Em campos de várzeas pelo Brasil afora é comum encontrar crianças com o mesmo objetivo: tornar-se jogador de futebol e poder dar uma vida confortável aos familiares. Foi este o sonho de Ibson Barreto da Silva, que começou a escrever sua história nos gramados após os primeiros chutes nas peladas do bairro Santa Catarina, em São Gonçalo, onde o craque, campeão brasileiro pelo Flamengo em 2009, deu início à trajetória no esporte.
Nascido em Niterói, mas criado em São Gonçalo, onde morou com a família na Rua Doutor Getúlio Vargas, Ibson, hoje com 36 anos, ostenta um currículo de sucesso. No futebol profissional, iniciou carreira no Flamengo, o clube do coração, e teve passagens por times de destaque no Brasil e no exterior, como o Santos, o Porto, de Portugal, o Spartak de Moscou, da Rússia, o Bologna, da Itália, e o Minessota, dos Estados Unidos. Atualmente, está no Tombense, no interior de Minas Gerais.
Além do Campeonato Brasileiro, a maior competição do país, conquistada na última rodada após vitória sobre o Grêmio, no Maracanã, outro título de destaque na carreira do atleta foi o da Liga Portuguesa, em 2005. No entanto, até levantar os canecos de campeão diante da aclamação da torcida, foi preciso vencer as dificuldades.
E elas começaram nas peneiras do Clube Mauá, agremiação tradicional de São Gonçalo, localizada no bairro Estrela do Norte. Foi ali que o talento de Ibson, aos 6 anos de idade, começou a chamar a atenção nos treinos e competições. Especialmente do seu primeiro treinador, Miroca, que, por sorte, era também olheiro do Flamengo naquele tempo.
Três anos depois, quando Ibson tinha 9 anos, Miroca conseguiu que o jovem, que já tinha pensado em desistir do sonho de ser profissional, fizesse seu primeiro teste na sede do Flamengo, na Gávea, na Zona Sul do Rio. Quem recorda o momento é o pai de Ibson e seu maior incentivador, Lais Silva. Segundo ele, bastaram poucos minutos para que o filho fosse aprovado.
"Na época, o treinador Delson, das categorias do pré-mirim, viu Ibson jogando e, dez minutos depois, me procurou para dizer que queria ele no time, que meu filho estava aprovado", lembra o pai do jogador.
Com o primeiro objetivo conquistado, Ibson teria mais um adversário pela frente: a distância da sua casa, em São Gonçalo, até o campo da Gávea, local que passaria a frequentar diariamente até se profissionalizar. Para vencer os 32,5 km, era preciso pegar três ônibus. Isso quando o pai não poderia levá-lo, de carro.
"Meu pai tinha um gol velho, me levava até o Flamengo e ainda dava carona para alguns amigos de São Gonçalo. Bons tempos. Sem ele, eu não conseguiria. Meu pai é o meu herói", diz Ibson, que hoje mora na cidade de Tombo, em Minas Gerais, com a mulher e dois filhos.
O pai retribui: "Com o talento fora do normal, ele venceu todas as dificuldades. Hoje, nosso sentimento é de vitória. Se ele é realizado, imagina eu", disse Lais.
Primeiro salário
Algo que não sai da memória de Ibson é o primeiro salário no Flamengo. O valor, de R$ 500, foi integralmente dado à família para ajudar nas despesas de casa. "Lembro como se fosse hoje. Sempre quis retribuir tudo que fizeram por mim", diz Ibson.
Apoio que, segundo o pai do jogador, hoje um exemplo para os jovens de São Gonçalo, ainda persiste: "Ele sempre nos ajudou muito. E continua ajudando até hoje".
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