Por marta.valim

Dentro de uma estratégia para ganhar competitividade, a Fibria reduziu em cerca de R$ 70 milhões seu custo de produção no primeiro semestre do ano. A estimativa de mercado foi feita a partir dos resultados financeiros do segundo trimestre, divulgados ontem pela fabricante de celulose, que obteve lucro líquido de R$ 631 milhões no período. O resultado foi um avanço tanto na comparação com os três primeiros meses deste ano — quando o lucro líquido foi de R$ 19 milhões — quanto em relação ao segundo trimestre de 2013, marcado por um prejuízo de R$ 593 milhões.

Autossuficiente em termos energéticos, por conta dos investimentos em cogeração, a empresa produziu nos primeiros seis meses do ano 114% da energia necessária para o processo de produção de celulose. O excedente gerado por seus processos produtivos foi comercializado no mercado, contribuindo para a diminuição do custo caixa — custos operacionais menos depreciações. Em teleconferência com jornalistas realizada ontem, o diretor-presidente da Fibria, Marcelo Castelli informou que, no primeiro trimestre deste ano, a redução do custo caixa com a venda de energia foi de R$ 20 por tonelada produzida. Ainda de acordo com o executivo, no segundo trimestre, a redução foi de R$ 36 por tonelada produzida. “A venda de energia é uma tendência firme, que veio para ficar no setor de celulose. É , também, uma forma de diversificação de produtos”, explicou Carlos Farinha, vice-presidente no Brasil da Pöyry, multinacional de engenharia e consultoria.

No segundo trimestre deste ano, a produção da Fibria foi de 1.271 toneladas, o que significou uma redução de 1% em relação a igual período de 2013. A retração foi consequência da parada programada da unidade Veracel. A interrupção foi concluída no segundo trimestre, diferentemente do que aconteceu no ano passado. Entre abril e junho, a quantidade de celulose vendida foi de 1.334 toneladas, um incremento de 12% frente aos três meses anteriores. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o aumento nas vendas foi de 5%. “A Fibria foi conservadora no segundo trimestre: produziu menos do vendeu e com isso diminuiu o estoque”, disse Claudio Duhau, analista da Ativa Corretora. No fim de junho, o estoque da Fibria totalizava 767 mil toneladas. “Nosso estoque estava em 52 dias, o que é um resultado ótimo”, resumiu Castelli.

Dentre os fatores que impulsionaram o lucro da companhia no segundo trimestre deste ano está a obtenção de créditos-prêmios do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) concedidos dentro do Programa Especial de Exportação (Befiex), no valor líquido após tributação de R$ 568 milhões. Também contribuiu para o resultado positivo o menor impacto com despesas financeiras decorrentes das operações de recompra de títulos da dívida da Fibria. Excluindo os efeitos de ambos os fatores, o lucro líquido da companhia no segundo trimestre seria de cerca de R$ 139 milhões. O Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da Fibria foi de R$ 594 milhões no período, com margem de 35%.

Relatório do BB Investimentos, assinado pelo analista Victor Penna, destacou ontem a contração do nível de dívida líquida sobre Ebitda, que caiu para 2,3 vezes (em reais). No fim de março, essa relação era de 2,4 vezes. A Fibria liquidou antecipadamente 78% do Bond 2021 (US$ 430 milhões) no segundo trimestre. A empresa emitiu US$ 600 milhões em novos bônus com vencimento em 2024, o que permitiu o alongamento do prazo médio da sua dívida para 52 meses. A Fibria encerrou o primeiro semestre de 2014 atingindo uma economia anual de US$ 63 milhões no pagamento de juros.

Em seu relatório, Victor Penna ressaltou que, mesmo com as quatro paradas programadas para manutenção realizadas no período, a Fibria manteve no segundo trimestre um nível de produção equivalente ao dos três meses anteriores. “(A empresa) conseguiu absorver a elevação da demanda na América do Norte e Ásia. No entanto, essa elevação nas vendas foi parcialmente neutralizada pela queda no preço da celulose e câmbio”, afirmou o analista do BB Investimentos.

Em relação à venda de energia excedente ao longo do segundo semestre, o diretor-presidente da Fibria esclareceu que a estratégia será mantida até o fim do ano, aproveitando os preços elevados da eletricidade no curto prazo. “O mercado continua com pressão. Temos um efeito El Niño trazendo um pouco mais de chuvas no inverno, mas não teremos a retirada da operação das termelétricas”, disse Castelli. O El Niño é consequência do aquecimento de águas do Pacífico, mudança que interfere na atmosfera, provocando inundações e secas em partes distintas do planeta. Procurada para comentar a estimativa de redução de aproximadamente R$ 70 milhões em seu custo caixa no semestre, a Fibria não se posicionou oficialmente.

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