A economia está de ressaca, diz o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ao ouvir esta frase pensei: e como sair de uma ressaca? As ressacas, sejam de bebida, sejam de virada no mar, precisam de tempo para passar. E, segundo o marinheiro Levy, “temos que nos preparar, não podemos deixar o barco bater nas pedras, temos que fazer adaptações”. E, nós, consumidores, precisamos manter a cabeça fora d´água, sem nos deixar levar pela inadimplência porque os juros estão exorbitantes, e só quem ganha com juros é o banco.
Hora de fazer adaptações. O povo já está fazendo. Faz tempo que não via tantos carros com placas de vende-se na cidade e nas estradas. Eu também andei olhando quanto está valendo o meu carro para vender. O mercado está ofertado, como se diz no economês, e a tradução é que os preços estão caindo porque tem muita gente vendendo e poucos compradores.
A maior oferta de carros à venda é apenas um indício. A compra de automóveis caiu 2,1% em maio. Nas ruas vemos que há um movimento claro de descapitalização das pessoas. Muito dessas vendas de automóveis são de pessoas que não estão conseguindo pagar mais o financiamento, então é preferível passar a dívida para frente.
Mas, ouço mais pessoas comentando que vão alugar quartos para ajudar no pagamento do financiamento do imóvel. Nunca vi tanto brechó espalhado pela cidade. Tem quem esteja tentando vender seu imóvel para não cair na inadimplência. Mas quem quer sair do aluguel também encontra dificuldade. A compra de imóveis ficou mais difícil, os juros subiram e o valor exigido como entrada aumentou, o que resultou em uma queda de 29% nas concessões de crédito habitacional, em maio em relação a abril, segundo o Banco Central.
Do relatório de maio do Banco Central, na minha opinião, o mais angustiante é verificar o aumento de 2% no pedido de empréstimos consignados para aposentados. Mas também é preocupante o aumento da inadimplência em 0,8% no uso do cheque especial, cujo juros chegam a 232% ao ano, a maior taxa desde 2011. No rotativo do cartão de crédito, com juros estratosféricos de 360,6% ao ano, o aumento da inadimplência foi de 0,7% em maio.
Além do quadro de inflação alta, recessão e crédito mais caro, ainda paira o manto negro do desemprego em todos setores da economia, e mais claramente em alguns setores como da construção civil e automobilístico. O consumo, obviamente, segue esta retração.
Enquanto têm que lutar com estas ondas bravias para se manter respirando fora do mar revolto da economia, os consumidores precisam de calma para driblar os tempos difíceis. No primeiro momento, elaborar um planejamento minucioso de todos os gastos; depois fazer todos os cortes possíveis nas contas; somente fazer novos crediários se forem realmente necessários; esquecer os extras habituais; e pesquisar muito antes de comprar ou contratar um serviço. E, se for possível, negociar dívidas para diminuir juros, usando a portabilidade de crédito.
E o que fazer para recapitalizar? Existem algumas opções além de vender móveis e imóveis. Procurar um outro trabalho, diferente do que faz hoje para aumentar a renda; juntar a roupa antiga e fazer um brechó; tentar ganhar dinheiro com algum dom secreto, como costurar, cozinhar, tocar um instrumento; estudar pela internet para melhorar seus pontos fracos; formar um grupo em que cada um ensine aos outros o que sabe mais e todos aprendam (por exemplo: aulas de inglês, de programas de computador, de português, de contabilidade, de educação física). Enfim, como diz o ministro, é preciso ter criatividade, fazer adaptações.
O importante é não desanimar, e, como lembra o timoneiro Joaquim Levy, a vantagem é que a ressaca passa. Enquanto não passa, também podemos ativar nosso lado cidadão e ficar de olho no que o Congresso anda fazendo com o nosso dinheiro e, sempre que possível, nos fazer ouvir nas ruas, nas redes sociais, nas denúncias aos jornais. Eles estão tentando nos enganar dizendo que estão votando as reformas, mas o que estamos vendo é que até agora, pelo menos com relação à reforma política, tudo foi feito para deixar tudo do jeito que está.
Além dos consumidores, os empresários também vão precisar fazer todos estes trabalhos de casa. E, mais do que qualquer outro grupo, espera-se dos empresários maior dose de criatividade. E não apenas nos balanços e no pagamento de impostos, mas principalmente, adaptações e criatividade no aproveitamento melhor da mão de obra. Não apenas dar férias coletivas até o mar se acalmar. Mas pode ser criativo incentivando o estudo destes funcionários, reciclagem, troca de conhecimentos entre equipes.
É preciso investir, principalmente, na esperança das pessoas. Precisamos acreditar que vamos conseguir sair de mais esta crise. Talvez possamos aprender um pouco mais com o que vivemos desta vez. Tudo começou quando acreditamos na esperança de que o Brasil podia mudar. Demos o nosso voto de confiança em mais de um mandato. Mas erramos ao dar todo o crédito para o governo e um partido. Aprendemos que nós, cidadãos, temos que estar no leme. Temos de dizer o que queremos e o Congresso tem que atender a quem votou nele. E, para finalizar, tomo a liberdade de citar as palavras de Daisaku Ikeda, no seu livro “Nova Revolução Humana”, volume I, página 72: “O poder do povo é semelhante à força da terra que possui a energia para mover montanhas quando lança a fúria do magma e dá início aos tremores. As pessoas jamais devem se esquecer de que a fonte que direciona e transforma o rumo da sociedade ou de uma época são elas próprias”.