Thiago Cunha: 'Essa é uma doença muito perigosa, de um vírus muito agressivo. Não arrisquem, pois não é brincadeira' - Arquivo pessoal
Thiago Cunha: 'Essa é uma doença muito perigosa, de um vírus muito agressivo. Não arrisquem, pois não é brincadeira'Arquivo pessoal
Por Irma Lasmar
Niterói - Com sintomas diferentes entre si e ainda incertos das possibilidades de diagnóstico, o músico Thiago Cunha e sua esposa Karine Feijó contraíram o novo coronavírus no inicio de março, quando as características e a devastação da doença ainda eram cuidadosamente delineadas pelos infectologistas. O casal, hoje curado, está entre os primeiros casos de Covid-19 em Niterói. "Antes via números, hoje vejo rostos conhecidos morrendo", lamenta ele.
Segundo Thiago, a contaminação pode ter ocorrido quando, às vésperas de se recolher em isolamento domiciliar com a família, fez seu último show em uma casa noturna da Lapa, bairro boêmio e turístico da cidade do Rio de Janeiro que, como de costume, estava lotado de frequentadores. Precisou também, na sequência, ir até outro bar para receber o pagamento por uma apresentação musical realizada anteriormente. Em todos os deslocamentos, esbarrou em muitas pessoas, inclusive estrangeiros. A situação, comum e inocente em quaisquer outros tempos, talvez tenha sido diferente naquela noite.
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A esposa, Karine Feijó, 33 anos, manifestou sintomas da doença antes do marido: teve febre alta e tosse, perdeu temporariamente o olfato e o paladar, e sentia uma forte dor nos olhos - relatos semelhantes a de muitos pacientes com testagem positiva. Thiago a levou a um hospital particular da cidade, onde a médica plantonista examinou ambos, fazendo inclusive uma radiografia do tórax (que não apontou problemas), e os dispensou, receitando para Karine um antitérmico e um xarope.
"A médica me disse que havia grande chance de eu ter o coronavírus, mas os materiais de testes específicos eram poucos e estavam restritos a pacientes graves do grupo de risco, como idosos e portadores de patologias preexistentes", relembra. 
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Os sintomas do músico apareceram em seguida, porém foram mais graves.
"Quatro dias depois de irmos ao hospital, piorei. Não consegui fazer os exercícios físicos habituais da minha rotina. Senti dores nas panturrilhas, no fundo dos olhos e na região lombar, parecendo com cálculo renal, além de falta de ar e uma pressão na nuca semelhante a quem leva uma pancada na cabeça", descreve o músico, cuja tosse evoluiu tanto que chegou a cuspir sangue. "Retornamos ao mesmo hospital e desta vez fui isolado e internado, permanecendo dois dias na UTI e outros dois no quarto, e recebendo alta com prescrição de dois antibióticos tão fortes que abriram feridas na minha boca".
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Em menos de uma semana, de uma radiografia para outra, 70% do pulmão esquerdo de Thiago foi contaminado pelo novo vírus. Realizado o teste para coronavírus nesta ocasião em que foi hospitalizado, o resultado positivo saiu somente vinte dias depois - quando já estava a salvo. 
"Só eu sei o que passei naquele hospital e as dores que senti. Foram dias horrorosos. Não desejo para ninguém essa experiência. Essa é uma doença muito perigosa, de um vírus muito agressivo. Não arrisquem, pois não é brincadeira. Fiquem em casa. Respeitem a quarentena para vencermos o coronavírus", assegura ele.
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A possibilidade de contaminação pela filha do casal, Liz, de 3, que dorme no quarto dos pais, é uma suspeita até hoje. Na época, a menina manifestou uma gripe leve, precedida de rápida febre, o que a pediatra não considerou grave, receitando apenas um xarope. Como ela não desenvolveu mais sintomas, não foi testada para a Covid-19.
Sem voltar aos palcos devido à pandemia que ainda perdura no país e no mundo, Thiago Cunha se preocupa com a situação econômica da classe artística, que depende diretamente dos shows para sobreviver. Contudo, pensa positivo. "Minha profissão foi a primeira a parar e provavelmente será a última a voltar a trabalhar, pois envolve plateia em número significativo dentro de ambiente fechado. Mas, vida que segue; isso vai passar", persevera o músico.
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