Por monica.lima

Em vez de reuniões, chamadas telefônicas e trocas de e-mails, prática de tai chi chuan e meditação, seguida de uma conversa com uma monja. A alteração drástica na rotina dos executivos que visitam o mosteiro budista de Zu Lai, em Cotia (SP) é parte de um trabalho de coaching que — apesar de incorporar elementos estranhos ao universo corporativo — tem objetivos similares a tantos outros: ampliar o autoconhecimento e desenvolver atributos como a liderança e a inteligência emocional.

Mas por que uma corporação reservaria o precioso tempo de seus executivos para conversar com a abadessa de um mosteiro budista? “Não é uma experiência religiosa e sim, filosófica”, argumenta Daniel Motta, sócio e presidente da consultoria Brazilian Management Institute (BMI), que promove as visitas ao Zu Lai como parte de um processo de coaching. É Motta quem faz a intermediação das visitas ao templo — apesar de sua formação acadêmica estar concentrada nas áreas de economia e finanças, o presidente da BMI é um estudioso entusiasta da filosofia. “Nossa metodologia é resultado de 15 anos de pesquisa e consultoria”, diz Motta, lembrando que o método foi tema de artigo publicado na ‘Harvard Business Review’. “Temos filósofos no corpo consultivo da BMI”. Além de atuar no país, a consultoria tem operações nos Estados Unidos, no México e no Chile.

Paquisa Mazolla (à esq.) e Rosi Alves%2C da Play In Company%2C contam que os blocos dão caráter lúdico às atividadesMurillo Constantino

Num mercado repleto de ofertas de serviços de coaching, incorporar elementos filosóficos e lúdicos é uma forma de se diferenciar da concorrência. O contraste em relação aos processos tradicionais de coaching é nítido para quem conhece a Lego Serious Play, metodologia que usa os blocos plásticos coloridos da fabricante de brinquedos dinamarquesa para discutir questões como desenvolvimento de carreiras, desafios corporativos e até fusões e aquisições de companhias.

Esboçada em meados dos anos 1990, quando os blocos construtivos da Lego perdiam espaço na preferência dos jovens para o videogame, a metodologia nasceu da colaboração entre Robert Rasmussen, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa na época, e dois professores da área de negócios. Nos anos 2000, o Lego Serious Play começou a ser utilizado comercialmente em larga escala, por meio de licenças. O modelo foi abandonado em 2010, em favor de uma estratégia “aberta”, que utiliza facilitadores certificados pela Lego. “É uma brincadeira séria. Numa fase inicial, um desafio é lançado e os participantes têm de construir cenários individualmente usando as peças da Lego. Depois, devem compartilhar suas análises através de metáforas e, por último, fazer uma reflexão em grupo”, explica Rosi Alves, consultora associada das empresas Play In Company e Lee Hecht Harrison | DBM. A intenção é fazer com que 100% dos participantes contribuam para 100% do resultado final. Em processos tradicionais, 80% das ideias são aportadas por apenas 20% dos participantes, compara Rosi.

No Brasil, a Lego Serious Play já foi usada pela fabricante de cosméticos Natura, a produtora de elevadores Otis e a montadora de caminhões Scania. “Na Otis, as dinâmicas foram voltadas para o engajamento da equipe no atendimento ao cliente”, conta Paquisa Mazzola, sócia da Play in Company, que em conjunto com Rosi ministra um curso baseado na Lego Serious Play no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

Você pode gostar