Por diana.dantas

Os varejistas brasileiros, mesmo aqueles de capital fechado e origem familiar, estão ampliando seus mecanismos de controle para aprimorar a governança corporativa, segundo indica um estudo com 36 empresas realizado pela KPMG. Além de ser um atrativo para potenciais investidores, a adoção de boas práticas de governança vem se popularizando para atender às demandas do fisco e, também, garantir a sobrevivência das empresas num cenário econômico desafiador, sustentam especialistas.

Na amostra pesquisada, 58% dos varejistas possuíam comitês dentro do conselho de administração, percentual inferior ao registrado entre as companhias listadas na BM&FBovespa (64%). Apesar da diferença, as empresas de varejo ouvidas demonstram maior preocupação com relação a temas como finanças (38% têm comitês específicos voltados para o assunto), recursos humanos (35%) e riscos (27%). Já no universo mais amplo das companhias listadas em bolsa, esses percentuais são de 24%, 23% e 19%, respectivamente.

“Até recentemente, as grandes redes estavam focadas no crescimento por meio de aquisições ou da abertura de novas lojas. Por isso, precisavam de muito caixa e de financiamentos”, explica Sidney Ito, sócio de Governança Corporativa e Riscos da KPMG, referindo-se à multiplicação dos comitês de finanças. As preocupações com a inadimplência e com o alto turn over (rotatividade) da mão de obra estimularam — avalia o executivo — a criação de comitês específicos entre os varejistas.

Mesmo com esses avanços, o percentual de varejistas que adotaram comitês de auditoria ficou em 27% entre os respondentes, ante um percentual de 44% registrado entre as companhias listadas.

“Temos cinco milhões de CNPJs no Brasil e 500 empresas listadas na bolsa”, compara Robert Juenemann, conselheiro de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Num escopo maior, as empresas de capital fechado estão se preocupando cada vez mais com a governança corporativa”. Entre os 36 varejistas pesquisados pela KPMG, 53% tinham capital aberto. E a maior parte das empresas ouvidas era de grande porte: 48% apresentavam faturamento entre R$ 1 bilhão e R$ 5 bilhões. Outros 17% faturaram acima de R$ 5 bilhões, de acordo com a pesquisa divulgada no Seminário de Investimentos Novarejo, organizado pelo Grupo Padrão.

No conjunto dos varejistas analisados, 67% eram de empresas familiares, o que justifica em grande parte o fato de apenas 29% dos cargos-chaves serem ocupados por gestores profissionais. “É um percentual baixo, mas em rápido crescimento. O varejo ainda está em processo de profissionalização, mas passou por um crescimento muito rápido nos últimos anos”, diz Ito, da KPMG. Um dos fatores que aceleraram a transição rumo a níveis de governança corporativa mais elevados foi a compra de participações no varejo por fundos de private equity e investidores estratégicos, que naturalmente buscam mais salvaguardas para seus investimentos.

Consultor especializado na área de varejo, Rubens Panelli atribui a melhoria, também, à necessidade das empresas de prestar informações precisas e detalhadas à Receita Federal. “Mesmo que seja uma empresa de capital fechado e não publique demonstrações contábeis, a companhia vai ter de enviar informações de forma organizada à Receita”, sustenta o sócio diretor da Panelli & Associados. Para Juenemann, do IBGC, o aumento dos controles está relacionado diretamente à gestão da informação: “Os negócios estão precisando de cada vez mais de informação. Como vamos tratar essa informação? Como buscá-la? Quem vai ter acesso?”, conclui o conselheiro, lembrando que a falta de transparência está fazendo vítimas entre as empresas investigadas pela Polícia Federal em escândalos recentes.

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