Por monica.lima
Rio - Apesar das diferenças econômicas, culturais e tecnológicas, os países da América Latina são muitos parecidos quando o assunto é comércio eletrônico móvel. Os padrões similares de desenvolvimento do m-commerce na região aparecem no estudo “Comércio móvel em países emergentes”, que será divulgado oficialmente esta semana pela sueca Ericsson. O relatório — que reúne dados de países latinos, africanos e asiáticos — mostra que embora as transações financeiras via celular sejam cada vez mais frequentes no Brasil, a difusão do mobile commerce ainda engatinha no país quando comparada à popularidade destes serviços no Quênia.
Isso mesmo: no país africano, 68% dos entrevistados na pesquisa utilizam o celular para compra de produtos e serviços, enquanto no Brasil o percentual é de 21% — o mesmo registrado no México e na Argentina. A razão principal para o avanço relativamente uniforme do m-commerce na América Latina é o percentual elevado da população que vive em ambientes urbanos. “Todos os países pesquisados na região [Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e México] têm mais de 80% da população vivendo em áreas urbanas”, justifica André Gualda, especialista em comportamento de consumo do Ericsson ConsumerLab. “Na África, a média fica entre 50% e 60%.”
Publicidade
É justamente o grande contingente de habitantes vivendo em aldeias e povoados remotos que impulsiona o m-commerce no Quênia, explica Gualda. Para fazer um pagamento ou uma transferência bancária, essas pessoas teriam de encarar uma viagem de ônibus com duração de horas até a agência bancária mais próxima. Outra dificuldade é o fato de a maior parte da população simplesmente não ter conta em banco. Uma das soluções encontradas pelos quenianos é o M-Pesa, serviço de pagamentos móveis que permite quitar contas e transferir dinheiro a partir do celular. No Quênia, 59% dos entrevistados fazem transferências pelo celular e 33% pagam contas utilizando o aparelho. “As pessoas não têm outra escolha”, resume o especialista do ConsumerLab. Entre os emergentes da Ásia, a aquisição de produtos e serviços por meio de dispositivos móveis é uma realidade para apenas 3% dos indianos ouvidos no estudo. O percentual é idêntico ao registrado na Indonésia (3%) e superior ao do Vietnã (0%).
Na América Latina, Brasil, Chile, Colômbia e México registram porcentagens similares de adesão ao m-commerce, em torno de 30%. A exceção é a Argentina, onde o comércio eletrônico via dispositivos móveis fica no patamar de 21%. A evolução mais lenta está relacionada à baixa penetração dos serviços bancários no país vizinho. “Boa parte dos argentinos têm receio de guardar dinheiro em banco. A lembrança do corralito [limitação dos saques bancários semanais, em 2001] ainda é forte”, diz Gualda. Não é à toa que somente 12% dos argentinos ouvidos para a pesquisa usavam serviços de internet banking.
Publicidade
Apesar do trauma ainda ecoar na Argentina, o potencial para expansão do mobile commerce na região é gigantesco, de acordo com os dados reunidos pelo ConsumerLab. Prova disso, é a distância entre a penetração dos serviços de telefonia móvel e o uso efetivo do celular como ferramenta de m-commerce. No Chile, por exemplo, a penetração da telefonia celular era de 152% em novembro de 2012. Ou seja, havia 152 aparelhos para cada cem chilenos. Já o comércio eletrônico móvel estava em 31%.
As oportunidades no mercado brasileiro também são consideráveis. A pesquisa da Ericsson mostra que o percentual de entrevistados que compram ou pretendem pagar por produtos e serviços usando dispositivos móveis deve mais que dobrar nos próximos 12 meses, passando de 21% para 48%. Considerando esse mesmo horizonte de tempo, a disposição para fazer transferências bancárias via smartphone ou tablet tende a quase triplicar entre os brasileiros, evoluindo de 6% para 17%. Já o pagamento de contas vai mais que dobrar no período.
Publicidade
Na América Latina, os pesquisadores fizeram 4.080 entrevistas online distribuídas por Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e México, dentro da faixa etária de 16 a 60 anos. O estudo incluiu também entrevistas qualitativas com consumidores e especialistas — as conversas ajudaram a identificar alguns dos obstáculos à evolução do m-commerce na região. Brasileiros e mexicanos, por exemplo, compartilham preocupações com a segurança das transações móveis. “Nos dois países, apareceram com frequência frases como: ‘não confio na rede da operadora nem na empresa’”, conta Gualda. A origem desses temores está — de acordo com levantamento — em problemas nas faturas telefônicas, que contribuem para diminuir a confiança do usuário.
Outra questão importante para brasileiros e mexicanos é o suporte em caso de problemas numa transação de m-commerce. Escaldados por experiências negativas, muitos consumidores questionam de quem seria a responsabilidade em caso de fraude numa transação: caberia à operadora resolver o problema? No Brasil, 50% dos entrevistados preferem ter um banco como provedor de serviços de mobile commerce, contra 8% de votos favoráveis às operadoras.
Publicidade