Por julia.sorella

Niterói - Buzinas e roncos dos motores de carros ao som de violinos e flautas. A mistura inusitada vem chamando a atenção de moradores e pedestres que passam pela Rua Coronel Moreira César, em Icaraí.

Os novos habitantes na região, uma das mais movimentadas de Icaraí, transformaram as esquinas em palcos, onde tocam de Mozart e Villa-Lobos a Luiz Gonzaga e Pixinguinha. A seleção é sempre de bom gosto. Muitos pedestres param para ouvir o show e retribuem deixando dinheiro na caixinha.

Alguns músicos integram a Orquestra de Cordas da Grota, em São Francisco, projeto que ensina, entre outras atividades, música aos moradores carentes da comunidade. Um deles é o professor de música e violinista Jorge Mendonça, de 16 anos. Todos os dias, ele e Nick de Souza, de 22 anos, podem ser vistos e ouvidos em alguma esquina de Icaraí.

Os jovens professores Jorge e Nick (que teve a ideia de ir para a rua) tocando seus violinos numa esquina da Moreira César Alexandre Vieira / Agência O Dia

A ideia de ir para as ruas foi de Nick. De férias, viu a oportunidade de continuar se apresentando e ainda ganhar um dinheirinho extra. “É muito bom levar a música para as ruas. Somos vistos e acabam aparecendo convites para apresentações. Estou precisando de outro arco para o violino e vou juntando o que ganho aqui para comprar um novo”, contou ele, que também é professor de música, violinista e violonista.

“Com o dinheiro que ganho tocando aqui, compro roupas e guardo a outra parte que sobra”, contou Jorge, sem revelar seus planos de como gastará a quantia, que é dividida igualmente entre ambos.

A poucos metros deles, o som vem da flauta de Douglas Gonçalves, de 16 anos. Aluno da Orquestra de Cordas da Grota, ele se apresenta todas as tardes. À noite, garante, vai à escola. O adolescente revelou que escolheu a flauta por ser instrumento fácil de transportar. “Fica mais tranquilo levar para a rua. Com o dinheiro que ganho, compro as coisas de que gosto e ajudo em casa”, disse ele.

Além da flauta, Douglas tem outra companhia inseparável em suas apresentações: a caixinha de papelão onde as pessoas deixam moedas e notas. Ele chega a ganhar R$ 50 por dia tocando na rua.

E diz qual é a música de trabalho. “Ganho mais quando toco ‘Asa Branca’ (Luiz Gonzaga eHumberto Teixeira)”, disse ele, já mudando o repertório para ‘Jesus, Alegria dos Homens’, de Bach.

...E o trio se formou

A dupla de violinistas Nick e Jorge se transformou em trio na segunda-feira. De passagem pela Rua Coronel Moreira César, o estudante João Augusto Martins, de 16 anos, não resistiu ao som dos músicos e acabou pegando o violão de Nick e tocando também. “Ensinei a base da música a ele, que nos acompanhou bem”, elogiou Nick, o professor.

“Ele (Nick) me deixou tocar o violão dele e eu aproveitei”, vibrou João, que acompanhou a dupla por alguns minutos. Amigo do adolescente, o estudante Ramon Peixoto, de 15, ficou de espectador. “Paramos para olhar, deixamos dinheiro na caixinha, mas o João acabou querendo tocar e ficamos mais um pouco. Temos uma banda. Acho muito legal essa iniciativa dos músicos”, disse Ramon, que toca guitarra e violão.

Quem também parou para ver e aplaudir o show dos violinistas foi a estudante Anick Bairran, de 29, e o filho Gabriel, de 4. Anick gostou tanto que depositou dinheiro na caixinha dos músicos. “É muito legal isso o que eles fazem. Dá uma harmonia ao barulho desse trânsito, que está cada dia pior. Ando a pé por aqui e paro sempre para ver. Meu filho também gosta”, contou Anick


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