Por bruno.dutra
Rio - Foi-se a época em que o brasileiro ia repetidas vezes à concessionária para “namorar” um carro até decidir comprá-lo. Se antes da popularização da internet o consumidor visitava uma loja física de cinco a seis vezes, em média, para só depois fechar negócio, hoje este contato pré-compra se resume a duas idas à revenda de automóveis. Longe de ser um fato isolado, a mudança — detectada em levantamento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) — é um indício de como a fartura e a diversidade de informações disponíveis na web altera hábitos de consumo no mercado automotivo brasileiro.
“Nossa pesquisa com consumidores de veículos indica que 96% passaram pela internet antes de fechar a compra”, conta Valdner Papa, diretor do Departamento de Relações com o Mercado da Fenabrave. A crescente riqueza de informações e análises técnicas que podem ser garimpadas na internet também contribuiu para encurtar o processo de decisão, segundo Papa. O prazo que o consumidor levava pesquisando antes de efetuar a compra encolheu de seis para três meses. “A mídia social não vende mas informa”, resume o diretor da Fenabrave.
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O peso das redes sociais como canal de propagação para opiniões sobre automóveis é grande, segundo indica a edição mais recente do estudo “Carros online 2014 - Geração conectada”, da consultoria Capgemini. No Brasil, 84% dos entrevistados na pesquisa — realizada com dez mil consumidores em dez países — postam ou pretendem postar suas experiências com os veículos nas redes sociais. O percentual é superior à média registrada nos dez mercados, que foi de 76%. Ainda de acordo com a Capgemini, 47% dos brasileiros entrevistados se mostraram dispostos, no ano passado, a comprar um automóvel via internet. Na edição anterior da pesquisa, relativa ao biênio 2012/2013, essa porcentagem havia sido de 45%. Comparado a outros mercados como Estados Unidos (34%) e Alemanha (36%), o consumidor no Brasil está mais propenso à compra online de um carro.
Apesar do potencial dos canais digitais, a chamada Lei Renato Ferrari (nº 6.729), de 1979, estipula que 100% das vendas para o consumidor final (pessoa física) devem ser feitas obrigatoriamente por concessionárias. É por isso que os sites das montadoras instaladas no país remetem invariavelmente para a concessionária mais próxima do internauta. Gerente sênior da consultoria Accenture, Carlos Fan estima que as vendas diretamente relacionadas à internet estão hoje entre 5% e 6% do total, no mercado brasileiro. “A grande questão é rastrear esse cliente”, explica Fan. A projeção se baseia no cruzamento entre CPFs de clientes que se cadastram no site de uma montadora e daqueles que efetivamente compraram um veículo. “É um número muito conservador”, reconhece o gerente da Accenture. “Muitos se cadastram na internet e não colocam o CPF.”
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Sem as mesmas restrições que o mercado de carros zero quilômetro, o de usados se expande em ritmo acelerado pela web. Mesmo num ano marcado pela retração da indústria automotiva, o portal brasileiro WebMotors registrou em 2014 aumento de 33,2% na procura por carros anunciados. As buscas por veículos usados cresceram 55% e por novos, 26,4%, em relação a 2013. Também na comparação ano contra ano, houve incremento de 11,6% na quantidade de ofertas anunciadas.
“O brasileiro pode escolher hoje entre mais de 50 marcas de automóveis. Se extrapolarmos para os modelos que cada montadora oferece, a variedade é muito grande”, diz Fernanda Gasciarino Lagroteria, responsável por Produtos, User Experience e Marketing do WebMotors. O excesso de oferta empurra naturalmente o cliente potencial para a web. No caso da WebMotors, 38% da audiência vêm de usuários de dispositivos móveis, que em breve devem superar os acessos via desktop.
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