Por marina.rocha

Niterói - As promessas grandiosas para o setor naval brasileiro estão ruindo. De acordo com a prefeitura, de janeiro a maio deste ano, Niterói teve queda de 35% na arrecadação do ISS neste segmento, em relação ao mesmo período do ano passado. O número representa cerca de R$ 1,8 milhão a menos para os cofres da cidade. Além disso, pela primeira vez em 15 anos também houve queda nos empregos: 14 mil vagas foram fechadas em todo o país nos últimos seis meses. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, por aqui foram 3,5 mil demissões. 

“As obras contratadas estão terminando, sendo entregues e os estaleiros não estão recebendo novos pedidos. A previsão é que tenham novas demissões em massa”, explicou o secretário de Indústria Naval, Luiz Paulino.

Cristiano Marques quer sua carteira de trabalho de volta para dar entrada no seguro-desempregoFabio Gonçalves / Agência O Dia

Vice-presidente do estaleiro Mac Laren, Maurício Almeida adianta: “O Brasa começa a dispensar em outubro. O Cassinú também vai reduzir o quadro. No Mac Laren, começamos a trabalhar com logística para tentar manter o pessoal.”

No dia 23 de junho mil funcionários do estaleiro Eisa Petro-Um, antigo Mauá, foram demitidos. Tem ainda os 2 mil empregados que restaram do Eisa, que foram mandados para casa até segunda ordem, e ainda correm o risco de perder o ganha-pão.

Morador de São Gonçalo, o chapeador Maycon Souza Costa, de 28 anos, está entre os que já foram demitidos. Ele ganhava cerca de R$ 2,5 mil no Eisa e agora se preocupa com suas contas, da mulher e de dois filhos. Ele espera usar o dinheiro que receber da indenização para mudar de ramo. “Tem colégio para pagar, obra em casa parada, compras para fazer. Não confio mais na indústria naval. Estou pensando em montar uma serralheria perto da minha casa”, revelou.

Outro dispensado, o maçariqueiro Cristiano Marques, 27, enfrenta outro problema: sua carteira de trabalho ficou presa no Eisa. Sem o documento, ele sequer pode dar entrada no seguro-desemprego.

Secretário de Desenvolvimento Econômico, Fabiano Gonçalves diz que o cenário é preocupante uma vez que os estaleiros, além de contribuírem com o ISS, empregam diretamente 12 mil pessoas e, indiretamente, cerca de 40 mil. Com a perda de emprego dessas pessoas e, consequentemente, a queda no consumo e na economia, outros setores irão sofrer, podendo haver ainda mais demissões.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas), Charbel Tauil, o comércio é outro que vem passando por alguns apertos. De maio para junho, por exemplo, as vendas caíram cerca de 15%. “No caso das demissões dos estaleiros, os primeiros comércios afetados são os que ficam ali no entorno. A queda nas vendas, de um modo geral, acontece porque as pessoas ficam com receio de fazer dívida”, explicou.

No entanto, ele destaca que o setor é o último a demitir. Os donos das lojas antecipam promoções, mas o número de funcionários normalmente é mantido. Prova disso, o Plaza Shopping está com 80 vagas de emprego abertas. Tem opção para vendedores, caixas, auxiliares e gerentes nas lojas Burguer King, Colombo, Corpo & Alma, Mr. Cat, Via Mia, Maria Filó, Granado, Imaginarium e Hering. Os interessados devem entregar o currículo pessoalmente nas lojas de interesse ou no SAC do shopping.

Burocracia atrasa seguro-desemprego

A taxa de desemprego no Brasil saltou de 4,9% em maio de 2014 para 6,7% em maio deste ano. Fora do mercado de trabalho há quatro meses, Evelyn Soares, de 31 anos, deu entrada no seguro-desemprego no dia 2 de abril, mas por problemas burocráticos ainda não recebeu nada. “Sempre fica faltando alguma coisa”, disse ela.

Para pedir o seguro-desemprego pela primeira vez, o período mínimo de trabalho exigido é de 18 meses. Na segunda vez, é preciso ter 12 meses de carteira assinada. E a partir da terceira, é possível ganhar o benefício após seis meses de trabalho. Têm direito os trabalhadores que foram demitidos sem justa causa. As parcelas variam de três a cinco meses. O atendimento para dar entrada no benefício deve ser agendado na página saaweb.mte.gov.br/inter/saa/pages/agendamento/main.seam.

Américo Diniz é coordenador do Sebrae Leste-FluminensePaulo Araújo / Agência O Dia

Na data escolhida, o requerente deve ter em mãos: identificação com foto, CPF, PIS, carteira de trabalho, comprovante de saque do FGTS, termo de rescisão de trabalho e duas guias do seguro desemprego (entregues pela empresa). Outras informações pelo telefone 2332-6699.

Entrevista com Américo Diniz, coordenador do Sebrae Leste-Fluminense

O aumento pela procura de legalização de empresas cresceu 10% no Leste Fluminense nos últimos dois meses. O setor de beleza é o que lidera. De acordo com o coordenador da região, Américo Diniz, abrir um negócio próprio pode ser uma solução viável em momento de crise, mas é preciso se preparar.

Qual é o risco de abrir um negócio no impulso?
R: Muitas pessoas abrem um negócio porque têm um sonho e não fazem pesquisa de mercado. Às vezes abrem um negócio no local errado ou em um momento em que o mercado não demanda aquele serviço. Não é tão simples. Tem que pesquisar, planejar, estudar, se profissionalizar, entender de gestão, marketing e vendas. Sem isso é grande a chance da empresa fechar as portas.

Quais são as vantagens de ter um MEI?
R: Ter um CNPJ permite ao microempreendedor negociar com outras empresas e com o governo; aumenta sua base de clientes, reduz o custo de contratação de funcionários, permite a abertura de conta bancária empresarial e inclusive a tomada de empréstimos. O Sebrae está aberto para explicar o processo para os interessados. Basta agendar uma hora pelo 0800 570 0800. O atendimento é gratuito.

Qual o seu conselho para os microempresários?
R: O momento é de crise, é hora de se reestruturar, olhar internamente, rever processos e se preparar para 2016. Tem que se capacitar.

Reportagem de Marina Rocha

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