Por bruno.dutra
Rio - Quatro dias de folia pelas ruas, clubes e nas escolas de samba rendem para micro, pequenas e médias empresas faturamento que ultrapassa os R$ 6 bilhões em todo o país, volume movimentado por profissionais que trabalham em nome do samba o ano inteiro. De acordo com levantamento feito pelo Sebrae em 2013, o número de microempreendedores individuais que abrem seus negócios de olho no carnaval passou de 33,8 mil para 72,9 mil, o que corresponde a um crescimento de 116% em relação ao ano anterior. Os números de 2014 ainda não foram divulgados.
A formalização e a capacitação na cadeia produtiva do carnaval têm sido cada vez mais uma exigência, pela necessidade de mais profissionais empreendedores que possam fornecer produtos e serviços para grandes empresas. A Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil (Amebras), por exemplo, trabalha na formação profissional em ofícios dos bastidores do Carnaval, como costura, bordado, adereçaria e chapelaria. Ao longo de 16 anos de vida, já capacitou mais de 25 mil pessoas e este ano desenvolve uma linha de produtos licenciados para as escolas de samba cariocas.
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“São itens oficiais das escolas de samba que permanecerão no mercado o ano inteiro, pois muitos são de utilidade diária. O produto licenciado representa um ganho importante para a agremiação e uma oportunidade de geração de renda para os artesãos atendidos nos projetos da Amebras”, explica Célia Domingues, presidente da instituição. A Amebras está com quiosques chamados “Butique de Carnaval” nos shoppings Grande Rio e no aeroporto Santos Dumont. Os itens são encontrados também nas lojas da grife D´Samba, em shoppings das zonas Norte e Oeste da cidade e na rede Vitacura, com unidades em pontos turísticos e hotéis da Zona Sul carioca.
Os foliões contam com mais de 50 itens artesanais e industrializados com as marcas das escolas de samba cariocas, entre elas Mangueira, Salgueiro, Portela e Unidos de Vila Isabel. O mix de produtos inclui camisas, vestidos, bolsas, toalhas de banho, capas para celular, copos, canecas, tulipas, taças e baldes de gelo, jogos americanos, além da linha artesanal. O torcedor encontra ainda cadernos, agendas e blocos de anotações.
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Cariocas de Vila Isabel, Leonardo Leonel e Leandro dos Santos viram no carnaval o caminho para que se revelassem como os bambas da “alta costura” no mundo do samba. Eles são responsáveis por desenhar e confeccionar fantasias de sete dos 12 casais de mestre-sala e porta-bandeira das agremiações que fazem parte do Grupo Especial no Rio, além de fantasias de luxo para rainhas de bateria e musas das escolas de samba. A dupla começou a se enveredar pelo mundo do carnaval participando de oficinas de chapelaria e modelagem no final dos anos 90.
Hoje, são donos do Ateliê Aquarela Carioca, também em Vila Isabel, e contam com o trabalho de 12 artesãos da região para dar vida às criações que vão desfilar pela Marquês de Sapucaí. Além de empreendedores, os dois estão criando uma ONG com uma série de cursos voltados para a indústria do carnaval.
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“Nosso objetivo agora é formar novos artesãos, a exemplo do que nos aconteceu quando participamos dos cursos do projeto Herdeiros da Vila”, diz Leo.
Moacyr Barreto, sócio da AMI7 e um dos responsáveis pela organização da Carnavália Sambacom, feira de empreendedorismo que teve sua primeira edição realizada no ano passado, diz que um dos objetivos do evento, além de aproximar fornecedores de potenciais compradores de produtos e serviços relacionados ao carnaval, é fazer um raio-X desta indústria.
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“Os números que são apresentados hoje refletem uma parte desse mercado, que ainda precisa ser descoberto. Há muitas pessoas trabalhando nessa grande indústria, que só aparece aos olhos do público em um curto período. Muita gente vive do carnaval o ano todo. E outros aumentam a renda com a festa. São bordadeiras, costureiras, profissionais de marcenaria, infraestrutura, serviços, turismo, alimentação, reciclagem. É um universo de múltiplas possibilidades que precisa ser melhor avaliado”, diz Barreto, acrescentando que um diagnóstico mais preciso vai possibilitar também a criação de políticas públicas para o setor.
Na primeira edição do Carnavália, foram movimentados R$ 14 milhões em negócios para o carnaval deste ano. A próxima edição do evento será no segundo semestre e, de acordo com Barreto, o número de expositores deverá passar de cem, com a expectativa de dobrar também os negócios fechados durante a feira.
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