Por thiago.antunes

Berlim - Angela Merkel começou ontem a juntar os cacos depois de não conseguir formar um governo, um terremoto político que pode levar à realização de novas eleições legislativas e ao fim de seu mandato de chanceler. No fim de semana, o Partido Democrático Liberal (FDP, na sigla em alemão), desistiu de integrar a coalizão que daria maioria no Parlamento e, consequentemente, a chancelaria a Merkel. Ela já descartou tocar a Alemanha com 'governo de minoria'.

O presidente alemão quase uma figura decorativa no Executivo , Frank-Walter Steinmeier, pediu que a classe política retome as negociações para formar governo. "Espero que todos os partidos se mostrem abertos ao diálogo e que seja possível, em um prazo razoável, a formação de um governo", declarou na televisão, referindo-se a "uma crise sem precedentes em 70 anos".

Chanceler já avisou que prefere convocar novas eleições a ser minoriaAFP

De fato, desde a fundação da República Federal da Alemanha, em 1949, este cenário jamais aconteceu: o país não tem maioria para ser governado. De madrugada, depois de um mês de negociações, os conservadores de Merkel (CDU-CSU), os liberais (FDP) e os ambientalistas não conseguiram fechar a coalizão.

País parado

Na ausência de uma alternativa, a maior potência econômica europeia se prepara para semanas ou meses de paralisia, tanto a nível nacional quanto europeu. Se não houver acordo, o presidente terá que iniciar o processo que conduzirá a eleições antecipadas em 2018. Merkel lamentou o fracasso das negociações e prometeu que fará "tudo o que foi possível" para que a Alemanha "esteja bem dirigida nas difíceis próximas semanas".

No poder desde 2005, Merkel venceu as eleições legislativas de setembro, mas com o pior resultado desde 1949 para o seu partido conservador, que perdeu votos em benefício do partido de extrema direita AfD, impulsionado pelo descontentamento com a chegada de mais de um milhão de imigrantes em 2015-2016.

O terremoto político é tal, em um país acostumado com compromissos políticos, que a revista 'Der Spiegel' escreveu que a Alemanha enfrenta seu "momento Brexit, seu momento Trump". São muitos os comentaristas e cientistas políticos que preveem o fim da chanceler. "É seu fracasso. Mostra que o método de Merkel pragmatismo sem limites e uma flexibilidade ideológica máxima chegou ao fim", aponta o 'Spiegel'.

Muitas dúvidas

No caso de eleições antecipadas, não há garantias de que o novo resultado seja diferente do anterior. O crescimento do AfD e sua entrada na Câmara levou à fragmentação da paisagem política. O partido repete o discurso anti-imigrantes, anti-islã e anti-Merkel.

Não por acaso, foram a questão migratória e as consequências da generosa política de recepção de requerentes de asilo de Merkel que fizeram fracassar as negociações.

As partes não chegaram a um acordo sobre um limite do número de requerentes de asilo, nem sobre a questão de saber se todos ou apenas alguns dos refugiados deveriam ter direito ao reagrupamento familiar na Alemanha. Os conservadores e os liberais querem conter absolutamente as chegadas, enquanto os Verdes desejam uma política mais generosa. Daí o nó.

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