Por monica.lima

Rio - Apesar da expansão de 6,5% projetada para a produção de aço bruto este ano, a indústria siderúrgica brasileira não terá motivos para comemorar: o consumo interno do produto no país deve recuar este ano para um patamar próximo ao registrado em 2007. No extremo oposto, as exportações siderúrgicas tendem a crescer 38,1% em 2015, na comparação com o ano passado. As estimativas foram divulgadas ontem, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Aço Brasil, que projeta vendas externas de 13,5 milhões de toneladas para 2015, concentradas principalmente no segmento de aços semiacabados.

“A queda na venda doméstica está revertendo para exportação”, resumiu Benjamin Mário Baptista Filho, presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). O direcionamento da produção para o exterior é resultado tanto da desvalorização do real frente ao dólar como da desaceleração dos principais setores que consomem a matéria-prima no Brasil. A expectativa é de um recuo de 2,2% na produção industrial, sendo que os setores automotivo, de construção civil e de máquinas e equipamentos — responsáveis por 80% do consumo de aço no país — já apresentaram forte retração em janeiro.

O instituto estima em 36,13 milhões de toneladas a produção de aço bruto no país para este ano, o que corresponde a um crescimento de 6,5% em relação ao patamar registrado em 2014. Já o consumo aparente — soma das vendas internas com a importação por distribuidores e consumidores — deve encolher 7,8%, na comparação anual, para 22,71 milhões de toneladas.

Em termos de valores, as exportações brasileiras saltariam de US$ 6,8 bilhões (2014) para US$ 8,8 bilhões (2015). Considerando o volume vendido no exterior, o aumento seria de 9,78 milhões de toneladas para 13,5 milhões no período (+38,1%). Um dos pontos favoráveis ao escoamento do aço brasileiro para o mercado externo é a desvalorização do real, o atual patamar de câmbio ainda está longe de agradar ao setor. “Apesar da desvalorização cambial que ocorreu no início do ano, ainda estamos 125% mais caros do que a cesta de moedas dos países que competem conosco no mercado internacional”, afirmou Baptista Filho. As moedas da Rússia e da Ucrânia, por exemplo, sofreram forte depreciação em 2015.

Perguntado sobre qual seria para o setor a cotação ideal do real frente ao dólar, o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, preferiu não cravar um número: “Não existe um cálculo perfeito”, desconversou, para depois acrescentar que “não ficaria envergonhado” de discutir uma taxa de câmbio de R$ 4 por dólar.

A baixa histórica nos preços do minério de ferro é outro fator que ajuda a baratear o produto globalmente, assim como o brutal excesso de capacidade das siderúrgicas. De acordo com a World Steel Association, o consumo mundial previsto para 2015 é de 1,66 bilhão de toneladas, enquanto a capacidade chega a 2,38 bilhões. A diferença — 717 milhões de toneladas — corresponde ao excesso. No Brasil, a sobra de capacidade foi de 27,4 milhões de toneladas no ano passado. “Há um excedente monumental e a revisão desse quadro não vai acontecer no curto prazo”, disse Lopes. “Grandes economias ainda não conseguiram retomar um nível de consumo que seria importante para enxugar o excesso de oferta.”

As exportações brasileiras de semiacabados (placas) ganharam impulso com o religamento do Alto-forno 3 da usina de Tubarão, pertencente à ArcelorMittal, no Espírito Santo. Operando desde julho do ano passado, o alto-forno acrescentará mais 2,5 milhões de toneladas por ano à produção siderúrgica brasileira. “Não estamos prevendo nenhum aumento de capacidade nos próximos dois a três anos”, reconheceu o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, referindo-se ao cenário nacional.

Uma das principais preocupações das siderúrgicas brasileiras é a importação de aço chinês: no ano passado, o Brasil comprou 2,1 milhões de toneladas de aço do país asiático, montante equivalente a 52% das importações do produto. “A balança comercial da indústria de transformação passou de um superávit de US$ 148 bilhões no período de 2000 a 2007, para um déficit de US$ 206 bilhões entre 2008 e 2014”, comparou Marco Polo de Mello Lopes.

Com relação ao ajuste fiscal empreendido pelo governo, Lopes considerou o esforço positivo, mas destacou que algumas medidas trazem dificuldades para o setor industrial. “O ajuste é condição básica para o crescimento do país, mas precisa de alguns níveis de correção”, argumentou.

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