Por bianca.lobianco

Rio - Cenário musical importante na década de 1980, Niterói está retomando a sua vocação rock’n’roll. Tem sido cada vez maior o número de casas dedicadas ao ritmo que atravessa gerações. Por isso, hoje, Dia Internacional do Rock, não vai faltar comemoração para os apaixonados pelo som pesado das guitarras. De Icaraí a Pendotiba, passando por Santa Rosa e pelo Gragoatá, o time de camisa preta pode encontrar diversas opções de palcos inaugurados recentemente.

Aberto há nove meses, o Mustang Rockin Casual Food, em Pendotiba, além de boa música, tem também uma “memorabília” (objetos autografados por artistas que ficam expostos) para fã de rock nenhum botar defeito. Entre as preciosidades, uma guitarra assinada pelo lendário BB King, e uma Fender 1979 com dedicatória de Frank Gambale, um dos melhores guitarristas do mudo.

Lá, o rock rola às sextas-feiras. “Tive o prazer de conhecer BB King em 2012, e o Frank Gambale já tocou aqui no Mustang”, conta Daniel Barros, de 30 anos, um dos donos do estabelecimento. Outra curiosidade do lugar é a frente de um carro Mustang na entrada do bar.

No Maria da Praia, em Piratininga, o rock fica de frente para o mar. “Fizemos uma pesquisa e descobrimos que a preferência na região era o rock. O som é a trilha sonora do nosso pôr do sol”, diz a dona do lugar, Adriana Alvarenga, de 40. Lá, o som acontece de quinta-feira a sábado.

Novos bares com ampla programação musical dão o tom da noite em várias regiões da cidade Divulgação

Referência da noite de Niterói, o Jardim Icaraí não poderia ficar fora do circuito do rock. Há seis meses, o bairro ganhou um espaço dedicado ao ritmo. É o recém-inaugurado Gold Coast Australian Pub. “Adoro pubs e conheci muitos pelo mundo. Aqui tocamos do rock pop aos clássicos”, conta o dono da casa, Irapuan Jasmin, de 36 anos.

E se os espaços crescem, os músicos aparecem. Na estrada há seis meses, a The Calangles Rock Band (na foto de capa) já tem história. O grupo é o único do Estado do Rio, mais precisamente de Niterói, que vai participar do International Beatleweek, dedicado aos Beatles, mês que vem em Liverpool, na Inglaterra.

Pela primeira vez, eles vão se apresentar no The Cavern Club, berço dos Fab Four.</CW> “Esse era um sonho de todos os integrantes da banda porque somos fãs dos Beatles. Não dá nem para descrever essa emoção”, conta a vocalista Jessica Abreu, de 32.

O grupo já tem a agenda cheia quando voltar da viagem. Um dos locais onde se apresentam é All Star Rock Bar, m Icaraí. A banda é formada também por Rodrigo Bessa, Marcio Bressan, Leandro Souto Maior, Mariana Dantas e Rodrigo Machado.

Mas o atual cenário tem dividido opiniões. Autor do livro ‘Niterói Rock Underground’, o jornalista e produtor cultural Pedro de Luna, critica a falta de espaço dedicados aos artistas locais. “O que se vê muito em Niterói são casas com bandas cover. Mas faltam espaços para as os artistas mostrarem seus trabalhos autorais”, avalia.

Luna foi o criador do Arariboia Rock, movimento que comemora 10 anos, e do projeto Sarau Alternativo, dedicados a artistas niteroienses. Para ele, os únicos lugares que ainda valorizam as bandas da cidae são o Bar do Turco, em Santa Rosa, e o Espaço Retrô, no Centro.

Já para o criador da Fluminense FM, a Maldita, o jornalista Luiz Antonio Melo, o Lam, Niterói nunca deixou a peteca, ou melhor, a guitarra cair. “A cidade é importante para o rock desde os anos 1960 e nunca deixou de ser. O que eu vejo hoje em Niterói é o rock menos ligado a lugares alternativos, como era no passado. Mas ainda temos casas legais e boas bandas surgindo”, analisa Lam, citando a banda Kapitu como referência na cidade.

DE GUITARRA ELE ENTENDE

Um dos maiores guitarristas brasileiros morou em Niterói por dois anos na década de 1980. Agora, depois de quase 30 anos, Pepeu Gomes está de volta, trazendo o rock’n’ roll da sua guitarra.O músico virtuosos é produtor artístico do Mustang Rockin Casual Food, onde costuma se apresentar de vez em quando.
“Gosto muito de Niterói. Morei aqui num tempo em que a cena do rock era muito forte, e a cidade absorvia muito bem esse ritmo. Mas, ao mesmo tempo, éramos carentes de lugares para tocar e tínhamos que ir para o Rio”, lembra o músico.

Pepeu comemora a retomada do rock na cidade e a abertura de novas casas dedicadas ao ritmo. “Esses espaços, como o Mustang, nos mostram que é possível recuperar a vibe rock’n’roll dos anos 1980 e 1990, além de serem um ponto de encontro de músicos”, analisa Pepeu.

“Niterói sempre teve esta vocação”

“Niterói viveu nos anos 1980 e 1990 um tempo musical muito produtivo, com vários espaços para shows, o que consequentemente proporcionou o surgimento de muitos artistas e bandas. Sem limitar suas programações apenas ao rock, mas abraçando o gênero de coração aberto, eram casas que fizeram história, como Duerê, Saloon & Cia., República da Banana, Mc Lennon, Piggly Voggly, Bedrock, Nó Na Madeira, Capelinha, Rock And Blues, Farinata, Alfacinha e Galeria do Poste. Teve ainda o Acorde, empreendimento que este que vos escreve teve a audácia de colocar pra frente e que durou dois anos.Mas parece que o São Dom Dom, no Gragoatá, foi o último suspiro. Um a um, todos esses espaços fecharam.

No entanto, é notável que desde o último ano, outras casas abriram. Niterói sempre teve essa vocação e sinto que há um movimento de renascimento artístico, pegando carona nos acordes do rock. Niterói precisa dessa nova onda, um tsunami. Vejo uma galera nova redescobrindo os clássicos pelos pais e essa nova onda vai influenciar os meios, os ouvintes, os artistas e os jovens de todas as idades.” 

Leandro Souto Maior, jornalista e guitarrista do Calangles Rock Band.

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