Professor Daniel Stariolo: pesquisa sobre covid-19 em Niterói - Divulgação
Professor Daniel Stariolo: pesquisa sobre covid-19 em NiteróiDivulgação
Por O Dia

A Prefeitura de Niterói tem tomado todas as ações possíveis no combate ao novo coronavírus. Ao escolher o caminho da ciência, o município ganhou como aliado o professor Daniel Stariolo, vice-diretor do Departamento de Física da UFF. Recentemente, ele desenvolveu o estudo intitulado 'COVID-19 in air suspensions', na tradução, 'COVID-19 em suspensões pneumáticas', com o intuito de compreender como o vírus se move no ar e os impactos em sua transmissão.

"Do ponto de vista matemático, a pesquisa fornece uma estimativa que responde quanto tempo o vírus pode permanecer suspenso no ar em um ambiente fechado, e qual o seu alcance antes de ser depositado no chão ou em alguma outra superfície", explicou Daniel.

Radicado no Brasil há 30 anos, o professor inciou o projeto em março com a missão de usar a aplicação da física no combate ao coronavírus. Focado no estudo, começou a analisar os primeiros resultados. A pesquisa demonstra que as gotículas maiores (saliva, tosse ou espirro), embora caiam no chão rapidamente, podem chegar a uma distância horizontal de um a três metros do local do emissor, alinhado com as recomendações da OMS sobre o respeito a distância mínima de dois metros entre as pessoas em locais públicos.

Já os resultados mais interessantes dizem respeito ao que acontece com as microgotículas. "Essas conclusões só foram possíveis através de estudos das gotículas de saliva maiores, perceptíveis a olho nu. Ao descobrir a velocidade com que elas saem da boca, além da altura, é possível predizer a trajetória dessas bolinhas usando as equações da Mecânica clássica Newtoniana, um dos pilares do nosso conhecimento científico sobre o movimento dos corpos", disse.

Outro ponto analisado é que os vírus suspensos isoladamente podem ficar no ar por mais de um mês, de acordo com os recentes resultados experimentais sobre a estabilidade do vírus na atmosfera. Isso mostra como uma pessoa contaminada desprotegida pode ser potencialmente mais perigosa para pessoas saudáveis que respiram ao redor. Segundo Daniel, esse tempo pode durar até 15 horas.

"Empregamos um modelo de movimento em um meio viscoso que detectou que, desde que o ambiente não tenha correntes fortes de ar, as gotículas pequenas, que são muito mais numerosas do que as grandes, podem permanecer por horas suspensas no ar. Os cálculos predizem que o tempo varia desde alguns minutos até mais de 15 horas".

Nova rotina

Os dias de quarentena de Daniel Stariolo têm sido desgastantes. Focado no projeto, ele ainda desenvolve pesquisas em outros dois estudos. Em home office, mantém contato com alunos da graduação, dando suporte e repassando conteúdo curricular enquanto o ciclo letivo está suspenso.

Ele ainda orienta alunos de Iniciação Científica na graduação e doutorado. Como vice-diretor do Instituto de Física da UFF, o professor tem uma série de tarefas administrativas e organizacionais. E não para por aí.

"Já estamos começando a planejar como será o futuro do Instituto quando o pior da pandemia passar. Além disso, tenho uma família e divido tarefas domésticas como qualquer um. Tem sido um cotidiano bem intenso, mas é gratificante", disse Daniel Stariolo.

Apaixonado pela profissão, ele encontrou um incentivo de estudar o comportamento de transmissão do coronavírus através dos conhecimentos como professor e pesquisador da área de Física durante a pandemia.

"Embora estejamos em um contexto difícil, minha vontade continua sendo participar dessa construção coletiva do conhecimento".

Reflexos no sistema nervoso
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Um estudo do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) em parceria com a Fiocruz, intitulado "New Coronavirus and the Nervous System: Should Neurologists Be Concerned?" (em português, Novo Coronavírus e o Sistema Nervoso: os neurologistas devem se preocupar?), analisa o perfil neurológico dos pacientes infectados pela Covid-19 e observa como o vírus pode comprometer o sistema nervoso. O objetivo é orientar os profissionais da saúde sobre os protocolos clínicos adequados. Os principais impactos neurológicos observados em pacientes infectados são a encefalite, a encefalomielite e crises convulsivas, além da diminuição do nível de consciência, em alguns casos. Tais problemas podem apresentar alto índice de mortalidade e causar graves sequelas. Ainda que os desdobramentos neurológicos em pacientes com coronavírus representem um número menor de casos, também há evidências de maiores riscos de ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC) durante a doença.
Marcus Tulius Silva, neurologista do CHN e um dos autores do estudo, explica como o microrganismo pode chegar ao cérebro: "O vírus invade o organismo através de uma célula receptora com a qual apresenta alta afinidade. Ainda que a infecção seja primordialmente respiratória, os receptores por onde acontece a invasão são encontrados em todo o organismo, inclusive no tecido cerebral. Por isso, é necessário que os neurologistas também estejam muito atentos, além dos demais especialistas".
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O estudo também traça dados comparativos entre a pandemia da Covid-19 e os desdobramentos neurológicos observados na epidemia de SARS, ocorrida em 2002, também causada por um tipo de coronavírus. Em 2005, no final da epidemia, especialistas realizaram autópsias em oito pacientes infectados pelo SARS e observaram que todos apresentavam vestígios do vírus no tecido cerebral. "Novas informações a respeito dos efeitos do novo coronavírus no organismo são constantes, mas já se sabe que não se trata de uma simples infecção respiratória inofensiva. Portanto, medidas de prevenção propostas pela OMS e pelo Ministério da Saúde, como o isolamento social, o uso de máscaras de proteção e a higienização regular das mãos, devem ser adotadas amplamente para frear a curva de propagação do vírus", conclui Dr. Marcus Tulius.
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