Na esteira de um plano de expansão que prevê crescimento de 15% no total de lojas da rede até o fim do ano, a Óticas Carol vai investir cerca de R$ 100 milhões para ampliar mais de dez vezes o número de unidades próprias. Atualmente, a rede conta com apenas dez lojas próprias de um universo total de 747 unidades — a maioria esmagadora é de franqueados. Mesmo com o câmbio menos favorável às importações e juros mais altos, o faturamento da rede aumentou 19,3% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2014. Considerando apenas unidades abertas há mais de um ano (“mesmas lojas”), o incremento anual foi de 10,5%.
Embora na casa dos dois dígitos, os percentuais ainda estão abaixo da meta de crescimento da receita projetada para o ano: 24%. “Estamos brigando pela parcela (no orçamento do consumidor) com a geladeira, o eletroeletrônico, o perfume, o sapato...”, diz Ronaldo Pereira, presidente da Óticas Carol. Ao contrário de outros segmentos do varejo, que cortaram investimentos em função do cenário macroeconômico adverso, Pereira planeja chegar ao fim do ano com 860 lojas, um avanço de 15% em relação à base atual.
Na conta, está incluída a abertura de lojas próprias. Serão mais cem ao longo de 2015 e do próximo ano, como parte de um esforço para demonstrar o comprometimento da empresa e a solidez do modelo de negócios. “É fundamental para ter mais credibilidade junto aos franqueados, porque podem dizer a estes ‘been there, done that’ (estive lá, fiz isso)”, afirma o consultor especializado em varejo Marcelo Cherto. “(São importantes) para terem onde testar novos processos, sistemas, produtos ou serviços sem usar franqueados como cobaias, para mostrar que praticam o que pregam e liderar pelo exemplo”. Entre os mercados-alvo da expansão, Pereira lista Brasília, Manaus (AM), Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO) e Curitiba (PR). Só no interior do Rio de Janeiro o plano é de abrir 20 novas lojas.
Focada na Classe B, mas atenta aos clientes A e C+, a empresa não teme os efeitos da taxa de câmbio atual do real frente ao dólar. “Com o dólar cotado até R$ 3, a gente consegue segurar os preços. A R$ 3,50, já fica difícil mantê-los”, admite Pereira. O ticket médio da rede é de R$ 470. Apesar da desvalorização do real ante a moeda americana, a rede continuará focada em oferecer óculos de grifes internacionais a preços próximos daqueles praticados no exterior, diz o executivo. “Entre os óculos de grife, nosso modelo de entrada custa R$ 279. Cinco anos atrás, o preço era de R$ 600. O mercado não entende o que é o novo setor (ótico): volume”, justifica. Cerca de 30% do faturamento da rede vêm de óculos de sol, enquanto no mercado ótico brasileiro esta participação gira em torno de 10%.
O problema, no caso dos importados, é que a pressão do câmbio comprime a margem de lucro. Em vez de reajustar preços, a empresa vai apostar em ganhos de volume. A elevação na taxa básica de juros — por sua vez — afeta negativamente não apenas as vendas de óculos e armações, mas também o custo de abertura de novas lojas, reconhece o CEO da Óticas Carol. Nada que modifique os planos da empresa. “Já viemos de um crescimento em torno de 30% no ano passado. Comparado a isso, 24% é um downgrade (rebaixamento)”, brinca o executivo.