Por marta.valim

A traumática goleada sofrida pelo Brasil na Copa do Mundo dificilmente será esquecida por um brasileiro em especial: Luiz Felipe Scolari. O treinador, no entanto, tem agora um bom motivo para comemorar. Uma peça essencial no desempenho dos algozes alemães no torneio vai, em breve, atuar a favor do agora técnico do Grêmio, de Porto Alegre. O time gaúcho fechou recentemente um contrato com a SAP para adotar uma plataforma de gestão de performance de seus atletas, com tecnologias semelhantes aos recursos usados pela seleção alemã durante a competição. Mais que a abertura para Felipão virar o jogo, o projeto marca mais um passo de uma nova estratégia global da SAP no país: o esforço para ganhar mercado na indústria dos esportes e do entretenimento.

“Esses setores têm um potencial enorme e são indústrias que nossos concorrentes não cobrem”, diz Daniel Duarte, executivo-chefe de Inovação e Experiência do Cliente da SAP no Brasil. “Nosso foco não é apenas o desempenho dos atletas, mas tudo o que está no entorno, como a gestão das arenas, as campanhas das marcas e as transmissões dos eventos”, afirma.
O contrato com o Grêmio é um exemplo dessa visão. O projeto é o primeiro da companhia alemã no Brasil a incluir tanto a adoção de um sistema de gestão quanto os componentes voltados às análises dos atletas. Até então, o único projeto fechado no país envolvia a parte de gestão, com o Palmeiras. Segundo o executivo, esse modelo será um dos pilares para impulsionar a oferta no país. “Se um time não tem uma gestão transparente, não consegue captar bons patrocínios e, por consequência, não tem recursos para montar uma boa equipe. E o contrário também acontece. Está tudo interligado”, explica.

Ainda em fase de implantação, a iniciativa do Grêmio cobre desde as categorias de base até o futebol profissional e não é exatamente igual ao projeto adotado pela seleção alemã. A ideia da SAP é adaptar sua plataforma baseada na tecnologia Hana — de análise de grandes volumes de dados em tempo real — às demandas de cada cliente.

As aplicações analíticas em campo são variadas e envolvem duas vertentes. A primeira delas é aplicada, por enquanto, nos treinamentos, pois ainda não é aprovada para ser usada durante as partidas. Nessa ponta, é possível, entre outros indicadores, coletar as estatísticas de cada jogador, como por exemplo, velocidade, distância percorrida, posicionamento, número de passes e dados biométricos e clínicos, para detectar riscos de lesões. Toda essa gama de informações é coletada por meio de sensores instalados nas caneleiras e no peito dos atletas. Os dados gerados são captados por antenas instaladas nos centros de treinamentos, que, por sua vez, os transmitem para os servidores da plataforma da SAP.

Uma segunda frente inclui as gravações das partidas no padrão 4K, de alta definição. A solução permite seguir cada jogador em campo. Esses dados são enviados para a plataforma. A partir daí, a tecnologia traz aplicações como a possibilidade de comparar o desempenho do atleta e do time com outras partidas da equipe, além de recursos de visualização em 3D, para aprimorar questões táticas e técnicas. “Cada partida de futebol gera, em média, 11 milhões de linhas de dados para análise”, diz Duarte. Essas mesmas funções podem envolver adversários. “Na Copa, os jogadores alemães recebiam em seus dispositivos móveis vídeos editados de jogadores rivais que atuavam em seus setores, com uma série de estatísticas desses atletas.”

Esse portfólio não se restringe ao futebol. Globalmente, a SAP já mantém projetos em esportes como equitação, tênis e automobilismo. No Brasil, a companhia negocia novos projetos em modalidades como vôlei e vela, além de outras iniciativas no futebol. Assim como acontece em outros países, as conversações incluem não apenas equipes e atletas, mas também as federações desses esportes. “A Rio 2016 abre boas oportunidades, tanto na área de performance dos atletas olímpicos como na gestão das instalações do evento”, diz.

No plano das federações e também no setor de mídia, outras vertentes a serem exploradas são a busca pela maior interatividade com os fãs dos esportes e a melhoria da experiência desses torcedores nas arenas. Um dos exemplos é um projeto com o San Francisco 49ers. Como todos os assentos no estádio do time de futebol americano são numerados, o torcedor, por meio de um aplicativo, consegue comprar qualquer alimento ou bebida. A aplicação identifica a localização exata do usuário, que recebe os itens sem sair do seu assento. “Esse recurso pode ser replicado no Brasil, já que as novas arenas construídas com a Copa também têm lugares definidos”, diz Duarte.

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