Por bruno.dutra

Rio - A suspensão do programa governamental Minha Casa Melhor, criado em 2013 para financiar a compra de móveis e eletrodomésticos, atingiu em cheio os papéis de redes varejistas na sessão da última sexta-feira da BM&FBovespa. As ações do Magazine Luiza amargaram desvalorização de 7,59%, fechando no patamar de R$ 6,08, enquanto as da Via Varejo recuaram 5,58% e terminaram o dia cotadas a R$ 16,90. Ambas as empresas informaram que a interrupção de novos financiamentos do programa — que é parte do Minha Casa Minha Vida — tem efeito muito limitado sobre suas vendas. Para analistas, a decisão do governo federal é apenas mais um fator negativo num cenário macroeconômico francamente desfavorável que já vem punindo os varejistas.

Dentro do Minha Casa Melhor, a Caixa Econômica Federal oferece aos beneficiários do programa habitacional uma linha de crédito subsidiado de até R$ 5 mil, a juros anuais de 5% e prazo de 48 meses. “O ambiente atual é muito negativo para o consumo das famílias. A suspensão é um ponto adicional nesse cenário”, justifica Rodrigo Baggi, analista responsável pelos setores de comércio varejista e crédito da Tendências Consultoria. “Havia desde o início do programa [Minha Casa Melhor] uma escassez de demanda por créditos que foi se acentuando ao longo de 2014”, acrescenta ele, minimizando a importância da suspensão de novos financiamentos.

CEO da companhia, Marcelo Silva informou que “o efeito da suspensão do programa é baixo para o Magazine Luiza, já que, atualmente, representa cerca de 1% das vendas”. A expectativa de Silva é que o programa seja retomado em breve. Na última quinta-feira, a rede varejista anunciou um incremento de 18,7% na receita bruta em 2014, que atingiu R$ 11,5 bilhões. Já o lucro líquido do Magazine Luiza no ano passado alcançou R$ 128,6 milhões, uma expansão de 81,8% em relação a 2013. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado cresceu 47% em 2014, na comparação com o ano anterior. “A rede não tem muita exposição nos estados em que o Minha Casa Minha Vida é forte. Ainda está muito concentrada no interior de São Paulo”, diz Daniela Martins, analista da Concórdia Corretora. Para 2015, a companhia projeta a abertura de 50 novas lojas, como parte de um plano de expansão focado na região Nordeste.

A Via Varejo informou por meio de comunicado que “os itens comercializados referentes ao programa Minha Casa Melhor têm uma participação pequena no volume total de vendas da empresa e respondem por menos de 0,5%”. Segundo a companhia, o percentual reduzido de participação se deve à especificidade da cesta de produtos. E, também, à demanda pontual de acordo com a região onde o programa do governo foi implementado. Ainda em relação à suspensão, a Via Varejo destacou que suas “linhas de crédito para baixa renda continuam disponíveis e as modalidades incluem pagamento no carnê e parcelado no cartão de crédito (próprio/private label) ou demais cartões.”

“A Via Varejo tem uma rede de lojas muito pulverizada, o que tende a diminuir o impacto [da paralisação na concessão de novos financiamentos]”, argumenta Daniela, da Concórdia. “A suspensão deve afetar redes menores, de atuação regional”. O consumo das classes C e D deve sofrer o maior impacto negativo decorrente do cenário macroeconômico diverso, sustenta a analista, para quem uma medida como o corte das linhas de crédito subsidiado para a compra de móveis e eletrodomésticos deixa o consumidor inseguro.

“Apesar de a companhia [Magazine Luiza] afirmar que os impactos das medidas serão baixos, pesa sobre a confiança do consumidor — já abalada pela retração da atividade econômica — principalmente das classes mais baixas, foco de atuação da companhia”, resumiu Daniela, em relatório distribuído a clientes da corretora.

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