para interpretar o sinal de alarme dos satélites de vigilância que anunciavam o ataque de cinco ou seis mísseis americanos contra União Soviética.
Mas Petrov considerou que, no caso de um ataque americano, este envolveria uma centena de mísseis e não cinco ou seis. Ele deduziu que era um erro dos sistemas de alerta. Desta maneira, indicou aos superiores que se tratava de um falso alerta e não de um ataque iminente.
Sua decisão talvez tenha permitido evitar uma resposta soviética e o início de um conflito nuclear mundial, em um momento de grande tensão entre Moscou e Washington.
"Depois do incidente, ele permaneceu em sua unidade durante três dias. Voltou para casa completamente esgotado, mas não nos contou nada", recorda o filho, de 44 anos.
Mais tarde, especialistas soviéticos concluíram que o falso alerta se devia a uma interpretação equivocada do reflexo dos raios solares nas nuvens, que o sistema confundiu com a energia que os mísseis desprendem ao decolar.
Poucos meses depois do incidente, Stanislav recebeu uma condecoração por seus méritos prestados à Pátria nas Forças Armadas, sem nenhuma explicação, segundo Dmitri.
Sigilo
O incidente, que permaneceu em sigilo por alguns anos, foi revelado apenas dois anos depois do fim da União Soviética, em 1991, pela revista Sovershenno Sekretno ("Top Secret").
"Quando a revista russa Kommersant Vlast voltou a mencionar a história em 1998, o Ocidente descobriu um herói", disse Dmitri.
"Ele recebeu uma centena de cartas de agradecimento de todas as partes da Europa, mas nunca entendeu o motivo do alvoroço porque se limitou a fazer bem o seu trabalho", afirmou o filho.