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Por Bernardo Costa
Publicado 22/05/2020 00:00 | Atualizado 22/05/2020 16:44

A relação com Niterói do baterista e percussionista Chico Batera, de 77 anos, começou em Copacabana. Mais precisamente no Beco das Garrafas, na Rua Duvivier, onde, no começo dos anos 1960, um grupo de artistas promovia jam sessions que deram origem a uma nova estética musical: o samba-jazz, a vertente instrumental da bossa nova. Ali, os primeiros a acolhê-lo foram os niteroienses Sérgio Mendes, hoje pianista de renome internacional, e o contrabaixista Tião Neto, que cruzavam a ponte para viver a efervescência cultural da Zona Sul carioca daqueles tempos. Essas e outras histórias fazem parte do depoimento de Chico Batera, gravado em vídeo que a Sala Nelson Pereira dos Santos coloca no ar amanhã, às 20h, em suas redes sociais.

O cineasta Nelson Pereira dos Santos, aliás, que batiza o equipamento cultural de Niterói, situado em São Domingos, era outro morador da cidade que marcava presença no Beco das Garrafas. Pioneiro do Cinema Novo, autor de clássicos como 'Rio, Zona Norte' (1957) e 'Vidas Secas' (1963), ele acompanhava Sérgio Mendes e Tião Neto nas incursões a Copacabana. 

Chico Batera ao fundo em show do Chico BuarqueDivulgação

"O Sérgio Mendes que me lembrou ao telefone, recentemente, que o Nelson batia ponto por lá. Recordo que os cineastas Glauber Rocha e Leon Hirszman também iam, assim como o pessoal das artes plásticas. Foi uma fase de muita riqueza cultural, que teve fim com o golpe militar de 1964. Os artistas passaram a ser mal vistos e foram reprimidos, o mesmo filme que estamos vendo se repetir hoje", lembra Chico Batera, que tem sete discos solo gravados e inúmeras participações em shows e álbuns de artistas como Elis Regina, Tom Jobim, Chico Buarque, Frank Sinatra, The Doors, Michel Legrand e Ella Fitzgerald.  

Na época do Beco, Chico Batera, que foi criado em Madureira, morava na Ilha do Governador. A chegada a Niterói, onde vive há mais de 30 anos, se deu por sugestão do cantor e compositor Djavan, no fim dos anos 1980. 

"Na época, eu estava insatisfeito no Rio. Tinha um estúdio em Botafogo e decidi vendê-lo. O Djavan gravava lá e me ofereceu que ficasse num sítio que ele tinha em Itaipuaçu. Disse que eu poderia ficar lá o tempo que quisesse, só precisava pagar o caseiro. Com o dinheiro da venda do estúdio, comprei um terreno e construí a casa em que vivo até hoje, em Itaipu", lembra. 

Ainda nos anos 1960 e 1970, Chico Batera fez parte do seleto grupo de músicos que sedimentou a bossa nova no mundo, em shows pelos Estados Unidos e Europa.

Em isolamento social, estudo musical e gastronômico
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Ao lado de Frank Sinatra e Tom Jobim
No fundo, à esquerda, Chico Batera em show com o Sérgio Mendes Trio, na boate de Shelly ManneReprodução
Na temporada nos EUA , Chico Batera fez uma excursão com Sérgio Mendes por universidades, em 1965. Na ocasião, tocou na boate do baterista Shelly Manne, um dos grande nomes do cool jazz:
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"Ele ficava na primeira fila me olhando o tempo todo. Queria pegar o ritmo da bossa".
Ainda nos EUA , Batera gravou trilhas sonoras de filmes hollywoodianos ao lado de Michel Legrand e Dave Grusin. E participou do LP 'Sinatra and Company', o segundo disco de Frank Sinatra com Tom Jobim.
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"Após a gravação, liguei para a minha mãe para contar a novidade. Ela adorava o Sinatra".
De volta ao Brasil, Chico Batera ingressou na banda de Chico Buarque, em 1974, na qual permanece até hoje. O último show que fizeram juntos foi na turnê Caravanas, de 2018.

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